Nesta segunda-feira, dia 28 de junho, é celebrado o Dia Internacional do Orgulho LGBTQIA+.  A data marca as reivindicações de lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transgêneros, transexuais, queers, intersexuais e assexuais pelo direito à vida. 

“A luta por orgulho é recente para a comunidade LGBTTQIA+. O que eu quero dizer com isso é que temos um passado de conquistas e de pessoas que iniciaram essa luta por construir imagens mais positivas dessa comunidade Isso nos possibilita hoje nos orgulharmos de sermos o que somos e nos entendermos de maneira positiva”, destaca o professor da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Anderson Ferrari. Ele foi o  primeiro docente da instituição a pesquisar as temáticas de gênero e sexualidades, sendo líder e fundador do Grupo de Estudos e Pesquisas em Gênero, Sexualidade, Educação e Diversidade (Gesed) da Universidade. 

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Em 2019, a UFJF passou a ter, também, um Centro de Referência LGBTQIA+, programa de extensão sob coordenação do professor da Faculdade de Serviço Social, Marco José Duarte. O docente enfatiza as vitórias recentes dessa comunidade em âmbito municipal. No dia 15 de junho, conforme Duarte, foi instalado um grupo de trabalho para a elaboração do Plano Municipal de Promoção e Defesa dos Direitos da População LGBTQIA+. A medida ocorreu 21 anos após a aprovação da Lei Municipal 9791/2000, a chamada “Lei Rosa”, que dispõe sobre as ações municipais no combate às discriminações por orientação afetivo-sexual. 

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“No dia 15, o Grupo de Trabalho teve sua primeira reunião, com cinco representantes do governo e cinco representantes da sociedade civil. Ao todo, são dez titulares e dez suplentes, coordenados pela nova Secretaria Municipal de Direitos Humanos. Isso é motivo de orgulho e de enfrentamento pela concretização de uma política pública de direitos de LGBTQIA+ na cidade”, complementa Duarte.  

A partir dessas reflexões e, especialmente, de questões levantadas pelo Gesed nas redes sociais do grupo, o portal da UFJF, em parceria com a Ouvidoria Especializada em Ações Afirmativas,  ouviu representantes da comunidade LGBTQIA+ na instituição. 

Aos entrevistados foram feitas duas perguntas: “Junho é o mês do Orgulho LGBTQIA+. Nesse sentido, o que temos para nos orgulhar? Que enfrentamentos precisamos continuar fazendo para existir?”    

Confira as respostas de docentes, estudantes e técnico-administrativos na íntegra

Ana Maria Ferreira – professora da Faculdade de Serviço Social: Celebrar o orgulho LGBTQIA+ no mês de junho nos remete a muitas lutas dos que vieram antes de nós. Celebrar e declarar nossa existência é resistir a todo preconceito, violência, desconhecimento e ignorância. Existir de forma livre é uma luta cotidiana, ainda mais no contexto obscuro e ultraconservador que tem pautado as relações no nosso tempo. Nossa luta é a luta por uma sociedade realmente justa e igualitária, onde possamos viver sem medo, amar sem medo, sonhar sem medo! Temos que ter orgulho de quem somos, da nossa história e do nosso amor! Saudações aos que vieram antes! Seguimos existindo e declarando nossa vontade de viver e amar!”

Amy Braga Brennea – aluna da Faculdade de Comunicação: “Cada vez mais temos conquistado o espaço que nos é negado. Nossa comunidade luta todos os dias, de diferentes formas, e resiste às adversidades provocadas pela sociedade cisnormativa a qual vivemos. O mês de junho só se tornou esse marco da luta devido à resistência feita por pessoas como eu, pessoas trans. O orgulho de si, e de onde se pertence vem de sua história. E nossa história é linda, de muita luta, muito debate, muito sangue, mas acima de tudo, feita por pessoas guerreiras, que, até hoje, lutam pelo direito de humanidade que ainda nos é negado.”

Anderson Ferrari – professor da Faculdade de Educação: Temos o passado de luta para nos orgulharmos, uma luta que pretende uma sociedade mais igualitária, com respeito a todas as pessoas, sem violência, agressões e discriminações, enfim, uma sociedade melhor para todos, todas e todes. Um dos enfrentamentos se dá no campo da educação, tanto a educação formal, que ocorre nas escolas e universidades, quanto a educação informal, que ocorre nos diferentes espaços sociais em que circulamos. Enfrentamento esse que diz da produção de conhecimento, que passa pela necessidade de garantir espaços de formação mais acolhedores para a comunidade LGBTTQIA+ que possibilite a permanência das pessoas LGBTTQIA+ nas escolas e seu ingresso nas universidades, assim como a entrada nos programas de pós graduação, o que significa não somente ter acesso ao conhecimento, mas, sobretudo, produzir conhecimentos a partir das nossas experiências de vida.”

Dandara Felícia – técnica em saúde do Hospital Universitário: “O Dia do Orgulho diz daquilo que somos, de como existimos e de como queremos existir. A gente tem orgulho de ser o que é. É isso que a gente tem para se orgulhar, porque, de fato, no país em que vivemos, com um genocida no poder, lgbtfóbico, misógino, racista, a gente não tem muita coisa para se orgulhar do país, mas devemos, sim, nos orgulhar daquilo que somos, daquilo que construímos e daquilo pelo que lutamos, que é a nossa existência. Precisamos continuar fazendo os enfrentamentos necessários, para avançarmos na garantia de direitos. Hoje temos, em Juiz de Fora, uma prefeita que tem olhado muito as causas sociais, está elaborando um plano plurianual popular. Então, temos agora um grupo de trabalho para pensar o plano municipal de defesa e cidadania LGBTQIA+, e o que temos de fazer é continuar pressionando, para que a sociedade e as administrações municipal, estadual e federal garantam os nossos direitos. Garantir os nossos direitos é garantir as nossas vidas.”

Danielle Teles – professora da Faculdade de Medicina: “Para nos orgulhar temos uma trajetória de lutas, afeto, coragem e resistência por direitos em diferentes esferas, que foi travada por gerações passadas e sobretudo pela população trans. Devemos reconhecer e nos orgulhar de todo esse processo e dos sujeitos que o protagonizaram. Os enfrentamentos são constantes e para além da romantização que por vezes cercam os slogans, as propagandas e a forma como o capitalismo se apropria dessa pauta. Não é apenas por visibilidade e direito de amar que estamos lutando. Nossa luta é por não morrer por crime de ódio ou ter nossa existência agonizando em cada negação de direito. Queremos saúde, educação, moradia, emprego, renda, família, lazer, ambientes seguros, respeito, representatividade…direito a envelhecer, direito à vida. Precisamos, ainda, de conscientização e mobilização para que avanços que estão no papel sejam concretizados. Em tempos sombrios não necessariamente lutamos por avanços, temos enfrentamentos diários para impedir retrocessos”.

Ítalo Pereira – aluno da Faculdade de Medicina: “Poder ser quem realmente somos, por si só, para mim, já é motivo de orgulho. Apesar das adversidades, a cada dia estamos conquistando mais espaços, graças, especialmente, à luta de quem nos fez chegar aonde estamos atualmente. O cenário sociopolítico dos últimos anos está ameaçando seriamente nossa existência e com todas as consequências da atual pandemia, precisamos nos unir para que ninguém fique para trás. E, para mim, o nosso maior desafio é esse, conseguir dar voz a todas as pessoas LGBTQIA+, atravessadas por diversas questões como raça e renda, valorizando as características  de cada um.  À medida que mais pessoas se sintam realmente integradas e representadas em nosso movimento, mais forças teremos para enfrentar quaisquer retrocessos e conquistar um país mais diverso e com mais justiça social.”

João Paulo Moreira Rigueira – professor da Faculdade de Medicina (campus GV): “A existência de pessoas abertamente LGBTQIA+ em espaços como a academia é motivo de orgulho, porque representa a subversão de uma ordem que, por muito tempo, relegou essa população à marginalidade. Ser um professor universitário é, ainda, motivo de prestígio, sobretudo, em uma instituição pública federal e, se hoje eu, abertamente gay, e outras pessoas como eu ocupamos esse espaço, isso se deve ao suor e lágrimas de semelhantes que nos precederam. Cabe ressaltar, contudo, que quem mais sofreu – e ainda sofre – carregando a bandeira do movimento e abrindo portas, ainda se senta à margem: gays e lésbicas negros, afeminados, transsexuais e travestis, dentre outros, são diariamente massacrados pelo “cis-tema” patriarcal e machista que dá as regras da sociedade. Nossa luta só estará ganha quando a Universidade for lugar amistoso para todes, mostrando que nossa competência e potencialidades não estão definidas ou limitadas pela orientação sexual ou identidade de gênero.”

Marco José Duarte – professor da Faculdade de Serviço Social: “Temos muito que nos orgulhar! São mais de 40 anos de movimento LGBTQI+ no Brasil e vários enfrentamentos em diversas conjunturas políticas. Digo como quem participa desde os anos 80 do que se chamava à época, de movimento homossexual brasileiro (MHB), enfrentando a ditadura militar, a patologização das homossexualidades, das identidades trans, das violações de direitos humanos, violências e assassinatos. Continuamos na luta, frente ao conservadorismo estruturante e estruturado das relações sociais, pelo signo da LGBTQIfobia, que veem os corpos e sujeitos LGBTQI+ como abjetos. Hoje, apesar do Estado ultraneoliberal, que impõe o desmonte das políticas públicas em geral, e, particularmente, das voltadas para LGBTQI+, e sua aliança com os setores ultraconservadores, que com seu discurso de ódio, impõem seus valores morais numa ofensiva antigênero e antiLGBTQI+, a luta continua, sempre, a (r)existência se faz no coletivo.”

Roney Polato – professor da Faculdade de Educação: No mês de junho lembramos do orgulho LGBTI+, que pode ser traduzido no orgulho de poder afirmar uma existência digna e legítima, sem necessariamente nos igualarmos e nos enquadrarmos. Trata-se de afirmar nosso orgulho na diferença. Mas precisamos, sim, de equidade de direitos, políticas públicas e condições dignas de vida para não intensificar as precariedades, especialmente se pensarmos no contexto pandêmico que temos vivido. Por isso, penso que o orgulho está atrelado às lutas coletivas, realizadas pelos movimentos sociais e ativismos das dissidências sexuais e de gêneros, e também às resistências cotidianas, vivenciadas por cada pessoa LGBTI+ em sua família, trabalho, escola e demais espaços de sociabilidade. O orgulho está atrelado à produção e compartilhamento de saberes acadêmico-experienciais, o que diz de nossa atuação nas universidades. Por fim, lembrar do orgulho LGBTI+ também significa nos mantermos atentas/os aos desafios do presente: mobilizarmo-nos e lutarmos pela manutenção dos direitos conquistados, contra o fascismo que nos ronda e a persistência das violências e das tentativas de anulação das existências de pessoas LGBTI+.”

Vanessa Lucena Lima – residente do curso Multiprofissional em Saúde do Adulto: “São as nossas conquistas, garantias de direitos, avanços nos estudos sobre a comunidade, ocupação de cargos e lugares importantes, representatividade, reconhecimento da nossa identidade. Orgulho pela força e a coragem de ser quem somos, em um país que tenta nos fazer desistir todos os dias. Resistir, numa sociedade que tenta nos calar. Resistir contra o ódio, contra a LGBTfobia, resistir para existir. Manifestar nosso orgulho para que outras pessoas se identifiquem, e empoderá-las para que se sintam confortáveis e seguras para serem quem verdadeiramente são.”

Webert Arão – aluno da Faculdade de Farmácia (Campus GV):  “A história da comunidade LGBTQIA+ é marcada por diversas lutas e reivindicações de igualdade e respeito. Apesar de duras, essas batalhas têm surtido efeitos e aos poucos a comunidade LGBTQIA+ vai conquistando direitos que são fundamentais para a cidadania plena. Vejamos as principais conquistas: casamento ou união estável; adoções; criminalização da LGBTfobia; direito ao uso do nome socia;, retificação de gênero e nome. Não podemos deixar de citar que tudo isso teve início em 28 de junho de 1969 em um bar de Nova Iorque (EUA), destaque para a Stomé Delarverie, uma mulher cis lésbica; Marsha P. Jhonson, travesti negra, drag queen, bissexual e soropositivo; e Sylvia Rivera, travesti, essas pessoas deram início a tudo isso, e hoje nos enchem de orgulho e inspiração. Com o avanço do conservadorismo e do autoritarismo no legislativo e executivo, precisamos ocupar esses espaços para a construção de uma sociedade mais diversa e plural, enfrentando de perto a intolerância e o ódio.”