Pesquisadores do Centro de Estudos em Microbiologia (Cemic) do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) detectaram nesta quarta, de maneira preliminar, a presença das variantes britânica (B.1.1.7.) e brasileira (P.1.) do coronavírus em Juiz de Fora. O grupo selecionou aleatoriamente cinco amostras positivas da doença colhidas em fevereiro e, após análise, confirmou a circulação das novas variantes no município.

“Vamos tentar mapear o caminho dessas variantes para saber quando chegaram aqui e tentar reconstruir a história da pandemia na região, sob esse ponto de vista.”

Genotipagem de amostras

Com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig), o Cemic trabalha em três frentes de combate a Covid-19 no município: diagnóstico, pesquisa para mapeamento do vírus em Juiz de Fora e desenvolvimento de uma vacina oral. Uma das formas de mapear o caminho do vírus em um local é através do sequenciamento – técnicas para determinar como o genoma de determinado ser vivo é montado – do material genético do vírus encontrado nas amostras. Mas, com o aumento de casos e piora do quadro epidêmico na cidade, os pesquisadores decidiram realizar, primeiramente, a genotipagem das amostras. “A genotipagem busca diretamente regiões específicas já determinadas do genoma que estão relacionadas, de maneira diferencial, às variantes do coronavírus”, explica Cláudio Galuppo, um dos pesquisadores envolvidos no estudo.

A partir da genotipagem, o grupo conseguiu comparar as cinco amostras selecionadas com a estrutura dos vírus da linhagem britânica e da amazônica, detectando a presença dessas variantes no município. “Estamos começando de trás para frente. Vamos tentar mapear o caminho dessas variantes para saber quando chegaram aqui e tentar reconstruir a história da pandemia na região, sob esse ponto de vista”, destaca Galuppo. Essa técnica, aliada ao sequenciamento posterior ainda possibilita a descoberta de, eventuais, novas variantes que ainda não foram identificadas. O grupo continua a pesquisa com mais amostras e, posteriormente, vai seguir para o sequenciamento de material genético daqueles casos não identificados na genotipagem.

“Saber que elas (variantes do vírus) estão circulando em Juiz de Fora significa que temos que nos precaver com mais eficiência. Precisamos conscientizar as pessoas que neste momento é mais fácil pegar a doença”, afirma Galuppo.

Variantes são mais agressivas e circulam mais rápido

Pesquisa da University of Bristol em parceria com a University of Exeter no Reino Unido agora sugerem que o aumento do risco de mortalidade da variante britânica em comparação com o SARS-CoV-2 pode chegar a 64%. Já a linhagem brasileira pode ser de 1,4 a 2,2 vezes mais transmissível que as outras, de acordo com artigo do Centro Brasil-Reino Unido para Descoberta, Diagnóstico, Genômica e Epidemiologia de Arbovírus (Cadde). “Saber que elas estão circulando em Juiz de Fora significa que temos que nos precaver com mais eficiência. Precisamos conscientizar as pessoas que neste momento é mais fácil pegar a doença”, afirma Galuppo.

As vacinas atualmente aplicadas em Juiz de Fora – Coronavac e a de Oxford – são eficazes contra as variantes, porém, as medidas de isolamento social, uso de máscaras e higienização das mãos ainda são indispensáveis para o controle da pandemia no município. “Com essas novas informações reafirmamos a importância de políticas públicas de saúde como o isolamento social, a previsão de ocupação de leitos e medidas sanitárias. Tendo essas informações, o comitê de gestão pública pode ajustar as políticas e até criar novas baseadas no andamento da pandemia na cidade”, revela o pesquisador.

As vacinas atualmente aplicadas em Juiz de Fora – Coronavac e a de Oxford – são eficazes contra as variantes, porém, as medidas de isolamento social, uso de máscaras e higienização das mãos ainda são indispensáveis para o controle da pandemia no município.

Diagnóstico

O diagnóstico acontece desde abril de 2020 em parceria com a Prefeitura de Juiz de Fora (PJF), a divulgação é feita semanalmente e os números informados são referentes às amostras recebidas. “A pesquisa para mapeamento das novas linhagens não faz parte do diagnóstico institucional. Esses dados não compõem os laudos de pacientes”, esclarece Galuppo. Acrescenta que o anonimato será garantido por causa de protocolos éticos de pesquisa.

Os estudos são desenvolvidos pelos pesquisadores Cláudio Galuppo, Vania Lucia da Silva, Vanessa Cordeiro Dias, Alessandra Machado, e Aripuanã Sakurada Watanabe.