Inaugurado em 1969, o campus sede da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) é um dos cartões postais mais visitados do município. Desenvolvido pelo engenheiro com alma de arquiteto Arthur Arcuri, a Cidade Universitária é cenário não só para a prática de ensino, pesquisa e extensão, mas pode ser chamada de segunda casa por milhares de estudantes brasileiros que nela estiveram durante os anos. Também é palco cultural, ponto de encontro e lazer de moradores da cidade e região.
Em meados dos anos de 1960, com a federalização de algumas faculdades que ficavam espalhadas pela cidade, a Prefeitura Municipal de Juiz de Fora cedeu um terreno, localizado no bairro de São Pedro, para que pudesse ser iniciada a construção da Cidade Universitária. Junto a doação do espaço, havia uma cláusula obrigatória para que no local também fosse abrigado um colégio de ensino básico para os moradores da região. Atualmente, essa escola pública ainda está em funcionamento e fica próxima a Farmácia Universitária. Veja aqui fotos antigas do campus.
O próprio Arcuri explica como foi o processo de construção do campus na entrevista concedida à produtora de Multimeios da UFJF em 2007. “Quando a Prefeitura cedeu essa área para o campus, o reitor Moacyr Borges de Mattos definiu uma comissão para decidir quais trabalhos deveriam ser realizados no campus. Essa comissão foi formada por mim, pelo doutor João Villaça e pelo professor da Faculdade de Economia, Murilo Amaral. Fizemos uma visita ao terreno, ele não havia nada, nem ao menos árvores, apenas o lago, pois embaixo da Biblioteca há uma nascente que foi drenada antes da construção do prédio”, relata o engenheiro.
A escolha por Arcuri
Apesar de não ter consultado nenhum participante da comissão, Moacyr Borges de Mattos contratou um arquiteto para desenvolver um projeto para a Cidade Universitária. Segundo Arcuri, após ter a proposta em mãos, o reitor reuniu-se, juntamente ao profissional, e aos demais envolvidos para que ela fosse apresentada. “Todo mundo admirou o desenho, mas, no fim, quando o reitor perguntou a minha opinião, respondi que achava que o projeto era acadêmico, não-funcional, entre outros adjetivos não apreciativos.”
Diante desse cenário, Mattos transfere a responsabilidade da criação do projeto do campus para Arcuri em busca de um trabalho funcional e econômico. O engenheiro conta que, já em posse da planta topográfica, se espelhou em Ouro Preto e optou por construções que não mexessem muito no terreno. A partir dessa perspectiva, definiu que a Universidade seria composta apenas por Escolas – antigo nome dado às faculdades -, pois à época, ainda não existiam os institutos. Na projeção, os prédios seguem a topografia do terreno firme, com fundações normais e sem estacas. Além disso, o espaço foi desenvolvido para que existisse interação entre a comunidade acadêmica e a sociedade.
Coincidentemente, naquela mesma época, Arcuri relata que o consultor norte-americano, Rudolph Atcon, veio ao país para orientar ao governo brasileiro um modo de incluir a reforma universitária e separar as faculdades, de um modo que aulas básicas, como, por exemplo, História da Arte, ficassem em um espaço diferenciado das Escolas.
“Como antigamente só havia a entrada do bairro São Pedro, no lado direito joguei só o que era básico, como o Instituto de Ciências Humanas e Letras (ICHL). A escola de Engenharia ficou próxima a esses institutos porque era uma área maior e, na época, o Brasil estava se desenvolvendo e tudo fazia crer que a engenharia seria uma das profissões mais necessárias para o país. No projeto, na área central, deixei um espaço para lazer da comunidade, encontro entre professores e alunos. Antigamente, o lago era maior e desviamos ele. Feito isso, apresentei um memorial explicativo ao Almir de Oliveira, e para um outro, que apresentaram o projeto ao conselho universitário e ele foi o escolhido”, explica.
Apesar do período de Regime Militar, Arcuri aponta que não houve interferência do governo durante a construção do campus. “O projeto foi aprovado pelo Ministério. Houve uma coincidência entre a construção do campus e a Reforma Universitária e veio um americano, o Atcon, para nos orientar. Ele esteve em Juiz de Fora, mas fez uma crítica favorável à UFJF, dizendo que ela estava melhor do que as demais. No meu projeto inicial havia um clube para professores e para estudantes, mas na época falar em grupo de estudantes era ir contra o governo.”
De acordo com Arthur Arcuri, um engenheiro de São Paulo também se propôs a oferecer um projeto ao campus. No entanto, estando com as plantas em mãos, depois de alguns meses devolveu com um plano urbanístico igual ao desenvolvido pelo juiz-forano, porém, com o acréscimo de um novo prédio, próximo a faculdade de Comunicação. “Eu imaginei de anexar nele [no prédio próximo à faculdade de Comunicação], a reitoria, e a biblioteca no mesmo andar que o restaurante, pois no tempo de folga, o aluno poderia aproveitar para ter acesso às revistas, porém isso não foi feito. O Moacyr criou uma comissão para desenvolver o meu projeto e nos reuníamos, às vezes, até as 23 horas para definir o que fazer.”
No entanto, com a mudança de reitor, algumas modificações foram realizadas. Com o reitorado do professor João Martins, entre 1972 e 1976, a Biblioteca Central acabou sendo projetada no espaço que se encontra até o momento. “Naquele ponto, antes nós pensávamos mais em um Jardim, uma igreja ecumênica e espaços para congregar os professores juntos aos alunos e até mesmo com a população. A construção começou baseada no meu projeto, já o resto foi projetado por Nicolau Lençóis que era o engenheiro da Universidade.”
*Os dados da matéria são baseados nos relato dado pelo engenheiro Arthur Arcuri ao projeto Memória da Produtora de Multimeios da UFJF. Confira na íntegra a entrevista.
Arthur Arcuri
Arthur Arcuri, nascido em 26 de fevereiro de 1913, era o filho caçula de Pantaleone Arcuri, imigrante italiano que instalou na cidade de Juiz de Fora (MG), em 1895, uma companhia que, na época, era a principal indústria da construção civil da região. Seguindo os passos da família, Arthur formou-se em Engenharia Civil pela Escola Nacional de Engenharia e frequentou também a Escola de Arquitetura.
Durante a carreira, foi responsável pela projeção de fábricas, edifícios, clubes e, principalmente, residências com jardins internos. O trabalho do engenheiro chegaram a integrar a 1ª Mostra de Arquitetura Contemporânea Brasileira, em 1952, no Rio de Janeiro, e foram apresentados em mostras de Paris, Londres e outras capitais europeias.
O juiz-forano conviveu com outros expoentes do modernismo a exemplo de Oscar Niemeyer, Lúcio Costa, Burle Marx e Candido Portinari, que por sua influência, é autor dos painéis “As quatro estações” e “Cavalos” presentes no Edifício Clube Juiz de Fora. Foi também amigo de Murilo Mendes, Carlos Drummond de Andrade e de João Guimarães Vieira, o Guima. Na UFJF participou da Comissão de Planejamento da Cidade Universitária (Coplaciu) e da Comissão de Reforma Universitária. Arcuri faleceu em 2010, aos 97 anos.
UFJF 60 anos
Para celebrar a data, a Diretoria de Imagem Institucional traz a proposta de recordar os mais diversos momentos vividos pela comunidade acadêmica ao longo dos 60 anos. A iniciativa consiste em envolver as pessoas da comunidade para compartilharem suas recordações pelo e-mail ufjf60@comunicacao.ufjf.br ou pelas redes sociais usando a #UFJF60anos.
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