Abrindo a programação da IV Semana Rainbow da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), o professor de História Latino-Americana da Universidade de Brown (EUA), James Green, é a personalidade convidada para tratar o tema “A comunidade LGBTTTIQ+ no enfrentamento à pandemia e ao contexto político e social”. A conferência de abertura acontece nesta segunda-feira, 10, às 20h, e pode ser acompanhada pelo Youtube.
No evento, James Green, que é autoridade sobre o ativismo LGBTQIA+, aborda questões relacionadas ao tema central e também traz relatos sobre as próprias experiências na participação em alguns movimentos em prol da comunidade. A conversa será mediada pelo professor da Faculdade de Educação (Faced) e diretor do Grupo de Estudos e Pesquisas em Gênero, Sexualidade, Educação e Diversidade (Gesed), Anderson Ferrari.
De acordo com o coordenador do projeto, Marcelo Carmo Rodrigues, a presença de James Green fortalece o evento por três motivos. “O fato de termos uma conferência internacional com um dos grandes representantes e estudiosos do movimento brasileiro; a possibilidade de termos um convidado estrangeiro que, por razões orçamentárias, não imaginávamos que pudéssemos, sobretudo nesse momento de pandemia; e a ampliação da nossa rede, uma vez que conferências como essa automaticamente despertam o interesse de um grande público.”
James Green
Atualmente, aos 69 anos, Green é referência em estudos relacionados às causas políticas e LGBTQIA+. Viveu no Brasil entre 1976 e 1982, momento em que integrou diversas organizações políticas e identitárias, como o Grupo Somos de Afirmação Homossexual (Somos). No momento é co-coordenador nacional da Rede dos EUA para a Democracia no Brasil, procurando articular um movimento de solidariedade internacional ao país sul-americano.
O também escritor e jornalista possui um série de livros relacionados às homossexualidades e às identidades de gênero e sexuais. É especialista em estudos da homocultura brasileira, e vencedor de três prêmios: o Hubert Herring, do Conselho de Estudos Latino-Americanos na Costa do Pacífico em 1999; de Literatura Lambda, da Fundação Paul Monette-Roger Horwitz no ano 2000, e o Prêmio Literário de Cidadania em Respeito à Diversidade, em São Paulo, em 2001.
Confira a entrevista com James Green.
Portal UFJF: Qual a importância de tratarmos os direitos e de relembrarmos a luta da comunidade LGBTQIA+ no cenário atual?
A eleição de Donald Trump, em 2016, e a eleição de Jair Bolsonaro, dois anos depois, são reflexões sobre uma tendência internacional de eleger governos autoritários de direita com base em um programa conservador que inclui a derrubada de todas as mudanças sociais e culturais progressivas que ocorreram globalmente desde a década de 1960. Isso inclui os direitos das mulheres, dos LGBTQIA+ e traz uma crítica séria ao racismo e à desigualdade social.
Trump e Bolsonaro também estão alinhados com os interesses capitalistas que desejam desmantelar os serviços sociais e a social-democracia (no sentido europeu, não do PSDB) que garante emprego, assistência médica, moradia e boa educação pública. Além disso, esses movimentos reacionários se alinharam aos cristãos fundamentalistas de direita com uma agenda moral conservadora semelhante, que vê os direitos LGBTQIA+ como um alvo principal.
É de fundamental importância que nos unamos a outras forças contra esses ataques de direita que visam tirar todos os avanços que alcançamos em todo o mundo nos últimos 50 anos e no Brasil nos últimos 42 anos, desde a fundação da Somos: Grupo de Afirmação Homossexual em São Paulo, em maio de 1978, e da publicação de Lampião da Esquina em abril do mesmo ano.
Portal UFJF: De acordo com a sua perspectiva, como a comunidade LGBTQIA+ tem encarado à pandemia dentro do contexto político e social?
Embora a Covid-19 possa infectar qualquer indivíduo, sabemos que as pessoas mais vulneráveis são aquelas de idade avançada, com situações de saúde precárias e em condições socioeconômicas mais baixas, o que tanto nos Estados Unidos quanto no Brasil, significam em grande parte que são os não-brancos. Nos EUA, os que morreram, ou estão muito doentes, foram em grande parte idosos, afro-americanos, latinos e indígenas. No Brasil, há um impacto demográfico semelhante.
As pessoas LGBTQIA+ são de todas as classes socioeconômicas, mas o impacto nelas é diferente. Gays, transexuais ou lésbicas pobres estão em maior risco, assim como os idosos. Já aqueles de uma classe média confortável, que têm empregos que lhes permitem trabalhar em casa, são obviamente afetados de maneira diferente daqueles que vivem com suas famílias em condições de lotação e com empregos mais precários.
Portal UFJF: Como os diversos segmentos da sociedade devem enfrentar os tabus relacionados aos mais diversos preconceitos, como os de racismo e sexismo?
Dentro de uma ampla frente democrática, é importante pensar estrategicamente em apoiar forças em favor de um futuro governo, que não apenas faça com que os LGBTQIA+ sejam uma parte integral de qualquer programa, mas também trate dos problemas socioeconômicos que afetam a grande maioria da comunidade, que não pertence à classe média alta. O movimento também deve deixar claro que a luta republicana por um estado laico deve ser um de seus pontos claros de unidade. Não somos contra a religião, mas as crenças religiosas não devem ser impostas à sociedade.
Portal UFJF: Como um evento como a IV Semana Rainbow da UFJF pode inspirar as pessoas e transformar realidades?
A pandemia criou um sentimento de isolamento e de separação. Portanto, todas as iniciativas que incentivam conexão, interação e conversas são positivas neste momento. O Brasil está passando pela pior crise de sua história, econômica, política e sanitária. A IV Semana Rainbow é uma oportunidade para as pessoas se reunirem, sentirem apoio e força, além de otimismo em continuar lutando por todos os nossos direitos.
Confira a programação completa da IV Semana Rainbow.
Segunda-feira, 10 de agosto
Tema: A comunidade LGBTTTIQ+ no enfrentamento à pandemia e ao contexto político e social
20h – Conferência de abertura: James Green. A comunidade LGBTTTIQ+ no enfrentamento à pandemia e ao contexto político e social
20h50 – Exibição do curta-metragem “Queer I”
21h – Teatro do Indivíduo convida!
21h20 – Olhar diverso. Mostra dos projetos aprovados nos editais
21h30 – Show Felizes, com a cantora convidada, Valéria Barcellos
Outras informações
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