Uma das complicações mais preocupantes da Covid-19 é a insuficiência respiratória. Em alguns casos a inflamação pulmonar não permite que a pessoa consiga respirar sozinha, necessitando de ventilação mecânica para sobreviver. Para isso são usados respiradores. A ventilação mecânica atua promovendo melhora da oxigenação, até que os pulmões melhorem. Pacientes com Covid-19 precisam ficar, em média, 21 dias neste suporte ventilatório. Porém, com a alta demanda imposta pela pandemia, estes equipamentos se encontram escassos. Por isso, profissionais de saúde e empresários mineiros se uniram em um projeto para suprir Unidades de Tratamento Intensivo (UTIs) com esses equipamentos. O Núcleo de Pesquisa em Pneumologia e Terapia Intensiva, do Programa de Pós-graduação em Saúde da Faculdade Medicina da UFJF é um dos participantes do projeto.
Idealizado pela empresa belo-horizontina Tacom, o “Projeto Inspirar” tem com o objetivo desenvolver e disponibilizar ventiladores pulmonares inteligentes, em larga escala no menor prazo possível. De acordo com Bruno Pinheiro, coordenador do Núcleo e chefe da UTI do Hospital Universitário da UFJF, as parcerias foram instituídas em função das necessidades para a idealização da confecção dos ventiladores mecânicos. Diferentes empresas mineiras foram contactadas, cada uma com suas competências, com apoio da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg). “Em função da minha experiência clínica em ventilação mecânica, fui contactado pelo coordenador do projeto para orientá-los”, esclarece.
Respiradores mais baratos e funcionais
De acordo com Bruno Pinheiro, os ventiladores têm as funções básicas para uma ventilação segura, sendo de simples operação pela equipe. O RI-C19, modelo do respirador, foi desenvolvido especialmente para a Covid-19, por isso possui sistema de exaustão a vácuo, o que isola o ambiente do ar expirado pelo paciente, reduzindo o risco de contaminação dos profissionais da saúde.
O equipamento é produzido com componentes nacionais, facilitando a produção em larga escala. “O baixo preço do produto em questão é decorrente do uso de produtos nacionais e por se tratar de um projeto que não visa lucro, com grande parte dos envolvidos trabalhando como voluntários, o que reduz os custos”, aponta Pinheiro.
O Núcleo auxilia ao oferecer orientações sobre as necessidades básicas de um paciente em ventilação mecânica, além de apresentar informações para que a produção dos ventiladores seja básica, por causa da urgência necessária, e ofereça um suporte ventilatório seguro. Também disponibilizou o desenho da interface do ventilador, para que os ajustes sejam intuitivos para a equipe que o utilizará na assistência aos pacientes. “A participação nesse projeto vem solidificar posição de nosso Núcleo, na medida em que alia a pesquisa à atividade prática, com retorno direto à sociedade. Estamos muito contentes e orgulhosos com a possibilidade de participar diretamente da construção desse projeto de alto impacto social”, revela Pinheiro.
A produção e posterior distribuição dos ventiladores ainda depende da aprovação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). “É muito importante frisar que este equipamento não vem substituir os convencionais. Ele é apenas uma opção emergencial, para pacientes morrendo em falência respiratória e sem disponibilidade de ventilador”, destaca Pinheiro. Para que os respiradores sejam aprovados como ventiladores convencionais, testes prolongados serão necessários.