Se a pandemia da Covid-19 forçou o isolamento entre quatro paredes e propôs distância, o conhecimento se coloca em oposição nesse cenário. No livro “Filosofia em Confinamento”, o professor de filosofia do Colégio de Aplicação João XXIII, Klinger Scoralick, torna evidente o caráter libertador e conectivo do pensamento em tempos tão sombrios. O livro reúne reflexões de 28 autores estrangeiros e brasileiros que propõe uma discussão filosófica sobre temas como racismo, questões indígenas, o papel da filosofia hoje, meio ambiente, direitos humanos e política, em tempos de pandemia. A coletânea está disponível para download gratuitamente.
A proposta do livro, segundo o autor é que ele funcione como uma vacina “contra todo vírus da pós-verdade e necropolítico que habita e resiste entre nós, hoje mais do que nunca”. De acordo com Scoralick não apenas a filosofia, mas todos os saberes devem e podem contribuir, dentro de suas especificidades, para o combate a esse vírus.
“Creio que a pandemia traz uma inquietação que permite que nos coloquemos diante da seguinte questão: nosso pensamento está confinado? Entendo que a pandemia traz com ela uma oportunidade para todos nós, de nos recolocarmos no mundo, de nos reinventarmos a partir da escuta atenta das muitas vozes que hoje, apesar do isolamento, puderam se tornar próximas por meio das redes. Talvez o que precisemos é de um pensamento em rede ou de uma rede de pensamentos reinventada”, afirma o autor.
O livro foi lançado durante a quarentena, em parceria com a produtora cultural Fernanda Sabino, a publicação de 292 páginas conta com autores renomados como Judith Butler, Jean-Luc Nancy, Roberto Esposito e a ex-ministra e professora da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Nilma Lino Gomes. Entre textos traduzidos e publicações exclusivas, “Filosofia em Confinamento” traz diferentes vozes e perspectivas. Segundo Scoralick a intenção foi reunir pessoas de várias nacionalidades e com os olhares mais diversos possíveis sobre as mazelas e angústias que acompanham a pandemia e suas consequências. “O intuito, de certa forma, foi evidenciar a presença de um saber que se mostra confinado, mas não silenciado.”
A ideia do livro surgiu a partir da inquietação do autor pela condição de confinamento e espanto em relação às incertezas que vieram junto com esse processo. Scoralick explica que o cenário político brasileiro de enfrentamento à pandemia reforçou sua inquietação. “Foi uma forma de expressar as inquietações próprias do nosso momento pandêmico, de expurgar um pouco o mal-estar que nos ronda, oferecendo uma contribuição às pessoas mediante essa crise de asfixia no contexto político e sanitário.”
Atualmente cursando doutorado em Filosofia pela Pontifícia Universidade Católica no Rio de Janeiro (PUC-RJ), Scoralick afirma que esse trabalho o motivou a pensar em conexões entre a filosofia e a atualidade, assim como buscar meios para estimular o exercício reflexivo em sala de aula. O livro não possui uma faixa etária específica e está disponível on-line para todos que se interessarem no assunto.