Uma escola de experimentação, demonstração e aplicação. Esse era o espírito da criação do Colégio de Aplicação João XXIII que permanece em prática até hoje, 55 anos após sua fundação pelo professor Murílio de Avellar Hingel. Na época, o então “Ginásio de Aplicação João XXIII”, anexo da Faculdade de Filosofia e Letras (Fafile), contava apenas com a quinta série e com uma turma de 23 alunos.
Em 1971, quando o governo institui a Reforma do Ensino de 1º e 2º Graus através da Lei nº 5692/71, o Ginásio passa a se chamar Colégio de Aplicação João XXIII, mantendo as quatro séries finais do Ensino Fundamental. Com a Reforma Universitária, o Colégio se torna órgão anexo à Faculdade de Educação da UFJF, recebendo corpo administrativo com direção própria.
“Ele era a miniatura da Fafile, era aquela garra, paixão pela camisa”, conta a ex-diretora Lucy Brandão. Ela relembra que, durante sua história, o Colégio João XXIII criou e refletiu várias ações na cidade de Juiz de Fora. De fato, havia uma preocupação em inserir o colégio na comunidade e fazer dos alunos sujeitos neste processo. “Os estudantes não ficavam presos em uma redoma, eles tinham que participar desse mundo.”
“Os estudantes não ficavam presos em uma redoma, eles tinham que participar desse mundo.”
Entre as propostas criativas no ensino, Lucy lembra de experiências que serviram de modelo para outras escolas e instituições. “Uma delas foi a Oficina Literária, focada em saber escrever, saber transmitir. Tivemos a vinda de muitos escritores e pessoas importantes, como o Joel Rufino. Todo evento da Décima Delegacia de Ensino, o João XXIII era convidado a participar. Quando falamos de integração social, lembro também da mobilização do colégio durante a Diretas Já: todos sabiam do que se tratava e discutiam sobre o assunto. No dia da votação, havia um imenso quadro verde com uma flor vermelha, na esperança de que se repetisse a Revolução dos Cravos.”
Segundo a ex-diretora, a integração da Universidade com o Colégio permitiu a abordagem de conteúdos inovadores, ainda na década de 1980, como “treinamento de alfabetização, computador, abordagem geográfica dos focos de tensão no mundo, teoria cognitiva e a prática curricular de reeducação psicomotora”.
“O corpo docente foi muito importante para que as coisas acontecessem, mas o apoio da faculdade e das famílias foi fundamental. O Colégio começou com 23 alunos e quatro anos depois já eram 288”, relembra Lucy. Atualmente, o corpo discente do Colégio de Aplicação João XXIII conta com cerca de 1350 alunos ─ divididos entre 24 turmas de Ensino Fundamental, nove de Ensino Médio, além das oito turmas do Curso de Educação de Jovens e Adultos e duas turmas dos cursos de especialização.
Excelência renovada por alunos e professores
Carolina de Paula Silva foi estudante do João XXIII por dez anos, de 1998 a 2008. Ela conta que “o colégio é um lugar de muita excelência no ensino e de muita qualidade. Por ser uma instituição federal, ele proporciona uma alto nível de conhecimento, e, sendo um colégio público, torna esse conhecimento acessível para todas as pessoas de interesse. Essa diversidade social entre os alunos é sempre enriquecedora.”
Em relação aos professores e suas dinâmicas com os discentes, Carolina relata que “todos os professores eram extremamente profissionais e amigos. Até hoje existem professores que vejo na rua e converso. São profissionais incríveis que nos ensinaram muito não apenas sobre questões práticas que um colégio deve ensinar, mas também sobre a vida. Eles entendiam que a maior parte de nossa infância e adolescência era no próprio colégio, então criavam uma relação de muita cumplicidade.”
Em 2001, Juanito Alexandre Vieira firmou contrato como professor de História no Colégio de Aplicação João XXIII, sendo efetivado em 2003 ─ profissão que exerce até hoje. “Eu busco construir uma relação de bastante diálogo e respeito com os discentes. Como professor de História, o objetivo principal é desenvolver o pensamento crítico do aluno, que precisa promover relações entre o presente e o passado a todo momento. Acredito que essa relação dialógica entre professor e aluno é fundamental para o processo de construção do conhecimento”, afirma ele.
Quando retornei à instituição como docente era como se pudesse retribuir à sociedade, como servidora pública federal, a educação pública de qualidade que me fora ofertada.
Lauriana Paiva, é ex-aluna e atual professora dos anos iniciais do Ensino Fundamental, trabalha no colégio há dez anos. “É difícil falar das melhores experiências e lembranças que vivi no Colégio de Aplicação, a história da instituição perpassa minha história de vida e formação. Quando retornei à instituição como docente era como se pudesse retribuir à sociedade, como servidora pública federal, a educação pública de qualidade que me fora ofertada. A partir do trabalho que desenvolvemos na última década na instituição, tenho minhas melhores lembranças como docente, em especial quando vejo o brilho no olhar dos alunos, ao superarem suas dificuldades no processo de ensino aprendizagem a cada projeto desenvolvido na instituição.”
A professora relata que, como consequência do trabalho desenvolvido no Colégio de Aplicação, juntamente com a professora Liliana Mendes, o João XXIII recebeu prêmios tanto no âmbito nacional quanto internacional, pelo desenvolvimento de projetos de incentivo à leitura. Entre eles, estão Menção Honrosa no Prêmio ILCE para práticas de ensino inovadoras na Ibero-América e no Caribe (2019); Menção Reconhecimento do Prêmio Ricardo Oiticica Cátedra de Leitura da Unesco (2018); finalista no Prêmio Vivaleitura (2016); Prêmio Professores do Brasil com destaque nacional (2013).
“Para além de ser campo de estágio dos licenciandos da UFJF, praticamente a totalidade de docentes da instituição, o colégio atua em funções de ensino e pesquisa que são muito importante para a comunidade educacional da área. Atendemos muitas escolas em parceria através de cursos de extensão de formação continuada. O colégio oferece gratuitamente cursos de especialização lato sensu, desenvolvemos intercâmbios com trocas de experiência e formação entre redes de ensino. O João XXIII tem uma função social e política muito importante no tocante a oferta de uma educação de qualidade para toda região”, finaliza ela.