Instituído no ano de 1988 pela Organização Mundial de Saúde (OMS), o Dia Mundial de Luta Contra a Aids é comemorado no dia 01 de dezembro, visando alertar para a necessidade da prevenção e da promoção do conhecimento sobre o vírus da imunodeficiência humana e a doença da Síndrome de Imunodeficiência Adquirida. No Brasil, cerca de 920 mil pessoas vivem com o HIV (sigla do vírus em inglês) atualmente, de acordo com dados do Boletim Epidemiológico HIV/Aids 2020 do Ministério da Saúde.
O documento também aponta que deste quantitativo, 77% das pessoas fazem tratamento com antirretrovirais e 94% das pessoas em tratamento já não transmitem mais o vírus por via sexual por terem atingido carga viral indetectável. No ano de 2019, foram diagnosticados no país 41.919 novos casos de HIV e 37.308 casos de Aids. Em Juiz de Fora, neste ano foram detectados 89 casos de HIV até setembro, de acordo com dados da Secretaria de Saúde da Prefeitura Municipal/PJF.
Para o médico e professor da Faculdade de Medicina da UFJF, Ronald Kleinsorge, é importante destacar que a maioria desses diagnósticos acontecem na fase em que os pacientes ainda não estão doentes. “Estas pessoas não possuem Aids, sendo somente portadoras do vírus do HIV. Isso causa um impacto muito grande na redução do contágio do vírus, cortando anos de transmissão em que a pessoa iria ficar positiva e transmitindo”, aponta.
“Testar é primordial”
No senso comum, pode existir uma noção errônea de que uma pessoa que vive com o vírus do HIV também possui automaticamente Aids. Entretanto, com a detecção precoce do vírus e com os devidos tratamentos com antirretrovirais, é possível que os pacientes tenham uma vida praticamente normal aos que não foram acometidos pelo vírus. Desta forma, os pacientes já com Aids estão em um estágio mais avançado da doença, com o sistema imunológico do organismo fragilizado.
Kleinsorge aponta que os casos novos possuem diagnósticos bastante diversos, sendo mais comum a procura da testagem após um contato sexual com alguém que descobriu possuir o vírus. “Muitos desses pacientes fazem o diagnóstico no programa municipal de AIDS, com o teste rápido. Sendo assim, o resultado é disponibilizado no mesmo dia, com o paciente conseguindo ser atendido, marcar exames e coletar os medicamentos já num momento inicial”, conclui.
O médico também aponta que é importante destacar a qualidade e vanguarda do Brasil na disponibilização do acesso ao tratamento e diagnóstico de doenças sexualmente transmissíveis. “O Governo disponibiliza medicamentos que são de primeira linha no mundo inteiro. Há um contínuo progresso na ciência, e os atuais medicamentos garantem qualidade de vida a longo prazo às pessoas que vivem com o vírus, com um esforço muito grande do Estado para facilitar o tratamento de novos casos”, indica.
Avanços no combate à Aids
Na mesma semana em que é comemorado o Dia Mundial de Combate à Aids, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou um novo tratamento para o HIV, com um único comprimido que apresenta a combinação de duas substâncias: lamivudina e dolutegravir sódico. O medicamento pode ser prescrito para o tratamento do vírus em pacientes com mais de 12 anos e ao menos 40kg. Kleinsorge define o novo medicamento como uma grande conquista da medicina.
“O benefício deste novo medicamento é fantástico. Hoje uma pessoa muito bem controlada nunca vai ter Aids. Uma mulher muito bem controlada pode gestar uma criança e não contaminá-la. Uma pessoa com índices de carga viral muito bem controlados pode ter relação sexual com outra – desprotegida – e não contaminar a pessoa. Ainda assim, não devemos encarar como uma banalização do vírus, de maneira que a prevenção ainda é primordial”, explica o professor.
Outros dois medicamentos recentemente implantados são aliados muito importantes no combate ao vírus do HIV. A Profilaxia Pré-Exposição (PrEP) consiste na ingestão diária de um comprimido que permite ao organismo estar preparado para enfrentar um possível contato com o HIV, sendo majoritariamente indicado a alguns grupos mais vulneráveis, tais como homens que fazem sexo com homens, pessoas trans e trabalhadores(as) do sexo. Além disso, existe a PEP, Profilaxia Pós-Exposição ao HIV, uma medida de prevenção de urgência utilizada após uma possível situação de exposição ao vírus, devendo ser iniciada o mais rápido possível, preferencialmente nas primeiras 2 horas após a exposição e no máximo em até 72 horas. Todos os medicamentos e testes são oferecidos gratuitamente pelo SUS.
https://www.instagram.com/p/CW8-8IappON/?utm_medium=copy_linkPodcast sobre HIV e Aids
No final do ano de 2019, o episódio “HIV e Aids” do podcast “Encontros A3” contou com a participação de Girlene Alves, atual vice-reitora da UFJF. Com o intuito de desestigmatizar a infecção e a síndrome provocada pelo vírus do HIV, o programa inclui diversas informações pertinentes ao assunto, tais como dados importantes sobre transmissão, tratamento e prevenção. A pesquisadora, que também é professora titular da faculdade de Enfermagem, discursou à época sobre os estigmas e preconceitos relacionados ao vírus do HIV e suas consequências na sociedade.
“Ter somente a informação não vai garantir que você não esteja vulnerável ao vírus do HIV. Daí a importância em se pensar em estratégias que passam pelo campo da saúde, como testagem, uso de camisinha, de medicamentos… Mas também é preciso trabalhar um componente que é comportamental. No caso do HIV, precisamos pensar em políticas que enfrentem o racismo e a LGBTfobia. Se não trabalharmos o acesso desses usuários ao sistema de saúde, certamente estamos deixando uma população muito mais vulnerável”, explica Girlene no episódio.
Da mesma maneira, a pesquisadora também discutiu sobre a importância do Estado na atuação em campanhas informativas. “Não adianta chegar numa escola, falar da importância do uso da camisinha para adolescentes que estão se descobrindo e eles não terem acesso ao preservativo. Estamos falando de uma população que 70% dela só possui acesso à saúde porque o SUS existe”, aponta.