Foi publicada a Nota Técnica 17 do Grupo de Modelagem Epidemiológica para a Covid-19, parte de uma iniciativa de parceria entre a Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) e a Prefeitura de Juiz de Fora (PJF). O grupo produz notas técnicas periódicas desde março de 2020. A nova edição mostra uma análise do cenário atual do município e estima projeções da ocupação de leitos. O período dos dados verificados foi de 30 de março de 2020 até 6 de março de 2021.
A pandemia passa pelo seu pior momento no Brasil desde que foi declarado o seu início em março de 2020, tanto em número de registros de casos, quanto do número de vidas perdidas. Apenas na 9ª semana epidemiológica – 28 de fevereiro a 6 de março de 2021- foram registrados números recordes de 421.604 casos e 10.104 óbitos.
Subnotificação do número de casos
Em Juiz de Fora, desde meados de janeiro, a série de casos suspeitos vem caindo, acompanhado também da queda proporcional no número de casos diários confirmados. Apesar da aparente queda na incidência destes indicadores, desde a semana de 20 de fevereiro de 2021, o número de leitos de enfermaria e UTI ocupados no município vem crescendo de forma semelhante à observada em novembro de 2020, com velocidade diária de 3%. “Nossa expectativa, a princípio, é de que exista uma subnotificação de casos. O poder público só pode divulgar informações que lhe chegam”, esclarece Isabel Leite, uma das autoras do documento.
Segundo Isabel, existem diversas hipóteses para a subnotificação de casos. “Os serviços de saúde, como as unidades básicas, hospitais, redes de urgência, emergência, laboratórios podem estar tendo problemas no fluxo de informação”, aponta. Ela também diz que os esforços para a vacinação podem ter sobrecarregado os profissionais, fazendo com que o monitoramento da doença deixe de ser priorizado, bem como a sobrecarga dos serviços. “Nós temos que ter em mente que a vacinação é importantíssima, mas não pode estar dissociada do processo de vigilância e monitoramento de casos”, alerta.
De acordo com a pesquisadora, com a chegada da vacina, a mídia passou a dar mais destaque para essa novidade e diminuiu a frequência de recomendação de medidas de distanciamento, isolamento, uso de máscaras e lavagem de mãos. Da mesma forma, a população diminuiu o cuidado com essas medidas. “Da parte da população, a própria motivação pela vacinação pode estar fazendo com que ela não busque tão prontamente o serviço de saúde frente aos primeiros sintomas”, afirma.
A importância de medidas de contenção mesmo com a vacinação
Até o dia 10 de março haviam sido aplicadas 41.146 doses das vacinas, sendo 25.542 primeiras doses e 15.604 segundas doses. As aplicações estão limitadas, até o momento, a profissionais da área de saúde e idosos com idades avançadas. Segundo a nota, considerando imunizadas as pessoas que já receberam as duas doses das vacinas, estima-se que até o momento apenas 2,72% da população do município esteja com proteção contra a Covid-19. O grupo considera que o número de doses de vacinas disponibilizadas ainda é muito limitado, e destaca a urgência da ampliação da vacinação e disponibilização de vacinas de outros laboratórios que já tenham concluído com sucesso os seus estudos de eficácia e segurança na rede pública.
“Temos que reforçar as medidas reconhecidas pelas evidências científicas, como o isolamento social, o uso de máscara e lavagem de mãos”, lembra Isabel. A nota ainda sugere a manutenção de medidas restritivas mais drásticas e efetivas, mantendo apenas o essencial para que a sociedade possa ter acesso a alimentos, medicações e atendimento médico e hospitalar. Um exemplo abordado é o de Araraquara, município do estado de São Paulo, que mostrou queda de 76% nos casos confirmados após duas semanas de lockdown completo, inclusive com fechamento e funcionamento limitado de alguns serviços tidos como essenciais.
“É indispensável que o poder público busque formas possíveis de controle da situação, o que, infelizmente, não descarta a opção de adotar medidas mais drásticas, que realmente garantam o isolamento social. Claramente, o estrangulamento dos sistemas de saúde, observado recentemente na região Norte do país e, na sequência, em diversas outras regiões, está chegando até nós”, conclui Isabel.
Confira a nota na íntegra