Quinze alunos da Universidade Federal de Juiz Fora (UFJF) tiveram suas produções selecionadas para participar da Mostra Competitiva Regional do Primeiro Plano, Festival de Cinema de Juiz de Fora e Mercocidades. O festival está na 20ª edição, com 53 filmes, sendo 23 da Mostra Competitiva Mercocidades e 28 da Mostra Competitiva Regional, produção desenvolvida por estudantes da Zona da Mata de Minas Gerais. 

O festival acontecerá entre os dias 6 e 11 de dezembro de forma remota, com a temática “A Tempo”. A ideia por trás da temática é refletir sobre o cinema e audiovisual brasileiro e mostrar que ainda pode ser salvo mesmo em meio a diversas adversidades. 

A proposta do tema deste ano é pensar sobre os acontecimentos da cultura, do audiovisual e do cinema no Brasil nesses últimos anos, como por exemplo o incêndio na Cinemateca brasileira em São Paulo ou a retirada dos cartazes do cinema brasileiro da Ancine. Assim como todo o sucateamento e o desmonte da Cultura. A nossa ideia é  pensar que ainda há tempo para salvar. Ainda temos tempo para conseguir olhar e poder fazer algo para  manter isso que a gente tem. É uma forma de a gente olhar para essas coisas que ainda estão aqui, que fazem parte do nosso passado e que são importantes também para nosso futuro,” ressalta a integrante da comissão organizadora do Primeiro Plano, Marília Lima.

“Se eu tivesse um coração”

Formado em Jornalismo pela UFJF, Gabriel Duarte atualmente cursa pós-graduação em Artes, Cultura e Linguagens, atuando na linha de pesquisa em Cinema e Audiovisual. Está concorrendo no Primeiro Plano com o curta-metragem “Se eu tivesse um coração”. 

O filme gira em torno de mãe e filha assombradas por uma espécie de mal-estar constante, que nunca toma uma forma única. Duarte conta que o título do filme é a tradução de uma música da cantora sueca Fever Ray e tenta canalizar o sentimento de tristeza expresso na produção. “A história do curta tange questões de maternidade e depressão, e do atrito gerado quando as duas se chocam. Durante a concepção do roteiro, li vários relatos de mães que sofreram depressão, não necessariamente no período pós-parto, e o sentimento de culpa por não estarem felizes parecia uma constante. O título foi uma tentativa de já deixar essa angústia expressa.”

O filme foi realizado como trabalho de conclusão de curso de Jornalismo sob orientação do professor Nilson Alvarenga. Foi também dentro da Faculdade de Comunicação que surgiu a paixão de Duarte pelo cinema e, consequentemente, o desejo de produzir filmes.

“Meu contato com o cinema em Juiz de Fora, seja na Universidade ou no próprio Primeiro Plano me levou a querer criar filmes. Entrei na Faculdade de Jornalismo por uma afinidade com a escrita, mas ao longo da graduação fui me aproximando cada vez mais do audiovisual. Sendo do interior, a ideia de fazer cinema sempre me soou como algo muito distante, mas essa percepção mudou com o tempo. Sempre gostei muito de filmes e fiquei cada vez mais fascinado com a ideia de fazê-los.” 

“Meu Arado, Feminino” 

Realizado como trabalho de conclusão de curso para a graduação em Cinema e Audiovisual pela UFJF, “Meu Arado, Feminino” leva a assinatura de Marina Polidoro. 

É um filme sobre vivências femininas no ambiente campesino de uma pequena cidade do interior do Espírito Santo. De maneira superficial, é sobre a realidade de mulheres cuidadoras da terra, as diferenças que atravessam a realidade de cada uma, como raça e classe ,pois só o feminino não daria conta de abranger todas elas respeitosamente. Porém, de modo mais profundo, “Meu Arado, Feminino” é sobre a honra com a terra e o elo entre elas e a vida. É uma poesia que ara as sementes antigas entre mulheres e o ato de criar,” afirma Marina, que atualmente cursa pós-graduação em Artes, Cultura e Linguagens,  atuando na linha de pesquisa em Cinema e Audiovisual.

A história abordada no documentário possui apelo pessoal para Marina, que tem familiares em  (MG), cidade onde se passa o filme, e uma tia que trabalha como cuidadora de terra. Com o filme, Marina quer chamar a atenção para as mulheres no campo e também para a agricultura familiar. 

“O contato que eu tinha com as cuidadoras de terra de Guaçuí já era antigo, pois parte da minha família é de lá. Mas foi depois de conversar com a minha tia, cuidadora de terra, que eu tive a sensação que um filme deveria ser feito sobre as mulheres daquela região. Porque quando pensamos em meio rural, ainda hoje e, principalmente, por causa da grande mídia, ainda associamos ao um terreno masculino, de latifúndio. Enquanto, na realidade, não é bem assim. O cultivo ainda é muito feminino e muito da agricultura familiar. Depois disso, veio na cabeça: vamos falar sobre as faces escondidas do campo. Mulheres e pequenas produtoras.”

“Percebo” 

“Percebo” filme de Isabela Hueley, formada em Jornalismo pela UFJF, surgiu primeiramente como uma exposição de desenhos em aquarela. As sete obras expostas retratavam as percepções sentidas por Isabela durante o período da pandemia de Covid-19. A exposição também se tornou uma campanha beneficente em que alguns quadros foram leiloados para arrecadar verba para a associação Sopa dos Pobres e ajudar pessoas em vulnerabilidade social. 

Em parceria com o diretor de fotografia e roteirista, Rodrigo Ferreira, surgiu a ideia de transformar a exposição em um roteiro. O curta-metragem, realizado com apoio da Lei Aldir Blanc, é dividido em sete atos e conta sobre o despertar para ruídos, texturas, sentimentos e angústias durante a quarentena.

Isabela conta que já tinha realizado outras produções durante o período de graduação, porém “Percebo” foi sua primeira grande produção. O filme também marca sua primeira participação no Primeiro Plano.

Confira os filmes selecionados no site do evento.

Outras informações: Primeiro Plano