Desde o início do afastamento social, a Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares (Intecoop) da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) vem adaptando suas atividades para a esfera virtual, tornando-as possíveis de serem realizadas remotamente. Estão sendo acompanhados grupos ligados à reciclagem, artesanato, agroecologia, entre outros coletivos de trabalhadores da economia solidária.
Bolsistas e consultores vinculados ao programa, ligado à Pró-Reitoria de Extensão, estão capacitando os integrantes dos grupos assessorados por meio das plataformas digitais. São feitas semanalmente reuniões virtuais para discutir as atividades de cada frente e cada grupo, mobilizando e articulando suas formas de trabalho.
Para o coordenador de Ações e Extensões da Proex,, Diogo Mendes, manter a continuidade dos trabalhos desenvolvidos pela Intecoop é fundamental no contexto da pandemia. “É um momento em que ainda mais os trabalhadores dos coletivos atendidos pela Intecoop precisam desenvolver alternativas e soluções para continuarem desenvolvendo seus trabalhos e comercializando seus produtos, oportunizando assim a geração de renda num momento social tão delicado que nosso país passa.”
Além das reuniões, os bolsistas do projeto de extensão, graduação e pós-graduação receberam textos acadêmicos e foram estimulados a participar de cursos on-line. O objetivo é que, mensalmente, produzam resenhas do material estudado e proponham soluções para os problemas de cada um dos grupos populares.
O consultor da Intecoop, Luiz Felipe Falcão, diz que o contato entre equipe e trabalhadores se tornou mais potente do que o previsto. “Inicialmente, não sabíamos muito bem como as coisas ficariam e se as reuniões seriam eficientes. Mas acredito que os problemas vivenciados, as preocupações por subsistência, trabalho, estudo e as ansiedades foram partilhadas e houve um ganho de empatia e busca por ajuda mútua e incentivo. Eu senti uma equipe unida e com vontade de mudar a realidade”, conta.
A estudante do terceiro período de Direito, Victória Gonçalves, é responsável por acompanhar o grupo que estuda a elaboração de uma troca de saberes entre Universidade e comunidade. Segundo ela, “como bolsista responsável pela Troca de Saberes 2021, um evento que tem como foco socializar o conhecimento dos grupos populares, a experiência remota se concentra em forma de cuidado. Afinal, grupos que tiveram o cuidado de preservar seus conhecimentos por tanto tempo merecem a atenção necessária para continuarem esse trabalho. Nesse sentido, as demandas levantadas por cada membro têm sido solucionadas como uma maneira de cuidar de cada um.”.
As ações da Intecoop
Atualmente, a Intecoop/UFJF acompanha oito grupos distribuídos entre as frentes de Agroecologia, Artesanato e Recicláveis e Movimentos Sociais, o que envolve mais de 250 trabalhadores. Para a também consultora da Incubadora, Juliana Macário, o “acompanhamento mesmo que remoto dos grupos é fundamental para a articulação das políticas públicas de economia solidária na região. Nosso maior desafio é fazer com que as pessoas dos grupos acompanhados se mantenham ativas no movimento, esperançosas e participativas em relação a sua atividade de geração de renda e também nas atividades que promovem a relação de coletividade entre os envolvidos na ECOSOL.”
Entre as atividades realizadas, destaca-se a participação no Fórum de Segurança Alimentar de Juiz de Fora, uma iniciativa criada por diversos setores da sociedade com o objetivo de assegurar a alimentação de qualidade e promover nutrição adequada à população. Foram planejadas também ações com grupos incubados, como o MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Terra), que produz hortaliças e legumes, o grupo de produtores orgânicos (Mogico) e também a feira de produtos livres de glúten e lactose (É Daqui). Esses coletivos passaram a comercializar de maneira virtual e realizar entregas a domicílio, com o excedente sendo direcionado à famílias que precisem desses alimentos.
Outra iniciativa são as reuniões de articulação do Fórum Regional, que acontecem quinzenalmente e envolvem grupos, cooperativas e associações de 11 cidades da Zona da Mata sob a orientação da Intecoop/UFJF. Os encontros realizam a formação contínua em Economia Popular Solidária e discutem políticas públicas e estratégias de enfrentamento no âmbito da Economia Solidária. Em uma dessas reuniões, foi pensada e desenvolvida a feira de artesanato virtual do grupo Fecosol (Feira da Economia Solidária).
De acordo com Eliza Bertildes, presidente de um dos grupos de artesanato, o início do período de isolamento foi muito angustiante para todos, já que não se podia trabalhar nem realizar as feiras. “As pessoas ficaram apavoradas e inseguras sem saber de como seria. Da necessidade de ter que aumentar a autoestima à vontade de encontrar soluções. No contato diário com as pessoas da associação tivemos a ideia de fazer esta feira. O grupo nunca esteve tão unido. O vínculo criado e a amizade têm sido um estímulo e tanto para continuar”, completa.
A equipe da Intecoop também colaborou com a semana de lançamento da semana Rainbow, produzindo material para os kits distribuídos e articulando um diálogo de formação sobre a temática do evento. Diversas outras atividades podem ser pontuadas, como a realização da Oficina de Saúde e Segurança no Trabalho em Tempos de Pandemia para os catadores de materiais recicláveis, em Recreio, ação conjunta com uma campanha de conscientização sobre coleta seletiva no município.
Por fim, outra conquista foi a conclusão da etapa de organização e formalização da Organização Participativa de Avaliação da Conformidade (Opac). A Opac é uma junção de produtores orgânicos que certificam novos produtores a partir da observação das práticas de cultivo e manejo, uma iniciativa inédita na Zona da Mata. Os bolsistas responsáveis articulam o grupo em discussões semanais sobre temáticas relacionadas à agroecologia e alimentos orgânicos, promovendo uma maior mobilização em tempo de isolamento social e agregando conhecimentos para a execução das atividades.