UFJF é responsável por mais de 90% das amostras coletadas na cidade (Foto: Alexandre Dornelas/UFJF)

UFJF é responsável por mais de 90% das amostras coletadas na cidade (Foto: Alexandre Dornelas/UFJF)

Uma equipe composta por oito professores da Faculdade de Enfermagem e uma enfermeira da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) têm atuado na linha de frente na coleta de amostras do trato respiratório superior para a realização do teste molecular RT-PCR em pessoas com suspeita de contágio pela Covid-19 na cidade. A ação é desenvolvida em parceria com a Prefeitura de Juiz de Fora (PJF).

O trabalho de vigilância epidemiológica, que investiga, notifica e monitora os casos suspeitos e confirmados, é essencial para interromper a rota de transmissão do SARS-CoV-2, pois possibilita identificar os infectados e isolá-los para evitar a transmissão, auxiliar na elaboração de ações estratégicas imediatas e balizar a tomada de decisões futuras baseadas em evidências. “Por trás da equipe que vai coletar o material, há outra responsável em cuidar de nós e nos entregar os equipamentos de proteção individual que são os pijamas cirúrgicos, as máscaras e o material que utilizamos. É uma equipe muito grande para fazer tudo isso funcionar”, observa a professora da Faculdade de Enfermagem, Erika Andrade.

Em Juiz de Fora, os indivíduos que apresentam sintomas de síndrome gripal são atendidos nas Unidades Básicas de Saúde (UBS) responsáveis pelas notificações da doença. Após o agendamento, feito pela pasta, as testagens são realizadas em quatro UBS da cidade, nos domicílios de pessoas com dificuldades de locomoção e acamadas e nas instituições de longa permanência de idosos, sejam elas públicas, privadas ou filantrópicas.

“Retiramos amostras de secreções da nasofaringe e orofaringe, ou seja, o material é obtido da mucosa do fundo do nariz e da garganta com uso de uma haste flexível (swab), semelhante a um cotonete. Depois de coletadas, são encaminhadas para os laboratórios da UFJF, do Centro de Estudos em Microbiologia (Cemic) e para a Faculdade de Farmácia”, explica a enfermeira da UFJF, Valesca Nunes dos Reis.

Por meio desses testes, é possível mostrar a incidência do vírus em Juiz de Fora e, junto à Prefeitura, desenvolver ações de prevenção à doença e ajustar informações, como, os novos números de casos. Segundo a também professora da Faculdade de Enfermagem, Luciane Ribeiro de Faria, além da equipe da UFJF, também atua na iniciativa uma enfermeira disponibilizada pela PJF. “A universidade está sendo responsável por mais 90% das amostras que estão sendo coletadas. Acredito que sem o nosso trabalho, não teríamos essa quantidade de exames sendo realizadas diariamente.”

Desafios

“O cuidado em saúde, pautado no rigor técnico e científico, exige criatividade e inovação”, Valesca Nunes dos Reis, enfermeira.

Para Valesca é desafiador manter o compromisso profissional, ético e humano com a saúde dos indivíduos, famílias e comunidades em um universo desconhecido, repleto de incertezas e restrições. “O cuidado em saúde, pautado no rigor técnico e científico, exige criatividade e inovação, para que possamos promover atenção em saúde em um cenário repleto de limitações, seja pela urgência das ações, pela carência de insumos e pelo terreno desconhecido do novo coronavírus.”

Além dos riscos no desenvolvimento da tarefa, Luciane reitera sobre os aspectos psicológicos implicados. “Há muitas questões emocionais envolvidas na realização dessa atividade e acredito que a mais importante é a preocupação em relação à contaminação dos nossos contatos domiciliares. A maioria de nós tem pais idosos que, além disso, têm outras doenças crônicas que os deixam em um risco ainda maior, pois caso haja contágio, a doença ataca de uma forma mais grave”.

Acolhimento

Durante o processo do recolhimento das amostras, os indivíduos são recebidos pela equipe e orientados sobre como o procedimento é realizado para que possam manter-se calmos e colaborativos. Também são instruídos acerca da retirada adequada da máscara para evitar a contaminação, assim como, a forma correta de colocá-la após o término da conduta. 

“Como o procedimento pode causar algum incômodo e mal-estar, os acolhemos com cuidado e fornecermos o máximo de informação para que possam participar ativamente do processo e compreender a relevância de contribuírem para que a técnica possa ser empregada corretamente e não comprometa a amostra, e consequentemente, o resultado. Também informamos acerca da obtenção dos resultados e da importância do isolamento social, da lavagem das mãos e do uso de máscaras, principalmente no período que estão sintomáticos e com elevado potencial de transmissão”, aponta Valesca.

Parcerias

“Essa colaboração é importante para elucidar a incidência da doença e nas ações em relação a prevenção”, Luciane Ribeiro de Faria, professora da Faculdade de Enfermagem.

Além das ações de receptividade e orientação, Érika aponta o acolhimento oferecido pelas UBSs que, não apenas viabilizam a realização das atividades, mas acomodam as equipes de coleta e atuam coletivamente, apesar dos possíveis riscos. “Sabemos que é uma dinâmica diferente da que eles estão habituados. Ainda assim, as unidades que possuem uma estrutura física condizente para o trabalho se propuseram a abrir esse espaço para nós.”

Já Luciane ressalta que a cooperação entre a UFJF e o município traz inúmeros benefícios, principalmente, para a Faculdade de Enfermagem, pois amplia o contato com outros profissionais da área e abre possibilidades para parcerias futuras, ainda mais, relacionadas às práticas de ensino da graduação. “Essa colaboração também é importante para a cidade porque estamos contribuindo para elucidar a incidência da doença e também nas ações de prevenção.”

População como aliada

A comunidade deve respeitar os agendamentos, comparecer no dia e horário marcados e não esquecer os documentos e a ficha de saúde, devidamente preenchida. “É importante que a população compareça para não tirar a vaga de outras pessoas. Além disso, é recomendável que chegue na hora exata para evitar as aglomerações. No momento de espera, que é algo rápido, é fundamental o uso das máscaras e evitar o contato com outras pessoas”, afirma Erika. 

Valesca observa que a população deve ser uma aliada e estar consciente e solidária com a ação para garantir uma atuação qualificada, eficaz e segura. “O medo e o estresse psicológico é uma realidade, uma vez que o risco de contaminação é real e não é possível saber como o vírus irá se comportar em cada organismo. O que me motiva, acima de tudo, é o compromisso com a vida e ter a ciência da relevância do papel da minha profissão como prática social, capaz de contribuir para minimizar os impactos nefastos que serão deixados por essa emergência de saúde pública.”

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