Iemanjá em cerâmica policromada, obra de Cícero José, de Caruaru (PE) (Foto: Divulgação)

No contexto de retomada gradual das atividades presenciais, o Forum da Cultura da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) está em contagem regressiva para a reabertura de suas portas. Enquanto isso, já iniciou  a parte on-line de sua nova mostra, “Viagens sonoras no Atlântico negro”, em cartaz no  Museu de Cultura Popular da UFJF, instalado no local. A exposição, que em breve poderá ser  visitada também presencialmente, propõe uma jornada reflexiva sobre as influências  africanas na música e nas musicalidades do Brasil. 

Em 20 de novembro é comemorado o Dia da Consciência Negra. A data, escolhida como referência a um dos maiores líderes antiescravagismo no país, Zumbi dos Palmares, propõe reflexão sobre a contribuição do povo e das culturas africanas na construção do país e  na formação do povo brasileiro, bem como a importância da valorização e do reconhecimento,  como parte integrante do ser brasileiro, de toda a riqueza cultural, costumes e tradições  trazidos pelos ancestrais africanos para o continente em situação de escravidão. Só se torna  possível entender a história e a cultura brasileira conhecendo a história e a cultura africana. 

Na música, os principais gêneros brasileiros se formaram no contexto pós abolicionista. Foi assim com choro, samba, lundu, maxixe, baiano, maracatu e diversos  outros. Todas essas criações beberam na fonte da africanidade, que, através da diáspora, desaguou pelo mundo. Hoje, após séculos de sincretismo, existe nos ritmos, melodias e  instrumentos tipicamente brasileiros, e no que se conhece como música e como tradições  populares do Brasil, inspiração musical que muito se aproxima do universo dos países africanos. 

A exposição 

Composta por peças do acervo do Museu de Cultura Popular da UFJF, “Viagens  sonoras no Atlântico negro” parte das representações dos orixás, deuses da Mitologia Yorùbá,  cultuados pelas muitas crenças africanas. Vinculados às forças da natureza, no sistema  religioso representam a força do grupo e da família, sendo símbolos de proteção e  sobrevivência.

Junto aos ancestrais africanos trazidos ao Brasil, os orixás fizeram a rota através do  Atlântico até chegarem ao país. Sobretudo, nas regiões banhadas pelo oceano, marcadas pelas culturas e identidades negras, indissociáveis da memória da escravidão e do racismo, a  estética fascinante e apaixonante dos orixás não ficou restrita à esfera “sagrada”.  

As artes “profanas” se inspiraram e transbordaram dessa riqueza, tendo como referencial a umbanda, o candomblé e outras religiões menos conhecidas, motivando especialmente as composições musicais, que, por sua vez, divulgaram e popularizaram a cultura dos terreiros, que ainda sofrem com processos de repressão e deslegitimação. Graças ao universo mítico dos orixás, contamos com muitas das nossas canções mais belas. 

As obras expostas, originárias de diferentes lugares do Brasil e feitas em materiais  como gesso policromado, serigrafia, cerâmica, bambu e madeira, entre outros, acompanham  instrumentos musicais que tiveram sua origem nas culturas africanas e que possuem forte  presença na música popular brasileira. Passando pelos diferentes sons, o público também terá acesso a letras de músicas que  trazem em seus versos os orixás. Através de um QR Code disponibilizado ao lado de cada peça, será possível acessar um conjunto que reúne informações como oferendas, ervas, cores  e contos sobre Ogum, Oxalufã (ou Oxalufom), Oxum, Iemanjá, Omolu, Oxóssi, Ossain, Exu  e Xangô. 

Mostra virtual 

Buscando possibilidades sensíveis nesse contexto de retorno gradual, para que mais  pessoas possam ter acesso aos conteúdos, a exposição será levada também para o universo digital, com uma versão on-line, que poderá ser acompanhada pelos perfis do Forum da  Cultura no Instagram e no Facebook. Seguindo por todo o mês de novembro, as obras estão sendo postadas toda terça e  quinta-feira, a partir das 12h. Nas terças-feiras, os conteúdos são relacionados aos orixás,  suas ervas, cores, oferendas, curiosidades e músicas. Às quintas-feiras, serão apresentados  instrumentos musicais que tiveram sua origem nas culturas africanas e outros de forte  presença na MPB. A programação contará, ainda, com depoimentos de especialistas, em vídeos que abordarão as influências africanas na música e musicalidades brasileiras. Cada explicação será direcionada a um gênero musical, ritmo e outros temas específicos dentro da proposta da  mostra.  

Reco-reco confeccionado em bambu policromado de procedência ignorada (Foto: Divulgação)

Aos poucos e com segurança 

O retorno das atividades presenciais da UFJF está sendo realizado de maneira monitorada e gradual, visando preservar a saúde e a vida das pessoas em meio ao contexto da pandemia de Covid-19. Dessa forma, quando houver o retorno, alguns protocolos estritos que permitam a manutenção da segurança para todos os usuários deverão ser seguidos. Para  visitação da mostra será necessário: 

  1. Apresentação do comprovante de vacinação em dia (pode ser o cartão de vacinação  físico ou digital, disponível no App ou site do ConecteSUS), juntamente com o  documento de identidade;  
  2. Uso obrigatório de máscara;  
  3. Agendamento prévio por meio eletrônico (e-mail forumdaculturaufjf@gmail.com)  e/ou telefone (32) 3215-3850, a fim de evitar filas e/ou aglomerações; 
  4. Levar consigo a própria garrafa de água. Será disponibilizado nos bebedouros apenas  o sistema de enchimento através de torneiras; 
  5. Manter o distanciamento físico de, no mínimo, 1,5 m; 
  6. Número máximo de quatrp pessoas por vez dentro da área expositiva para garantir o  distanciamento físico; 
  7. O tempo médio de visitação será de 25 minutos.  

As visitas mediadas acontecem de segunda a sexta-feira, com entrada franca, das 10h às 19h10, sendo o último horário de entrada às 18h45.

Museu de Cultura Popular – UFJF 

Com mais de três mil peças em acervo, o Museu de Cultura Popular possui estatuárias, peças de crenças religiosas e cerâmicas, brinquedos populares, entre outros artefatos de culturas nacionais e estrangeiras. A delicadeza e a originalidade das obras e utensílios expostos regularmente neste espaço despertam interesse, encantam e fazem sonhar adultos e crianças, proporcionando uma janela para tradições populares em transformação. 

Forum da Cultura 

Instalado em um casarão centenário, o Forum da Cultura é o espaço cultural mais antigo da  UFJF. Em atividade há mais de quatro décadas, leva à comunidade diversos segmentos de manifestações artísticas, abrindo-se a artistas iniciantes e consagrados para que divulguem seus trabalhos. 

O Forum da Cultura fica localizado na Rua Santo Antônio 1.112, Centro.

Outras informações: www.ufjf.edu.br/forumdacultura 

Instagram: @forumdaculturaufjf 

Facebook: /forumdaculturaufjf