Uma pesquisa de doutorado desenvolvida no Programa de Pós-graduação em Química, da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), buscou compreender a importância e a relação da semiótica nos processos de ensino e de aprendizagem de química para surdos. A tese da professora Jomara Mendes Fernandes foi pautada em iniciativas de três instituições de ensino do Rio de Janeiro e dedicou-se, principalmente, em conhecer quais são os recursos empregados pelos professores e de que forma eles são utilizados. Como resultado das observações, a docente elaborou uma sequência didática multimodal com potencial de contribuir para a prática pedagógica.
“Nos preocupamos também com a carência de sinais específicos em Língua Brasileira de Sinais (Libras) para terminologias químicas, uma vez que defendemos que é importante conjugar boa comunicação a aulas que privilegiam os recursos visuais”, ressalta Jomara. A pesquisadora explica que as observações das aulas da disciplina foram feitas em uma instituição exclusivamente para surdos, em uma escola municipal bilíngue (Libras/Português) e em uma escola estadual regular. “Por meio de filmagens, fotos e entrevistas, coletamos os dados necessários e verificamos de que modo recursos multimodais facilitam o acesso do estudante surdo aos conhecimentos químicos, ou como a ausência de tais recursos dificultam a aprendizagem dos mesmos”, salienta.
A partir das observações, sobretudo na instituição de ensino exclusivamente para surdos, Jomara aponta que foram elaboradas seis aulas que abordam diferentes manifestações de energia, como a química e a elétrica, entre outras. “Foram utilizadas como estratégias visuais: modelos de bola-vareta, imagens/figuras impressas e ampliadas, experimentos, atividades de produção de desenhos pelos alunos e atividade lúdica envolvendo toda a turma.” Para a elaboração das estratégias, ela revela que contou com a participação de três estudantes surdos do curso de Letras-Libras da UFJF e de dois professores também surdos da instituição. Na opinião de Jomara, é “indispensável ter os surdos participando diretamente da produção de tudo o que se destina para eles.” Segundo a professora, a sequência didática multimodal foi aplicada em uma turma do 2º ano do Ensino Médio de uma escola estadual regular em Juiz de Fora, onde haviam dois estudantes surdos matriculados.
Diante dos resultados da tese, ela avalia que explorar a multimodalidade é essencial para o professor e que essa atitude contribui não somente para a aprendizagem dos alunos surdos, mas favorece também os demais discentes. “Defendemos que o uso apropriado dos variados modos de representação do conhecimento químico amplia a percepção sobre o objeto (os conceitos), facilita a construção de sentidos pelos aprendizes e, por isso, pensar em uma didática para surdos pautada na multimodalidade traz contribuições significativas para o processo de ensino.”
Para a professora orientadora, Ivoní de Freitas Reis, o estudo mostra sua relevância na medida em que se dedica a conhecer o modo visual de aprendizagem das pessoas surdas e põe em pauta o respeito pela cultura e modo de aprendizagem de significativa parcela da sociedade. “Hoje mostra-se cada vez maior a demanda por um atendimento adequado e que ofereça melhores oportunidades aos alunos com as mais diversas deficiências no ambiente escolar. A sociedade como um todo precisa estar melhor preparada para a inclusão. Sendo assim, o desenvolvimento de pesquisas como esta, que se dedicam à elaboração de estratégias de ensino e que incluem e valorizem as diferenças, têm se mostrado extremamente essenciais.”
Contatos:
Jomara Mendes Fernandes – (doutoranda)
jomarafernandes@yahoo.com
Ivoni de Freitas Reis – (orientadora)
ivonireis@gmail.com
Banca Examinadora:
Profa. Dra. Ivoni de Freitas Reis – (Orientadora – UFJF)
Prof. Dr. Waldmir Nascimento de Araujo Neto – (Co-orientador – UFRJ)
Profa. Dra. Aline Garcia Rodero Takahira – (UFJF)
Profa. Dra Andreia Francisco Afonso – (UFRJ)
Prof. Dr. Vinícius Catão – (UFV)
Prof. Dr. Marcelo Giordan – (USP)
Outras informações: (32) 2102-3309 – Programa de Pós-graduação em Química