A Mata Atlântica é um dos biomas mais ricos em biodiversidade de todo o mundo. A floresta desse bioma cobre cerca de 15% do território brasileiro. O lamentável é que, segundo dados da organização SOS Mata Atlântica, quase 90% da área original já foi perdida, ocasionando em uma forte ameaça de extinção dessa diversidade. Para mapear e identificar as espécies de plantas ameaçadas da floresta, um projeto do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq/ICMBio/FAPs) reuniu botânicos de nove instituições nacionais.
Um grupo de pesquisadores da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) colaborou com o projeto “Redescobrindo espécies ameaçadas em UCs da Floresta Atlântica: bases para gestão, conservação e acesso à informação”. A iniciativa impacta diretamente na preservação ambiental e no conhecimento e na gestão de dados científicos sobre a floresta. O trabalho resultou em listas de espécies da flora de cada unidade de conservação. As espécies identificadas complementam o Catálogo de Plantas das Unidades de Conservação do Brasil.
Desenvolvimento do projeto
Durante os anos de 2018 e 2020, os pesquisadores realizaram uma ampla análise das coleções presentes nos herbários – que são coleções de plantas usadas para fins científicos – das instituições. Utilizaram esses acervos botânicos relativos às unidades de conversação, identificando e atualizando o cadastro das espécies. Todo o material coletado foi certificado por especialistas de cada grupo taxonômico.
“Além da consulta aos herbários das instituições, foram analisadas as imagens das exsicatas (que é uma amostra de planta ou alga) em alta resolução, disponíveis no Herbário Virtual Reflora e do Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Com isso, foram produzidas as listas de espécies da flora para cada unidade de conservação”, explica a pesquisadora convidada do Instituto de Ciências Biológicas (ICB/UFJF) e integrante do projeto, Fátima Salimena.
O projeto também contou com uma fase de coleta em campo na unidade de conservação federal da Floresta Nacional do Rio Preto, localizada no Espírito Santo. A pesquisadora explica que foram realizadas várias expedições à unidade, entre 2018 e 2019, pela pouca representação de material da flora nos acervos das instituições. “A coleta do material botânico foi feita a fim de incrementar o acervo da flora desta UC que era pouco representada nas coleções e praticamente desconhecida”, complementa.
A UFJF contribuiu também com o material do Herbário Leopoldo Krieger (CESJ), que abriga a coleção de plantas da região do Parque Nacional do Caparaó – iniciada em 1980. Fátima afirma que os dados da Universidade foram uma sustentação importante para o projeto.
“A colaboração se deu desde a fase de elaboração do projeto, da análise das imagens e coleções de herbários virtuais para identificação das espécies e análise dos status de conservação dos táxons, até a elaboração das listas de diferentes famílias de plantas para cada unidade de conservação”, diz.
Os pesquisadores do departamento de botânica da UFJF Luiz Menini Neto e Vinícius Dittrich, assim como ex-alunos do Programa de Pós-graduação em Biodiversidade e Conservação da Natureza, também colaboraram com o projeto.
“Este projeto reforça a importância de disponibilizar o conhecimento gerado em décadas de pesquisas realizadas pelas instituições, de forma acessível e dinâmica para o público especializado (gestores, pesquisadores, educadores, alunos de graduação/pós graduação, técnicos e outros) e para o público geral (comunidades locais e visitantes das UCs). Com base nos artigos publicados e na produção das listagens para cada UC acompanhada do status de conservação dos táxons, é possível a implantação de políticas de conservação mais eficientes”, considera a pesquisadora.
Também integraram o projeto os botânicos da área de Taxonomia das instituições: Universidade Federal do Espírito Santo (UFES); Jardim Botânico do Rio de Janeiro (JBRJ); Universidade Federal do Paraná (UFPR); Centro de Pesquisas do Cacau (CEPEC); Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG); Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC); Universidade de Vila Velha (UVV) e Universidade de São Paulo (USP).