O Programa de Pós-graduação em Artes, Cultura e Linguagens da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) sediou nesta terça-feira, dia 3, a banca de defesa de dissertação do produtor cultural e escritor Caluã Eloi . Orientado pela professora Marta Castello Branco, Caluã desenvolveu a pesquisa “Tudo que é sólido desmancha na nuvem: a produção musical de artistas trans na era do streaming”.
“Ele listou mais de 800 artistas trans [pessoas que não se identificam integral ou parcialmente com o gênero designado ao nascimento]. Isso era uma coisa que não sabíamos no início do processo de orientação. E teve uma consequência incrível para o trabalho, porque mostra de forma cabal a relevância do tema, especialmente da música para a cultura trans. É um levantamento de dados imenso e muito significativo”, ressalta a orientadora.
Caluã Eloi explica que o levantamento, realizado durante os dois anos do curso, inclui artistas trans do Brasil e de vários outros países do mundo. “Foram selecionados artistas com os maiores acessos no YouTube e no Spotify [plataformas de distribuição de música on-line], privilegiando brasileiros, porque o Brasil é o país que mais mata pessoas trans no mundo. Essas plataformas permitiram o levantamento de acessos, ouvintes mensais, cidades onde se localizam os ouvintes, likes e dislikes, além de comentários do público.”
“A música possibilita encontros”
Em seguida ao levantamento, foram analisadas as interações e as relações entre ouvintes e artistas trans. O mestrando, que é uma pessoa trans não-binária, aponta como fundamental a compreensão da comunidade a qual integra para além das violências sociais.
“O objetivo da pesquisa foi falar sobre música e como a música possibilita encontros de pessoas diferentes, construindo pontes e derrubando barreiras, porque sempre que se fala de pessoas trans é para debater as questões de violência ou falar sobre questões de saúde. São questões importantes e que devem ser faladas, mas não podem resumir as vivências trans. É preciso falar de arte, de afeto, de amizade, de outras coisas, porque pessoas trans não querem apenas existir e sobreviver, queremos viver”, afirma Caluã.
A avaliação é compartilhada pela professora Marta Castello Branco, que é uma mulher cis ou cisgênero [que se reconhece com o gênero designado ao nascimento]. A docente acrescenta a relevância da presença da temática das identidades de gênero no ambiente acadêmico.
“É extremamente relevante a cultura trans para a Universidade. E, a respeito do trabalho do Caluã, tivemos uma presença tão honrosa e tão feliz que foi a Mc Xuxu [artista trans de Juiz de Fora-MG] , que participou da banca. Ela ressaltou a importância da comunicação através da academia, o quanto que muitas vezes nos fechamos numa linguagem muito própria e, no entanto, o quanto precisamos falar para todos. O trabalho do Caluã fortalece muito esse diálogo.”
Trajetória como produtor e escritor
Para além das atividades como pesquisador, Caluã dedica-se à produção cultural de conteúdo independente com foco na democratização do acesso à cultura.
“Começamos como um blog de poesias, crônicas, ensaios e resenhas, passamos à produção de curta-metragens de ficção e documentários, produção de teatro e agora literatura. Também realizamos serviços de comunicação visual, iluminação de espetáculos cênicos (dança e teatro), filmagem e edição de vídeos.”
O pesquisador também mantém um projeto específico de militância e ativismo social, o “Cadê o Amor?”, com um canal no YouTube e um podcast para falar sobre feminismo, movimento negro, movimento LGBT, luta de classes e direitos humanos.
Contatos:
Caluã Eloi – mestrando
Marta Castello Branco – orientadora
martacastellobranco@yahoo.com.br
Banca examinadora:
Maria Claudia Bonadio (UFJF – coordenadora do Programa de Pós-graduação em Artes, Cultura e Linguagens )
Bárbara Santos (IFRJ)
Mc Xuxu (artista trans de Juiz de Fora)
Marta Castello Branco (UFJF – orientadora)
Outras informações: (32) 2102-3362 – Programa de Pós-graduação em Artes, Cultura e Linguagens