Com destaque para o papel do negro no tempo, a mesa de abertura do XIII Encontro Nacional de História da Mídia ocorreu na noite desta quarta-feira (18) de maneira virtual. O evento, realizado pela Associação Brasileira de Pesquisadores de História da Mídia (Alcar), é apoiado pela UFJF, por meio da Faculdade de Comunicação (Facom) e do Programa de Pós-Graduação em Comunicação (PPGCom). A solenidade contou com a presença das professoras da UFJF Christina Musse, Iluska Coutinho, Marise Mendes e de Edna Mello, professora da Unifesp.
Diante do tema central do encontro “#VidasNegrasImportam: racismos, violências e resistências nas dinâmicas do tempo”, a apresentação contou com o lançamento em primeira mão de um videoclipe da rapper juizforana JôBrandaum, intitulado “Fôlego”. Para presidente da Alcar e pesquisadora do PPGCom, Christina Musse, a importância da UFJF sediar o evento se deve “aos diversos convidados internacionais, que levarão o nome da nossa Universidade para o exterior. O evento conta com a participação de mais de 400 pessoas inscritas, demonstrando a potência dos estudos da Universidade nas áreas das Ciências Sociais Aplicadas e das Humanidades. Por fim, a temática do racismo estrutural é fundamental e indispensável para pensarmos o Brasil de hoje”, complementa.
A palestra de abertura ministrada pelo professor na Universidade de British Columbia, Canadá, Louis Maraj, permeou o tema “O negro no tempo: como o #VidasNegrasImportam reorienta o humano”. Maraj fez diversas considerações sobre o nascimento do movimento em meados de 2020, analisando o contexto histórico anterior, questão primordial para uma melhor compreensão dos atuais caminhos do “#BlackLivesMatter” (BLM).
O pesquisador ressaltou que diferentemente do movimento atual – que é independente desde sua criação e com sua visibilidade pautada exclusivamente pelas redes sociais – o movimento por direitos civis dos negros (Civil Rights Movement), ocorrido na década de 1960, só foi amplificado por uma visão gerada pela agenda da grande mídia norte-americana, que cobriu massivamente os protestos. Da mesma maneira, o movimento do #VidasNegrasImportam foi uma evolução natural de vários movimentos que protestavam não somente contra a violência policial – sendo esse tópico somente a ponta de um iceberg muito profundo.
Anteriormente, na última década, hashtags como #IAmTrayvonMartin e #IfTheyGunnedMeDown (Eu sou Trayvon Martin e Se eles tivessem me atirado, em português) também buscaram explicitar os dramas diários vividos pela comunidade negra. Diante do assassinato de George Floyd pela violência policial, em maio de 2020, o movimento do BLM começou a emergir subitamente nas redes sociais como Instagram e Twitter, de maneira que as hashtags proporcionavam uma descentralização até então inexistente.
Desta forma, qualquer usuário dessas redes sociais poderia ser mais uma voz no debate público, algo que poderia ajudar também a denunciar episódios que até então não teriam nenhuma visibilidade pública. O pesquisador também destacou que o BLM é o primeiro grande movimento a aderir aos princípios do Feminismo Negro. Entretanto, com a gigantesca notoriedade do assunto no espaço público, Maraj explicou que um grande número de empresas tentaram se apropriar do tema, com o único intuito de lucrar em cima do sofrimento dessa população.
Da mesma maneira, é preciso notar que o movimento do #VidasNegrasImportam também trouxe lucro a algumas pessoas ligadas ao tema, tais como ativistas. Entretanto, ele destaca que esses ganhos não vieram para todos; de forma que alguns artistas foram também acusados de se apropriar do tema para ganhar notoriedade pública e sucesso. Por fim, Maraj ressaltou que devido às mais diversas reivindicações encontradas nas mais diversas vozes participantes desse debate, é necessário perceber que não existem contradições, mas sim pluralidades que devem ser valorizadas – lembrando que movimentos como o BLM não podem ser estáticos.