Professor da Faculdade de Arquitetura, da Universidade Federal de Juiz de Fora, Fernando Lima, desenvolve pesquisa para analisar possíveis correlações entre as configurações urbanas com as taxas de contágio de doenças como a Covid-19. O estudo, desenvolvido em parceria com dois pesquisadores da Pennsylvania State University, foi publicado na revista acadêmica Entropy no mês de novembro.
Lima, que está como professor visitante da mesma universidade norte-americana, explica que o foco do trabalho foi principalmente entender o ritmo do contágio inicial da Covid-19 em 93 condados americanos com características urbanas completamente distintas. “Enquanto Nova York é uma cidade muito mais propícia para o pedestre, com a presença maciça de transporte coletivo e público, a cidade de Los Angeles, por exemplo, é basicamente baseada no deslocamento por automóvel, um meio de transporte muito mais individualizado”, aponta.
Ao relacionar a métrica de “walk score” (índice que mede a densidade de serviços urbanos e o nível da interação das pessoas) destes condados norte-americanos com o número de casos e óbitos de Covid-19 dos Estados Unidos nos primeiros meses da pandemia, o estudo mostra uma correlação positiva entre caminhabilidade, densidade populacional e o contágio da doença. Cidades que são mais caminháveis tendem a promover maiores contatos entre as pessoas e, em um contexto de uma pandemia, um número maior de interações pode contribuir numa maior disseminação da doença pandêmica.
“O que chamou mais atenção foi perceber que, num primeiro momento, cidades muito mais caminháveis apresentaram um contágio muito mais alto do que cidades onde predomina o uso de automóveis. Daí a a importância de olhar para as diferentes configurações urbanas e as possíveis relações com os níveis de contágio de doenças como a Covid-19. Isso não quer dizer que cidades mais caminháveis sejam menos saudáveis, ou que caminhar te faz correr mais riscos. Nosso intuito é buscar correlações entre o nível de interação das pessoas em áreas urbanas de diferentes características e não necessariamente apontar causalidades”, explica o professor. Um ponto a ser considerado é que, ao compreender a relação de algumas peculiaridades dos espaços urbanos com o nível de infecção, percebemos a importância de pensar sobre a adoção de medidas específicas de contenção da doença para diferentes localidades.
Limites da pesquisa e possíveis novos incrementos
Ao ser indagado sobre as possíveis limitações de sua pesquisa, Lima aponta sobre a dificuldade de reproduzir o modelo de análise no país: “Em relação ao Brasil, a grande dificuldade de reproduzir essa investigação seria em relação a encontrar dados referentes ao índice de walk score de uma quantidade significativa de cidades”. Da mesma maneira, ele aponta para algumas possíveis relações de semelhança, principalmente ao pensar que algumas cidades brasileiras estão muito mais orientadas ao automóvel do que outras.
Um dos tópicos do estudo é explorar quais podem ser os futuros atributos adotados nas análises subsequentes. Para o pesquisador, atributos como vulnerabilidade social, além dos aspectos culturais, sociais e ideológicos são tópicos a serem abordados em estágios futuros da pesquisa. “Recentemente eu li um artigo sobre o contágio aqui nos EUA. Curiosamente, foi possível identificar que as cidades menores agora na terceira onda estão tendo um maior nível de contágio – algo relacionado ao baixo índice de vacinação nessas regiões. Existem pesquisas que também relacionam esses dados à última votação presidencial norte-americana, com os mesmos municípios menores tendo um voto majoritariamente republicano”, conclui.
Apresentação em simpósio internacional
A pesquisa de Fernando Lima, Nathan Brown e José Duarte também será apresentada em um simpósio internacional, sediado de forma híbrida (online e presencial) na cidade de Florença, na Itália, entre os dias 13 e 14 de dezembro de 2021. Para Lima, é de extrema importância divulgar os resultados e trocar experiências sobre esta pesquisa. “Neste simpósio internacional, por exemplo, teremos pesquisas relacionadas à Covid e diferentes abordagens sociotemporais, com metodologias semelhantes a nossa para compreender diferentes aspectos da doença. Acredito que o mais importante da nossa participação é compartilhar nossos resultados e também ter um feedback dos pares, como uma oportunidade de retroalimentação da pesquisa”, explica Lima.
Outras informações:
International Symposium on Geospatial Approaches to Combating Covid-19