Todos os museus do mundo, do Museu de Arte Moderna (MAM) no Rio de Janeiro ao MoMA em Nova Iorque (EUA), partilham de um personagem imprescindível para qualquer acervo, mesmo não estando incluído nas visitas mediadas: seus vigias, as pessoas que velam as coleções enquanto o museu dorme e que acompanham os visitantes, enquanto estes se aventuram pelas galerias.
A relação entre esses profissionais e as instituições que eles guardam é tema do curta documental “Olhar do Vigia”, produzido e dirigido pela egressa do Instituto de Artes e Design (IAD) da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) Ariel Bertola e pela estudante do Programa de Pós-graduação do IAD-UFJF Clara Downey. A estreia acontece no próximo domingo, dia 30, no canal do Labiarte no Youtube, às 18h18.
Relação com o acervo
Durante três dias, o documentário acompanhou as jornadas de três vigias do Museu de Artes e Ofícios (MAO),na capital mineira Belo Horizonte, trabalhando em diferentes turnos e em diferentes setores, buscando responder como eles enxergam sua relação com o acervo, com os visitantes e com a própria Arte.
Conforme as diretoras, o filme nasceu do interesse em abordar essa “aura de inacessibilidade” que, por vezes, envolve os museus e as instituições de arte no Brasil, levando muitas pessoas a questionarem seu pertencimento nesses espaços. “Então, surgiu essa ideia de pesquisar como essas instituições constroem sua relação com o público”, explica Clara.
“Nós decidimos começar pelas equipes técnicas, que trabalham nos museus, mas não necessariamente tiveram uma formação nessa área. E foi muito interessante perceber como os relatos deles tinham muitos elementos parecidos. Todos os três achavam a coleção de carrancas a parte mais esquisita do acervo. Todos tinham uma relação de proteção e afeto com as peças, com o prédio”, conta a diretora.
Além disso, explica Ariel, todos os vigias tinham um vínculo pessoal com o MAO. “Um deles contou de uma ferramenta que o avô usava no trabalho e que estava exposta no acervo. Outro falou sobre uma parte da coleção que se relaciona com um período da sua vida, quando trabalhava em uma fábrica de tecidos. Então, estar ali em meio àquele acervo trazia à tona essas memórias, resgata esses vínculos.”
O museu escolhido como cenário para o curta não poderia ser mais apropriado. O MAO, localizado no centro de Belo Horizonte, abriga 25 mil peças – originais do século XVIII ao XX – que transformam as ferramentas próprias do mundo do trabalho em exemplares do universo da arte.
Quem pode fazer arte?
O “Olhar do Vigia” é parte do projeto Laboratório Informal de Arte-Educação (Labiarte), criado pelas diretoras no início de 2020 com a proposta de realizar dinâmicas e quadros nas redes sociais para aproximar o universo da Arte do cotidiano das pessoas.
“Quando nós começamos o Labiarte estávamos procurando uma forma de manter arte-educação, mesmo com todos os museus fechados. E encontramos um caminho nessas brincadeiras com as pessoas pelo Instagram. E isso foi gerando frutos, discussões”, ressalta Clara.
Produzindo quadros como o “Traduções” e o “Conversas de Ateliê”, o Labiarte busca apresentar as obras e seus artistas de forma rápida e descontraída, abraçando tanto o público que já acompanha as discussões do mundo da Arte quanto aquele que ainda quer descobri-las. Ou, como descreve Ariel, “nem sempre nós estamos buscando passar algum conhecimento. A mediação cultural, esse ramo da Arte-educação, entende que o professor (ou mediador) deve ser mais um provocador, que quer incitar o pensamento crítico. É desse espaço que a gente pretende participar”.
O “Olhar do Vigia” foi realizado por meio de edital de fomento da Lei Aldir Blanc. As gravações aconteceram em abril de 2021, com apoio da Prefeitura de Belo Horizonte, com uma equipe reduzida e seguindo todas as recomendações dos órgãos de saúde.
Outras informações: (32) 99111-8523 (Assessoria)
(31) 99105-4125
(32) 9.8422-6366
@labiarte