Covid-19, abreviação “doença causada por coronavírus de 2019” parou o mundo. Já são mais de 719 mil infectados e 33 mil mortos em 202 países (segundo dados da OMS no dia 31 de março de 2020). Declarada pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como uma pandemia, a doença teve o primeiro caso reportado no Brasil no dia 26 de fevereiro. Pouco mais de um mês depois já foram contabilizados 3.904 casos e 114 mortes. De acordo com o Informe Epidemiológico Coronavírus do dia 28 de Março de 2020 da Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais, Juiz de Fora possuía 11 casos dos 205 confirmados no estado, sendo a terceira cidade mineira com maior incidência, estando atrás somente de Nova Lima, com 16 casos confirmados e da capital Belo Horizonte, com 129.
Impulsionados por definir algumas características da pandemia no Brasil, Minas Gerais e Juiz de Fora e qual o impacto das políticas de contenção das transmissões, pesquisadores do Programa de Pós-Graduação em Modelagem Computacional da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) divulgaram uma nota técnica. O documento apresenta os resultados que comparam números italianos e sul-coreanos com os brasileiros, além de uma análise da situação específica de Minas Gerais e Juiz de Fora no contexto da pandemia.
Inicialmente, foram avaliados, usando dados da Coreia do Sul e da Itália, qual o grau de confiabilidade das previsões. Com esse resultado, observaram que em até 10 dias as previsões se encontram dentro de um intervalo de confiabilidade de 10% de erro. “Não temos como fazer uma metodologia com um horizonte maior porque a dinâmica de atuação dos governos está mudando drasticamente. Cientes disso, conseguimos fazer essa estimativa para esse período”, explica Rodrigo Weber, um dos pesquisadores envolvidos. Por conta desses efeitos peculiares da dinâmica da pandemia da Covid-19, previsões que ultrapassam os 10 dias são de baixa credibilidade. Por isso, os resultados encontrados dizem respeito ao cenário previsto até o dia 7 de abril.
“O modelo que utilizamos é simples, muito utilizado em cenários epidêmicos. Mas tivemos que adaptá-lo para o Covid-19 e incluir as políticas de isolamento como variável”, aponta Weber. Os parâmetros dos modelos desse estudo foram ajustados de acordo com dados oficiais de três países: Itália, Coreia do Sul e Brasil. O mesmo modelo foi utilizado nos estudos sobre os três países, apenas ajustando os parâmetros referentes a cada um deles para capturar adequadamente a dinâmica da pandemia.
Minas Gerais e Juiz de Fora
Em Minas Gerais o grupo encontrou números semelhantes ao do Brasil, com exceção do tempo final das políticas de contenção que apresentou taxas menores. Isso sugere que o estado pode ter agido mais rapidamente em relação à implementação de uma política de isolamento do que a resposta média nacional. É importante salientar que, apesar de o valor alto, em torno de 61%, para o fator de redução da taxa de contato – a porcentagem de pessoas que não estão em isolamento social -, os dados apontam que as políticas ainda não conferiram uma redução significativa no percentual de contato.
Os números Juiz de Fora seguem os de Minas. Foi uma cidade que, como o estado, agiu rápido com a implementação das políticas de contenção, mas essas políticas ainda não foram suficientes para reduzir o número de pessoas fora do isolamento social. No entanto, a cidade demonstrou baixa taxa de migração, o que indica que a cidade sofre pouca influência em relação a viagens internacionais, comparada ao estado e ao país. “Apesar dos números ainda parecerem pequenos em Minas e Juiz de Fora, a previsão é que eles aumentem muito nas próximas semanas e meses”
Com a flexibilização da política de isolamento os casos dobram
O estudo também analisou a possibilidade de flexibilização da política de isolamento. De acordo com a nota “para o Brasil, a flexibilização dobrou os valores otimistas de todas as variáveis. Por exemplo, os infectados notificados aumentaram de 8.317 para 17.974 ao flexibilizar a política de isolamento. Aumentos semelhantes foram observados em todas as demais variáveis, assim como em Minas Gerais e Juiz de Fora.”
“Em no nosso estudo vimos que no Brasil apenas 50% da população está em isolamento. É um número ainda muito aquém de uma proteção necessária, segundo o nosso modelo”, esclarece Weber. Na Coreia do Sul, onde o número de infectados está diminuindo e já caminham para o controle da pandemia, 95% da população está isolada. De acordo com o estudo, isso indica que as políticas de contenção de transmissão podem ser decisivas no combate contra a pandemia.
“Apenas 8% dos casos de Covid-19 são notificados”
Um dos problemas encontrados pelo grupo foi a subnotificação. Segundo Ruy Freitas Reis, quando a variável de subnotificação foi incluída no estudo, os dados se ajustaram melhor e o valor encontrado no Brasil foi semelhante ao da Itália. De acordo com Rodrigo Weber, essa situação atrapalha o desenvolvimento de previsões por causa da falta de conhecimento total do cenário. “O nosso modelo aponta que apenas 8% dos casos de Covid-19 são notificados no Brasil. Isso significa que os casos de pessoas infectadas de fato são 12 vezes maiores”, revela.
A pesquisadora Bárbara de Melo destaca que os dados refletem a situação com um pouco de atraso porque os resultados demoram 5 dias para saírem. “Testamos um número muito baixo de pessoas. Com os testes rápidos (a expectativa é que se iniciem essa semana), esperamos ter números melhores”, aponta.
O pesquisador Marcelo Lobosco completa ressaltando que como qualquer modelo, o estudo tem limitações. “Principalmente por conta da escassez de dados do Brasil e as mudanças rápidas quanto às políticas de isolamento. Esse tipo de cenário dificulta o ajuste dos modelos e as previsões. Temos consciência dessas limitações”, explica.
Fizeram parte do estudo os pesquisadores Ruy Freitas, Bárbara de Melo Quintela, Joventino de Oliveira Campos, Johnny Gomes, Lara Pompei, Bernardo Martins Rocha, Marcelo Lobosco e Rodrigo Weber.
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