A professora da Faculdade de Letras (Fale) da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Prisca Agustoni, ficou entre as cinco finalistas do Prêmio Jabuti deste ano, na categoria Poesia. A obra “O mundo mutilado”, publicada pela editora Quelônio, reúne poemas em torno das migrações, sobretudo na Europa e a partir de 2013, e está conectada aos temas da diáspora negra, das imigrações para as Américas e dos deslocamentos, com reflexos na linguagem e na percepção artística.
“Falo da condição de milhões de imigrantes que tentam cruzar as fronteiras. Todos os dias, desde o começo dos anos 90, barcos saem das costas africanas, via Mar Mediterrâneo, com a tentativa de ancorar na costa europeia. Muitos deles afundam. Existe um verdadeiro cemitério marinho que recebe esses corpos. E a maioria deles são negros ou árabes”, ressalta Prisca, que é nascida na Suíça, mas vive no Brasil desde 2002 e é professora de Literatura Italiana e Comparada na UFJF desde 2008.
“O mundo mutilado” apresenta 53 poemas, divididos em seis partes: “A fera”; “Gente que parte”; “Antilíngua”; “Memória do inferno;, “Rosa dos Ventos”; e “Novo ensaio sobre a chegada”. Para compor a obra, Prisca teve influência de artistas e pensadores como Bertold Brecht; Mariella Mehr; Agota Kristoff; Sylvia Plath; Pier Paolo Pasoloni; Aimé Césaire; Dany Laferrière; e Walter Benjamin. “O livro nasceu em um momento particularmente doloroso, em que estávamos todos isolados e com as fronteiras mais fechadas ainda por questões sanitárias. Apesar disso tudo, o que me alegrou bastante foi estar, pela primeira vez, em uma lista de finalistas do Prêmio Jabuti com outras quatro mulheres. Isso representa uma virada histórica: a presença de literatura escrita por mulheres”, comemora, completando que Maria Lúcia Alvim foi anunciada como a grande vencedora na categoria Poesia em evento realizado na última quinta-feira, dia 25. A poeta e artista visual falecida em fevereiro de 2021 residiu em Juiz de Fora em seus últimos anos de vida.
Prêmio Jabuti
O Jabuti é a mais tradicional premiação literária do Brasil, concedida pela Câmara Brasileira do Livro (CBL). Criado em 1959, foi idealizado por Edgard Cavalheiro quando este presidia a CBL com o intuito de premiar autores, editores, ilustradores, gráficos e livreiros que se destacaram a cada ano. Em 2021, a personalidade homenageada pelo Prêmio será Ignácio de Loyola Brandão, contista, romancista, jornalista e membro da Academia Brasileira de Letras (ABL), agraciado com quatro Jabutis ao longo de sua trajetória.