O reitor da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Marcus David, e a vice-reitora, Girlene Alves, apresentaram nesta quarta-feira, 14, os ajustes na gestão da instituição devido a cortes feitos pelo Governo federal no Orçamento de 2021. Desde 2016, a UFJF acumula reduções equivalentes a mais de 47%: eram R$ 157,9 milhões disponíveis naquele ano ante R$ 82,3 milhões neste. “A ciência e a tecnologia no Brasil acabaram”, ressaltou David, em entrevista coletiva à imprensa.

Em entrevista coletiva, Marcus David detalhou acúmulo de reduções desde 2016, apresentou medidas duras que afetam a qualidade ofertada pela Universidade e lamentou o ataque permanente à ciência e à tecnologia no país (Foto: Alexandre Dornelas/UFJF)
As adaptações foram discutidas e aprovadas em reuniões do Conselho Superior (Consu) da UFJF. “Chegamos a um ponto em que não era possível continuar sem absorver cortes muito duros no funcionamento da instituição”, lamenta o reitor. Ainda assim, a Universidade prevê terminar o ano com dívida de mais de R$ 6 milhões, mesmo tendo ajustes que afetam todos os setores.
Entre as medidas estão redução de materiais de consumo, serviços e projetos voltados à comunidade, corte no número e no valor da maioria das bolsas de graduação e de assistência estudantil, além de perda de 307 postos de trabalho terceirizados ao longo do ano. “Foram medidas muito duras, o que nos faz ter uma preocupação grande com a qualidade ofertada pela UFJF”, frisou David.
“Foram medidas muito duras, o que nos faz ter uma preocupação grande com a qualidade ofertada pela UFJF”, frisou David.
A situação financeira da UFJF foi discutida e votada no Consu durante duas reuniões, na última sexta, 9, e nesta segunda-feira, 12, além de ter havido comissão específica sobre o tema. O órgão colegiado máximo da UFJF é composto por integrantes da Reitoria, diretores de faculdades e institutos e representantes de conselhos setoriais, de estudantes, técnico-administrativos em educação e professores.
Com as restrições orçamentárias, os principais ajustes debatidos e aprovados pelo Conselho são:
Redução de despesas com serviços, materiais de consumo e outros

Materiais para ensino e pesquisa em laboratórios estão entre os itens que sofrerão redução com o corte no Orçamento (Foto: Caique Cahon/UFJF)
Em comparação com 2019, a Universidade prevê gastar, em 2021, menos R$ 17,1 milhões com a compra de materiais de consumo – que engloba desde itens usados em laboratórios e salas de aula àqueles empregados em gestão e projetos de extensão, graduação e pesquisa. Há ainda redução de recursos para aluguel de imóveis, capacitação, diárias de passagens e outros itens.
Em 2019, foram executados R$ 39,4 milhões nesse campo. Em 2020, com a restrição de atividades, como menos consumo no Restaurante Universitário (RU), em energia elétrica, água, realização de eventos e diversas outras ações, passou para R$ 20,7 milhões. Em 2021, o montante previsto permanece baixo, em R$ 22,3 milhões.
Redução no número e no valor de bolsas

Projetos de extensão, que atendem a comunidade externa, serão prejudicados com a redução de bolsistas (Foto: Caique Cahon/UFJF)
Nos últimos dois anos, a Universidade buscou manter o valor e o quantitativo de 3.607 bolsas destinadas a estudantes dos ensinos fundamental e médio, da graduação e da pós-graduação.
Total de bolsas oferecido | Corte | Novo total | Redução |
3.607 | 869 | 2.738 | 24% |
Serão aplicados, em 2021, R$ 16 milhões em bolsas, que são inferiores aos R$ 18,3 milhões de 2020 (menos 12,4%) e R$ 20,1 milhões de 2019 (menos 20,4%). “A UFJF é marcada pela excelência na graduação e esses projetos contribuem para a formação dos estudantes. Para muitos deles, isso vai significar um impacto muito grande. Também indica que nossos projetos de pesquisas e o atendimento à comunidade serão prejudicados em função da não participação de nossos estudantes”, destacou o reitor.
Programas de graduação | Novo valor | Antigo |
Monitoria da graduação; treinamento profissional; extensão; Grupo de Educação Tutorial; iniciação científica e iniciação artística (12 horas semanais) |
R$ 300 | R$ 400 |
Monitoria em Línguas Estrangeiras (16 horas semanais) |
R$ 333,75 | R$ 445 |
Infocentro (20 horas semanais) e Idiomas sem Fronteiras (12 horas semanais) |
R$ 375 | R$ 500 |
Programa de Iniciação Tecnológica – Critt (20 horas semanais) |
R$ 403,50 | R$ 538 |
Programa Promisaes, financiadas pelo PEC-G | R$ 622 | R$ 622 |
Com o corte no orçamento, foi aprovada a redução do valor a partir de maio, com pagamento em junho, e a extinção de 869 bolsas. Desse montante, a maior perda, de 700 oportunidades, está concentrada nos programas de treinamento profissional, extensão e iniciação científica, os quais possuíam proporcionalmente mais vagas.
Desse modo, das 2.738 bolsas previstas para 2021, a maioria delas (2.166) passa a ser de R$ 300 mensais em vez de R$ 400, por 12 horas de atividades desempenhadas semanalmente pelo estudante. Essa medida se aplica aos programas de monitoria da graduação; treinamento profissional; extensão; grupos de Educação Tutorial; iniciação científica e iniciação artística.
As bolsas de monitoria em Línguas Estrangeiras, que requerem 16 horas semanais, serão de R$ 333,75, em vez de R$ 445. Já as de Infocentro, de 20 horas, e as quatro bolsas de Idiomas sem Fronteiras, de 12 horas, passam a ser de R$ 375. Antes eram R$ 500. O Programa de Iniciação Tecnológica do Critt, que demanda 20 horas semanais do estudante, pagará R$ 403,50 mensais. Anteriormente eram pagos R$ 538.
Por sua vez, as 11 bolsas do programa Promisaes, financiadas especificamente pelo Programa de Estudantes-Convênio de Graduação (PEC-G/MEC), voltado a estudantes estrangeiros de países de baixo desenvolvimento socioeconômico, permanecem em R$ 622.
Programas de pós-graduação | Novo valor | Antigo |
Mestrado | R$ 1.500 | R$ 1.500 |
Doutorado | R$ 2.200 | R$ 2.200 |
Residências em Economia e Gestão Hospitalar, Farmácia e Docência | R$ 3.996,52 | R$ 3.996,52 |
As bolsas de mestrado e doutorado mantêm quantidade e valores: R$ 1.500 e R$ 2.200 respectivamente. O montante ofertado em residência em Economia e Gestão Hospitalar, Farmácia e Docência também permanece em R$ 3.996,52. A redução não ocorreu nesses campos de pós-graduação porque o Conselho Superior considerou que a UFJF continuasse sendo polo de atração de estudantes nesse estágio e porque houve uma contrapartida de corte de 75% nos recursos do programa de Apoio à Pós-graduação, utilizados na compra de insumos, inscrições em congressos, tradução de artigos e outros fins. Bolsas de pós-graduação também já vêm sofrendo cortes sucessivos por entidades de fomento à pós-graduação e pesquisa.
Corte em terceirização

Recursos para contratação de profissionais terceirizados terá redução de 32,9% neste ano (Foto: Caique Cahon/UFJF)
Os recursos aplicados na contratação de pessoal de empresas terceirizadas, em 2021, também terão redução, caindo de R$ 54,6 milhões para R$ 40,1 milhões. Por isso, haverá uma perda de 307 postos de trabalho terceirizados, em Juiz de Fora, passando de 932 para 625 ao longo do ano, representando uma redução de 32,9% da mão de obra contratada.
“É um número muito grande de homens e mulheres perdendo seus empregos, em função da impossibilidade de a Universidade manter esses postos. Foram medidas muito difíceis de serem tomadas”, disse David.
Total atual de trabalhadores | Redução | Novo total estimado |
932 | 307 | 625 |
A contenção ocorrerá principalmente à medida que os contratos com as empresas vencerem. O contrato de apoio administrativo venceu em janeiro e foi renovado já com os cortes; os de cultura e Centro de Educação a Distância vencem em maio; os contratos atuais de motoristas, de limpeza e conservação e de infraestrutura terminam em julho; o de vigilância armada em agosto e o de portaria em setembro.
Manutenção do Plano Nacional de Assistência Estudantil (Pnaes)

Verba para Plano Nacional de Assistência Estudantil tem sido reduzida desde 2016, mas UFJF vem complementando com recursos de outras áreas; com os novos cortes, auxílio financeiro digital será readequado para R$100 (Foto: Elisa Chediak/UFJF)
Para o Pnaes, em 2021, o Governo Federal disponibilizou R$ 12,47 milhões, mas é estimada a necessidade de pelo menos R$ 16,1 milhões, ainda assim com ajustes. A diferença será arcada da seguinte forma: R$ 2,56 milhões virão de saldo positivo da UFJF referente a 2020 e mais R$ 1 milhão entrará como possível dívida para 2022. Desde 2016, os repasses para o Pnaes vêm sendo contidos em 14,75%.
2016 | 2021 | Redução |
R$ 15 milhões | R$ 12,79 milhões | -14,75% |
O programa apoia a permanência de estudantes de baixa renda matriculados em cursos de graduação presencial. Na UFJF, foram ofertados cerca de 5.300 auxílios, em 2020, para moradia, permanência (transporte e alimentação) e creche. E foram inseridos os auxílios emergencial temporário e digital, devido ao início do ensino remoto emergencial na pandemia e às condições socioeconômicas dos estudantes.
Bolsas | Novo valor | Antigo |
Permanência Pnaes | R$ 400 | R$ 500 |
Auxílio moradia | R$ 340 | R$ 370 |
Auxílio financeiro digital | R$ 100 | R$ 120 |
Auxílio emergencial temporário | Será suspenso | R$ 200 |
Com o corte no orçamento, o total de bolsas passará para, em média, 4.500, uma vez que o auxílio emergencial temporário pago a 775 alunos e alunas será extinto. Além disso, o auxílio financeiro digital será ajustado, e a bolsa Pnaes, que era de R$ 500, será de R$ 400. Já o auxílio moradia cairá de R$ 370 para R$ 340. A medida passa a valer a partir de maio, com pagamento dos novos valores em junho.
Campus avançado
Em Governador Valadares, o aporte da UFJF específico para a unidade avançada será mantido em R$ 10.272.729, que se referem a despesas como aluguéis, serviços, materiais de consumo, terceirização e outros. No entanto, a unidade também será afetada pelo impacto no corte de bolsas e outros contratos. As decisões serão discutidas pelo Conselho Gestor local.
Menos de 2%
Além de ter um Orçamento sequencialmente menor, a UFJF, desde janeiro, tem recebido menos de 2% dos recursos da União aprovados na Lei Orçamentária Anual (LOA 2021). Isso porque, embora a lei tenha sido votada pelo Congresso Nacional, ela não foi ainda sancionada pelo presidente da República, Jair Bolsonaro, conforme explicou o pró-reitor de Planejamento, Eduardo Condé.
“Neste momento, a educação e a saúde estão ameaçadas por esse jogo de Orçamento”, pró-reitor de Planejamento, Eduardo Condé
E mesmo sancionada, serão disponibilizados para execução somente 40% do montante, porque os outros 60% estão condicionados à aprovação de outro dispositivo pelo Congresso que revisa a chamada “regra de ouro” do orçamento público. Essa regra impede o governo de fazer dívidas para pagar despesas correntes.
Recebendo, portanto, apenas 1/18 do Orçamento por mês, a UFJF tem tido dificuldades para pagar fornecedores. “Isso ocorre independentemente da Universidade. É responsabilidade exclusiva das autoridades federais e do Congresso, porque não fazem Orçamento razoável. Neste momento, a educação e a saúde estão ameaçadas por esse jogo de Orçamento”, analisou o pró-reitor.
2016 | 2021 | Redução |
R$ 157,9 milhões | R$ 82,3 milhões | R$ 75,6 milhões (- 47,8%) |
O professor Marcus David ainda explicou a escolha por ter comparado o Orçamento de 2021 com o de 2016. Além de ter sido o ano de início de sua gestão na UFJF, foi quando o país teve aprovada no Congresso a emenda constitucional 95, a do Teto de Gastos Públicos. “Foi o ano de o Brasil fazer uma opção de consequências muito fortes. A emenda condenava o Estado a fazer amputações na sua qualidade. Em função dela, o Orçamento de 2021 é uma peça de ficção, pois não comporta os gastos de manutenção da educação e da saúde, nem é suficiente para enfrentar a pandemia. Estamos indo na contramão de todo o mundo, porque, quando vivemos uma crise como esta, precisamos de investimentos para emprego. O Estado está ampliando a crise.”
Orçamento 2021, 2020 e 2019

UFJF possui mais de 23 mil estudantes de graduação, oferta mais de 60 mestrados e doutorados e, na pandemia, tem desenvolvido mais de cem pesquisas em combate à Covid-19 (Foto: Alexandre Dornelas/UFJF)
Em 2021, a Universidade teve queda de 15,9% em recursos aprovados na Lei de Orçamento Anual do Governo Federal destinados a custeio, que é aquele aplicado para compra de materiais de consumo, oferta de bolsas, diárias, contratação de serviços e outros itens.
O montante caiu de R$ 75 milhões, em 2020, para R$ 63,1 milhões em 2021. Uma diferença de R$ 11,9 milhões. Se comparada com 2019, quando havia aulas presenciais e o orçamento era de R$ 77,4 milhões, a queda é mais acentuada, de 18,5%, chegando a R$ 14,3 milhões.
2019 | 2020 | 2021 | Redução |
R$ 77,4 milhões | R$ 75 milhões | R$ 63,1 milhões
|
– 15,9% 2021/2020
– 18,5% 2021/2019 |
Houve redução também nos recursos obtidos pela própria Universidade, tais como os oriundos de aplicações de exames realizados pelo Centro de Políticas Públicas e Avaliação da Educação (Caed), de royalties de patentes e de financiamentos externos para pesquisa. Em 2019, a instituição conseguiu captar R$ 25,9 milhões. Mas com a pandemia ocasionando o cancelamento de avaliações e projetos, houve queda para R$ 8,6 milhões em 2020. Já para 2021, há a meta de se obter R$ 10, 3 milhões – montante 60% inferior ao de dois anos atrás.
2019 | 2020 | 2021 | Redução |
R$ 25,9 milhões | R$ 8,6 milhões | R$ 10,3 milhões
|
– 16,6% 2021/2020
– 60% 2021/2019 |
Somando os recursos da União, de R$ 63,1 milhões, a verba de captação própria, de R$ 10, 3 milhões, e o saldo positivo de restos a pagar de 2020, de R$ 11,4 milhões, a UFJF tem previstos para 2021 R$ 84, 9 milhões. Os gastos, no entanto, mesmo com ajustes, chegam a R$ 90,4 milhões. A dívida para 2022, de R$ 5 milhões, é ainda acrescida de R$ 1 milhão para poder manter o Plano Nacional de Assistência Estudantil (Pnaes), que atende estudantes em condições de vulnerabilidade socioeconômica, com auxílios para moradia, inclusão digital, alimentação e outros.
A despesa estimada de R$ 90,4 milhões para 2021 é inferior à dos dois últimos anos. Em 2020, a UFJF executou R$ 96,6 milhões. Em 2019, R$ 124,1 milhões.
A UFJF possui mais de 23 mil estudantes de graduação matriculados em cursos presenciais e a distância nos campi de Juiz de Fora e de Governador Valadares, com qualidade reconhecida em avaliações nacionais e internacionais. Na pós-graduação, são ofertados mais de 60 mestrados e doutorados. São mais de 500 projetos de extensão, voltados desde a saúde e ao esporte à engenharia e à educação ambiental no Jardim Botânico.
A Universidade ainda é responsável pela maioria dos principais equipamentos culturais de Juiz de Fora, como Cine-Theatro Central, Museu de Arte Murilo Mendes e Forum da Cultura. Na pesquisa, somente em relação à pandemia de Covid-19, são mais de cem estudos desenvolvidos. Firma-se ainda como importante polo de desenvolvimento tecnológico, social e econômico.
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