A pandemia do novo coronavírus alterou o cotidiano em todo o mundo, modificou hábitos e impôs adaptações à rotina de milhares de pessoas. Além dos cuidados essenciais recomendados pela Organização Mundial da Saúde (OMS), manter a alimentação saudável para evitar debilidades e fortalecer o sistema imunológico também é uma estratégia importante para o enfrentamento à Covid-19. Para compreender as tendências de consumo de derivados lácteos durante o período inicial do isolamento social, um estudo coordenado pela pesquisadora da Embrapa Gado de Leite, Kennya Siqueira, em parceria com Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), analisou dados captados nas redes sociais.
A pesquisa teve por objetivo verificar o que estava sendo falado sobre os lácteos em redes sociais no contexto da quarentena. Para reunir os dados, o mestrando do Programa de Pós-graduação em Modelagem Computacional (PGMC), Thallys Nogueira, utilizou o Twitter como meio para identificar o comportamento dos consumidores de leite e derivados, avaliando as menções que remetiam ao cenário de quarentena, isolamento social e pandemia.
Após criar uma conta como desenvolvedor na rede social, o pesquisador criou um aplicativo dentro da plataforma para ter as chaves de acesso e liberar os dados e as informações necessárias para a análise. Ao todo coletou 12.185 tweets, entre os dias 20 e 27 de março, por meio da seleção de palavras-chave e da mineração de dados. “Na sequência, realizamos o processo de limpeza dos dados retirando tweets duplicados, retweets. Também com a remoção das stopwords que são palavras que se repetem nas frases e não contêm informação de interesse”, explica Nogueira.
Resultados
Com o conteúdo coletado, o mestrando gerou uma planilha comparativa de resultados e identificou os produtos mais falados e as wordclouds, que são mapas de palavras que expressam os itens de maior relevância, no intervalo de tempo da análise. A pesquisa evidenciou que os cinco alimentos mais comentados em tweets relacionados ao coronavírus foram: sorvete, leite condensado, lactose, manteiga e doce de leite. “Três desses derivados são produtos reconhecidamente indulgente – alimentos indulgentes ou com apelo à indulgência são aqueles consumidos simplesmente por prazer. A análise de sentimentos dos tweets mostra que o conteúdo postado sobre lácteos e a pandemia refletiu muito o lado negativo da situação, o que, reforçou os resultados da situação de estresse e busca por satisfação e prazer”, diz.
Os cinco alimentos mais comentados em tweets relacionados ao coronavírus foram: sorvete, leite condensado, lactose, manteiga e doce de leite.
O estudo desenvolvido faz parte do Projeto Observatório do Consumidor: O caso dos queijos artesanais do Brasil, integrante do Programa Residência Zootécnica Digital da Embrapa Gado de Leite, que envolve o PGMC da UFJF o Programa de Pós-Graduação em Ciência da Computação (PGCC) da UFJF e o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia (IF-Sudeste MG). A pesquisadora e professora do PGMC, Priscila Capriles, afirma que a procura por produtos indulgentes é uma característica marcante dos povos latinos e especialmente dos brasileiros, “vimos que as pessoas estão procurando por alimentos indulgentes, que são ingeridos mais por questões de ansiedade, para o prazer, e para um conforto emocional”.
Nogueira reitera que a procura e a ingestão dos lácteos detectados na pesquisa, no momento inicial do isolamento social e de expansão de casos de coronavírus no país, pode estar relacionado à capacidade dos alimentos indulgentes em acalmar e tranquilizar o organismo humano. “Muito mais do que nutrientes, saudabilidade e prevenção, os brasileiros, inicialmente, estão precisando de alimentos para aliviar o estresse provocado por toda essa turbulência”, conclui. Como desdobramento dos dados coletados, foi realizada outra pesquisa sobre a saúde mental durante a pandemia.