Na edição deste ano do Programa de Ingresso Seletivo Misto (Pism), oito vezes mais candidatos poderão ir a pé até seus locais de prova em Juiz de Fora, impactando diretamente o percurso de aproximadamente 3.700 estudantes. A otimização da alocação dos alunos, obtida por meio da geolocalização dos respectivos endereços, foi possível por meio do estudo desenvolvido pelo servidor da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Thiago Edmar. Em 2020, o percentual de estudantes com uma distância rapidamente percorrida entre suas residências e os locais do exame representava 1,7% dos candidatos. Já em 2021, esse número, referente aos inscritos nos três módulos do processo seletivo, subiu para 12,62%.
A aplicação da nova metodologia, além de diminuir as distâncias percorridas pelos participantes do Pism, também reduz engarrafamentos, bem como a poluição atmosférica e sonora. “Através dos endereços dos candidatos e dos locais de prova, coletamos as distâncias reais entre um e outro através de um Serviço de Informação Geográfica e, em posse desse grande volume de dados – que está na casa dos milhões –, nós o utilizamos em um modelo matemático original que, por meio de extenso cálculo computacional, aloca os estudantes em locais adequados, sempre com o objetivo de reduzir a distância percorrida pelos candidatos”, explica Thiago Edmar.
“O trabalho desenvolvido pelo Thiago é muito relevante, tanto pelos impactos na redução da circulação dos candidatos, quanto pelo fato de ser um trabalho inédito no âmbito da organização dos nossos processos seletivos”, aponta o pró-reitor de Graduação da UFJF, Cassiano Amorim. “Com essa metodologia, ao diminuir o tempo e a distância do deslocamento dos estudantes, também esperamos contribuir para a redução da ansiedade dos participantes e a melhoria da logística geral do Pism e da cidade.” A partir desta terça-feira, 9, os candidatos do módulo III do Pism poderão acessar seus comprovantes de inscrição e, com o documento em mãos, saber em qual lugar deverão realizar as provas.
Desenvolvimento da metodologia
Para o estudo, foi realizada uma pesquisa com os estudantes que realizaram o Pism em 2020, em busca de verificar a satisfação com os locais em que fizeram as provas. Cerca de 5.700 candidatos responderam a quatro perguntas objetivas: “qual foi a distância do local de prova até sua casa?” (64% responderam longe ou muito longe); “você ficou satisfeito com essa escolha?” (30% insatisfeitos); “havia outro local de prova mais próximo de sua casa?” (42% afirmaram que sim) e “como você chegará ao local da prova?” (51% responderam que por meio de carro próprio). Com os resultados, ficou clara a necessidade de mudança no processo de alocação do processo seletivo.
A metodologia também foi testada de acordo com os dados das edições de 2019 e 2020: no caso de Juiz de Fora, no ano de 2019, a redução da distância chegaria a cerca de 40%, com menos 56 mil quilômetros de deslocamento. Como parâmetro, os pesquisadores determinaram que os estudantes que morassem a mais de 50 quilômetros dos seus locais de prova, cerca de 55% do total, seriam alocados – mas não teriam suas distâncias consideradas, já que são alunos que viajam para fazer o Pism.
Além da aplicação da nova alocação, a UFJF realizará uma nova pesquisa de satisfação entre os alunos este ano, ao liberar acesso ao comprovante de inscrição. Desta forma, será possível avaliar o impacto da metodologia. Os pesquisadores ressaltam que foi adotado um respeito estrito pelos dados pessoais dos candidatos, tendo em conta a Lei Geral de Proteção de Dados, e melhores práticas no tratamento e salvaguarda de informações privadas. Desta forma, não houve qualquer possibilidade de adquirir ou identificar quaisquer outros dados dos candidatos, além dos endereços, nos processos de seleção consultados. Além disso, para colocar em prática toda a análise dos dados, a pesquisa utilizou somente programas gratuitos. “Minha proposta foi oferecer à UFJF uma metodologia que não tenha qualquer custo para a universidade”, revela Thiago.
Parceria entre UFJF e CTC/Puc-Rio
A metodologia adotada pela UFJF foi desenvolvida pelo servidor Thiago Edmar em seu mestrado em Engenharia de Produção do Centro Técnico Científico da PUC-Rio (CTC/PUC-Rio). Os estudos foram realizados sob orientação do professor Rafael Martinelli, do CTC/PUC-Rio, e coorientação do professor Bruno Milanez, da UFJF. De acordo com Edmar, estão em andamento os procedimentos para efetuar o registro da metodologia em nome dos pesquisadores e instituições envolvidas. A oferta do Mestrado em Engenharia de Produção da PUC-Rio aos alunos da UFJF é resultado do programa de cooperação Mestrado Interinstitucional (Minter). Os professores da PUC-Rio vão a Juiz de Fora para as aulas e são responsáveis pelas orientações dos estudos, enquanto a coorientação é designada a professores da UFJF.
“Nossa intenção é incentivar a criação de um programa de pós-graduação em Engenharia de Produção na UFJF, já que o Estado de Minas Gerais só tem três programas, oferecidos pela Universidade Federal de Minas Gerais, pela Universidade Federal de Itajubá e pela Universidade Federal de Ouro Preto”, aponta Rafael Martinelli. O coorientador da pesquisa, Bruno Milanez, reforça a fala do colega pesquisador, bem como a importância da parceria com a PUC-Rio. “Essa colaboração ajuda a nos fortalecer regionalmente como um pólo de formação e capacitação acadêmica, abrindo oportunidades para o acúmulo e a consolidação de trocas, experiências e pesquisas na área de Engenharia de Produção.”
Outras informações:
Pism III será aplicado nos dias 27 e 28 de fevereiro; módulos I e II são adiados