O Centro de Políticas Públicas e Avaliação da Educação da Universidade Federal de Juiz de Fora (CAEd/UFJF), em parceria com a Secretaria da Educação do Estado de São Paulo, desenvolveu uma pesquisa pioneira sobre os impactos da pandemia de Covid-19 na educação básica da rede pública estadual de São Paulo. O objetivo é fornecer uma base sólida para o estabelecimento de estratégias que evitem o prejuízo na aprendizagem de uma geração de estudantes. Para tal, o estudo aponta quanto, em média, os alunos precisam avançar para alcançar resultados de proficiência semelhantes aos obtidos por colegas que cursaram os mesmos anos letivos antes da pandemia.
O impacto da mudança para o ensino remoto foi maior na aprendizagem dos estudantes mais novos
A expectativa dos pesquisadores envolvidos no estudo é de que o período de recuperação estenda-se até o final de 2022, no qual estima-se que os níveis anteriores de proficiência possam ser retomados. “A pesquisa produz informações importantes sobre o nível de aprendizado dos estudantes, que é de suma importância para o planejamento ou o replanejamento da gestão curricular em sala de aula, tendo em vista vencer uma incerta retomada das aulas presenciais”, afirma a coordenadora geral do CAEd, Lina Kátia de Oliveira, responsável pela pesquisa. “Outro ponto do estudo é sua importância para subsidiar políticas públicas voltadas para a superação das defasagens de aprendizagem.”
Para cada ano escolar, cerca de 7 mil estudantes foram avaliados nos componentes curriculares de Língua Portuguesa e Matemática, reunindo uma amostra representativa de extratos sociais e regiões do estado de São Paulo. Os testes foram aplicados presencialmente e elaborados de acordo com o currículo estadual e a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), com itens calibrados nas escalas de proficiência do Sistema de Avaliação da Educação Básica (SAEB).
Foram analisados indicadores de proficiência de alunos que iniciaram, em 2021, o 5º ano e o 9º ano do Ensino Fundamental e o 3º ano do Ensino Médio. Posteriormente, os resultados foram comparados com os mesmos indicadores de estudantes que concluíram esses mesmos anos letivos em 2019. Desta forma, é possível constatar quanto os alunos precisam progredir durante este ano letivo para alcançar a mesma proficiência em aprendizagem obtida, antes da pandemia de Covid-19, por colegas da mesma escolaridade.
E agora?
Embora parte dos efeitos da pandemia na aprendizagem de estudantes da rede pública tenham sido mitigados, a pesquisa amostral revela que a educação básica sofreu grande impacto. Por outro lado, as informações obtidas são base para orientar o desenvolvimento e a implementação de políticas eficazes, principalmente nos anos iniciais do Ensino Fundamental, cujos resultados indicam maior queda na aprendizagem.
“Fica evidente a importância de um pacto entre a rede estadual de São Paulo e as redes municipais de ensino para priorizar a alfabetização. Boas estratégias atreladas a um programa de reforço escolar podem ser um caminho promissor para a superação do desenvolvimento das competências e habilidades, especialmente em Matemática”, pondera a coordenadora geral do CAEd, Lina Kátia de Oliveira.
Ensino Fundamental: queda significativa no desenvolvimento de novas competências e habilidades
As maiores discrepâncias em relação às avaliações aplicadas em 2019 são verificadas no 5º ano do Ensino Fundamental: em 2021, os estudantes apresentam 29,6 pontos a menos na escala de proficiência em Língua Portuguesa, e 46,3 a menos em Matemática – ou seja, um longo caminho a percorrer para chegar ao patamar de proficiência anterior à pandemia.
Dados demonstram que ensino de Matemática foi mais afetado durante o período de isolamento social
Também cientes de que os mesmos estudantes que ingressaram no 5º ano em 2021 concluíram o 3º ano do Ensino Fundamental em 2019, os pesquisadores compararam os resultados obtidos entre os alunos desses anos escolares nos anos indicados: desta forma, como ambos os testes são baseados no SAEB, é possível evidenciar, especificamente, o impacto do período de interrupção de atividades escolares presenciais em 2020 devido à Covid-19.
Os resultados demonstram que, ao final do 3º ano do Ensino Fundamental em 2019, os estudantes do estado de São Paulo alcançaram 187,2 pontos e 212 pontos na escala de proficiência para Língua Portuguesa e Matemática, respectivamente. A pesquisa amostral estimou que esses mesmos estudantes, agora em 2021, no início do 5º ano, possuem um desempenho médio de 193,8 em Língua Portuguesa e 196,4 em Matemática. Constata-se, então, que o atual estudante do 5º ano da rede estadual de São Paulo tem um desempenho inferior em Matemática do que obtinha há um ano, ao concluir o 3º ano do Ensino Fundamental. Em relação à Língua Portuguesa, a aprendizagem foi mantida levemente maior.
De acordo com os pesquisadores do CAEd, a comparação demonstra que, em 2020, em média, esses estudantes praticamente não desenvolveram novas competências e habilidades nos dois componentes curriculares – uma vez que, segundo dados do Sistema Avaliação do Rendimento Escolar do Estado de São Paulo (SARESP) de 2019, o estudante evolui, em média, no início do Ensino Fundamental, aproximadamente 15 pontos por ano na escala de proficiência em Língua Portuguesa, e 10 em Matemática.
Diferenças menores nos anos finais dos ensinos Fundamental e Médio
Para o 9º ano do Ensino Fundamental e o 3º do Médio, as diferenças são menores, o que sugere que o impacto da mudança para o ensino remoto foi maior na aprendizagem dos estudantes mais novos. O cenário, no entanto, também é desafiador. Em Matemática, o desempenho alcançado no 3º ano do Ensino Médio na pesquisa amostral foi de 255,3 pontos na escala de proficiência, inferior aos 261,7 obtidos pelos estudantes ao final do 9º ano do Ensino Fundamental no SAEB de 2019.
“Esses números revelam que o jovem que hoje inicia o último ano de sua trajetória escolar desenvolveu, em média, menos competências e habilidades de Matemática do que aquele que concluía o 9º ano há dois anos. Em Língua Portuguesa, o estudante atual do 3º ano do Ensino Médio encontra-se um pouco à frente, com aproximadamente 7 pontos a mais do que o jovem que dois anos atrás terminava o 9º ano do Ensino Fundamental”, apontam pesquisadores do CAEd.