A história de Minas Gerais não pode ser contada sem antes dedicar alguns capítulos sobre o leite. Os livros de história nacional contam que durante o período da República Oligárquica houve um fenômeno político chamado de “Política do Café com Leite”, uma referência à alternância de poder entre paulistas oligarcas da produção cafeeira e mineiros representantes da oligarquia leiteira. Tal fato ilustra a dimensão da representatividade do estado quando se trata da produção de lácteos.
Essa característica perdura até os dias atuais. Minas é o maior produtor de leite do país. Segundo dados do IBGE, em 2019 foram 9,4 bilhões de litros produzidos, representando 27,1% do total nacional. A fama ultrapassa os limites do país quando se trata dos queijos mineiros artesanais, considerados patrimônio imaterial brasileiro desde 2008 pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e renomados internacionalmente.
Visando a interação entre o conhecimento comum e o científico sobre o leite, o Núcleo de Valorização dos Produtos Lácteos na Alimentação Humana (Nuvlac), um projeto da Universidade Federal de Juiz de Fora, oferece à toda comunidade conteúdos atuais, relevantes e embasados sobre os lácteos e seus derivados. De artigos científicos a receitas saudáveis baseadas no leite, a página do projeto tem uma linguagem acessível e de fácil entendimento.
Tatiana Gomes, geógrafa formada pela UFJF e mestre em Ciência e Tecnologia do Leite e Derivados também pela Universidade, é consultora da Agência de Inovação de Leite e Derivados que dá suporte na execução das ações do Núcleo. O Nuvlac, em atuação desde 2012, é coordenado pelo professor do departamento de Nutrição da UFJF, Paulo Henrique Fonseca. O grupo trabalha de forma multidisciplinar, agregando conteúdo e conectando pessoas em busca de conhecimento e esclarecimento de dúvidas sobre o consumo de lácteos.
Leite e ciência
O retorno dado à comunidade sobre a produção do conhecimento na Universidade é uma das razões da existência do Núcleo. O Nuvlac se compromete a divulgar somente informações comprovadas cientificamente. Fonseca pondera que há na Internet muitas informações errôneas sobre o consumo de lácteos. O Núcleo se coloca como referência para sanar as dúvidas sobre o assunto com informações baseadas em pesquisas. “Outro destaque é a linguagem. Os pesquisadores que compõem a equipe do projeto sempre buscam evitar termos científicos específicos da área, procurando facilitar a comunicação para que todos os interessados possam compreender os conteúdos abordados pelo Nuvlac.”
A página do grupo possui uma biblioteca virtual e gratuita com dezenas de artigos científicos sobre diversos assuntos, como o papel do leite no sistema imunológico, as proteínas contidas no soro do leite e o consumo de lácteos na infância e adolescência. Conjuntamente, há ainda uma seção de perguntas dos leitores respondidas pelos membros do grupo, em um canal direto entre a comunidade e o conhecimento acadêmico simplificado, além de uma caixa para envio de outras dúvidas.
Minas dos Leites Gerais
O projeto Minas dos Leites Gerais, que também já foi um projeto de extensão da UFJF, veio a enriquecer as ações do Nuvlac. Executado por pesquisadores da UFJF em parceria com o Instituto de Laticínios Cândido Tostes, o projeto abordou as características das regiões produtoras de queijos artesanais em Minas Gerais, que são: Serra da Canastra, Cerrado Mineiro, Triângulo Mineiro, Serra do Salitre, Araxá, Serro, Campos das Vertentes e Serras de Ibitipoca. Luís Ângelo Aracri, do departamento de Geociências da UFJF, foi um dos responsáveis pelo mapeamento da produção deste derivado do leite com características da região e de seu produto, numa simbiose entre o conhecimento geográfico e nutricional.
“A produção de queijos artesanais, as características geográficas e históricas das regiões de Minas Gerais possuem uma relação muito estreita. O estado possui um conjunto de fatores únicos para a produção dos queijos artesanais”, explicou Tatiana. Essa especificidade de cada região na produção dos queijos se dá, além das características climáticas e de biodiversidade, pela tradição dos moradores no conhecimento prático que se mantém conservado por gerações de produtores. “Quando se trata de queijos artesanais em Minas Gerais, o espaço importa”, complementou.
Outras informações:
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