Com o intuito de ampliar as ações de apoio aos refugiados, a Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) realizou na tarde desta segunda feira, 20, o Encontro com Migrantes em Condição de Refúgio, que residem em Juiz de Fora e região.
Organizada pela Diretoria de Relações Internacionais (DRI), a reunião contou com refugiados da Venezuela e um participante natural da República Democrática do Congo, além de representantes de organizações independentes que apoiam refugiados.
A conversa buscou dar voz aos migrantes e contou ainda com um questionário anônimo para conhecer o perfil dessa população, suas demandas e expandir ações para tentar pleitear a entrada na Catédra Sérgio Vieira de Mello (CSVM) – projeto conjunto do Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (Acnur) que apoia instituições de ensino e garante acesso a direitos e serviços no Brasil a pessoas refugiadas e solicitantes de refúgio.
De acordo com o gerente de Relações Internacionais, Hugo Rocha, a relação da UFJF com os migrantes já vem acontecendo através de projetos de acolhimento, como é o caso do Português como língua de acolhimento e o ingresso nos cursos de graduação para refugiados.
Rocha ressalta que a proposta do evento é diagnosticar e amplificar as ações dentro da UFJF. “Convidamos a comunidade refugiada e todas as pessoas em situação de migração para termos um contato inicial e conhecermos essa população. Buscamos entender o perfil e as necessidades imediatas desta população para, a partir desse diagnóstico, nos reunirmos institucionalmente e pensarmos como a UFJF pode contribuir para facilitar a integração e a vida dessas pessoas na cidade.
Mudança
Em 2019 três alunos em situação de refúgio ingressaram na instituição, nos cursos de Administração, Educação Física e Jornalismo.
Alberto Navarro, 23, está no Brasil há três anos e em Juiz de Fora há dois. Após procurar a UFJF para cursar Português como língua de acolhimento, Navarro ingressou como refugiado no curso de Jornalismo. Na Venezuela, o estudante tinha um açougue onde trabalhava junto com a mãe. “A Venezuela já estava passando por uma crise há algum tempo, mas como tínhamos o açougue, conseguimos viver. Só que as coisas foram piorando e ficamos sem nada. Eu vim para cá sozinho, conheci a UFJF e comecei a fazer o curso de línguas, que foi essencial para buscar outras oportunidades.”
Estudante do segundo período, e estagiário da DRI, Alberto Navarro conseguiu trazer a mãe, mas ainda pretende trazer o restante da família para o Brasil. Perguntado se pretende voltar a Venezuela, Alberto responde de imediato. “Acho que não é uma boa ideia. Vontade de voltar sempre tenho, mas agora quero terminar os estudos no Brasil e esperar que seja feito o melhor.”
Edison José Navarro era médico na Venezuela e atualmente mora em Santos Dumont (MG) há quase sete anos. Além da casa e da família, Edison deixou no país a sua profissão e hoje trabalha de maneira informal, assim como a maioria que vive na mesma condição. “ A situação começou a complicar há alguns anos. Você chega no mercado, na farmácia e não encontra nada. Muitas vezes mandamos alimentos e medicamentos para os nossos parentes. Mesmo se você tiver dinheiro na Venezuela não tem como conseguir o produto. Vamos fazer esse primeiro encontro com a UFJF para nos aproximar e ver as oportunidades que a Instituição pode oferecer para nós venezuelanos e, também, para nossos amigos de outras nacionalidades.
Formada em Nutrição, Zaira Elena chegou ao Brasil há quase sete anos. Com o restante da família espalhada por mais de 13 países, Zaira trabalha atualmente de maneira informal e resolveu ficar no Brasil por causa da crise política. “Eu vim à reunião para escutar as propostas e oferecer minha ajuda. Eu gosto muito do Brasil e voltar para Venezuela é complicado, pois falta saúde e princípios básicos. Sem suprimentos, nem os hospitais tem como nos atender. Há poucos dias perdemos um amigo, que precisava apenas de uma bolsa de oxigênio. É uma situação muito difícil.”
Natural da República Democrática do Congo, a trajetória de Kasonga Nkota começou há 17 anos atrás. Por problemas políticos, o professor se refugiou em São Paulo, onde tomou conhecimento do ingresso na UFJF. Em 2013, formou-se em Letras pela Universidade e, no ano passado, concluiu seu mestrado.
Hoje, Kasonga, naturalizado Brasileiro desde 2019, busca ajudar e garantir direitos à população refugiada. “Nessa reunião eu venho oferecer a minha ajuda para as pessoas não passarem pelo que eu passei. Na época, o ingresso foi tranquilo, mas a permanência foi muito difícil. Não havia nenhum documento que garantisse nossos direitos.”
O ex-gerente de vendas nunca mais voltou ao seu país, mas afirma que pretende visitá-lo quando a situação melhorar. O congolês veio com sua família e a UFJF agora faz parte também da vida do seu filho, que ingressou em História na Instituição, por meio do Programa de Ingresso Seletivo Misto (Pism).
Situação
Segundo dados divulgados na 4ª edição do Relatório “Refúgio em Números” pelo Comitê Nacional para os Refugiados (Conare), o Brasil atingiu 11.231 pessoas reconhecidas como refugiadas pelo Estado em 2018, ano com mais solicitações de reconhecimento da condição de refúgio. No total, foram mais de 80 mil solicitações, sendo 61.681 de venezuelanos. Em segundo lugar está o Haiti, com sete mil solicitações. Na sequência estão os cubanos com 2.749, os chineses com 1.450 e os bengaleses com 947.
Os estados com mais solicitações em 2018 foram Roraima (50.770), Amazonas (10.500) e São Paulo (9.977).
Outras informações: (32) 2102-3389 – Diretoria de Relações Internacionais