Desde o decreto publicado no dia 19 de março, Juiz de Fora vinha seguindo medidas restritivas de enfrentamento ao avanço do coronavírus na cidade. No último sábado, 16, o município aderiu ao Plano Minas Consciente, do governo Estadual, com objetivo de orientar a retomada das atividades econômicas no estado. O plano é dividido em categorias, chamadas de ondas. Juiz de Fora está na onda verde, a mais restritiva do plano, porém, com uma lista de serviços e atividades essenciais muito mais abrangente do que as previstas anteriormente pelo decreto.
O plano tem como base dados de saúde pública apurados a partir do monitoramento dos casos de coronavírus e da capacidade assistencial na região. No entanto, análises do Grupo de Modelagem Epidemiológica da Covid-19 da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) apontam para a existência de uma curva de crescimento expressivo no número de casos da doença no município. De acordo com as análises do grupo, o município mostra uma taxa de crescimento diário de casos confirmados em torno de 8%. A preocupação é que a flexibilização do funcionamento de serviços e do comércio possa aumentar esse percentual. Comércios varejistas de laticínios e frios, bares e estabelecimentos especializados em servir bebidas, são exemplos de serviços que estarão liberados, além das padarias, supermercados e farmácias, já em funcionamento.
“Poucos locais no mundo, e mesmo no país, abriram seus serviços não essenciais com uma taxa nesse patamar. Soma-se a isso uma crescente taxa de ocupação dos leitos de enfermaria e de UTI no município, mostrando que esta ocupação vem avançando junto com o crescimento dos casos confirmados. Apesar de ainda não estarmos com o sistema em colapso, caso a velocidade de crescimento dos casos aumente, este limite da saúde pública local provavelmente será ultrapassado. Flexibilizar comércio e serviços tem aumentado estas taxas, como já se pôde observar em outras regiões do Brasil e em países como Japão, Itália e Espanha”, avalia o grupo em resposta conjunta ao Portal da UFJF.
O monitoramento por meio de modelagem epidemiológica é feito por uma grupo de pesquisadores, entre eles, os professores da Faculdade de Medicina, Fernando Colugnati e Mário Círio Nogueira, e o professor do Departamento de Estatística do Instituto de Ciências Exatas (ICE), Marcel de Toledo Vieira. O grupo publica notas técnicas periodicamente, considerando os panoramas epidemiológicos da Covid-19 no Brasil, no mundo e em Juiz de Fora.
A tomada de decisão sobre implantar o Minas Consciente deverá considerar a realidade da macrorregião de Juiz de Fora. Apesar de não haver tantos casos de Covid-19 nas cidades menores do entorno, os pesquisadores do grupo destacam a ocupação do sistema de saúde do município. “Juiz de Fora é referência de saúde para uma macrorregião de cerca de 1,6 milhões de habitantes. Isso significa que, para diversos problemas de saúde, o município é que recebe e trata os pacientes com a rede de saúde pública disponível. Isso não é diferente com a Covid-19. Cidades como Leopoldina, Muriaé, Barbacena, dentre outras, possuem poucos leitos, e quando lotam, Juiz de Fora deve receber.”
O Plano Minas Consciente prevê a transição dos municípios do estado pelas ondas – a verde, na qual é permitido o funcionamento de atividades essenciais; a onda branca, com a permissão para atividades de baixo risco; amarela, contendo atividades de médio risco e vermelha, atividades de alto risco.
A Secretaria de Saúde será responsável pelo monitoramento dos indicadores de capacidade assistencial de saúde do município e a propagação do vírus, para assim orientar a transição entre as ondas. Serão analisados a proporção de leitos ocupados de Unidade de Terapia Intensiva (UTI), o tempo médio de atendimento às solicitações de internação em leitos de UTI, o comportamento da curva de casos confirmados e estimados, a taxa de incidência e mortalidade por Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG), assim como o monitoramento do isolamento social. De acordo com o decreto, avaliados os indicadores, os municípios poderão decidir pela abertura para novas ondas ou, ainda, pela regressão a cada 21 dias.