Uma pesquisa realizada no Programa de Pós-graduação em Saúde Coletiva, da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), pontua os desafios do sistema de saúde e da sociedade no enfrentamento da tuberculose. O estudo da professora Érika Andrade e Silva analisa as percepções de profissionais sobre as ações de controle da tuberculose na Atenção Primária à Saúde de Juiz de Fora. Ao todo, participaram 677 trabalhadores da área, no período de agosto de 2017 a junho de 2018.
O trabalho é o primeiro desdobramento do projeto matriz “Avaliação do Programa de Controle da Tuberculose em Juiz de Fora (MG)”, desenvolvido pela Professora da Faculdade de Enfermagem Girlene Alves da Silva. Essa iniciativa avalia as ações de controle da tuberculose nos diferentes níveis de atenção do município, diante da perspectiva de diversos atores envolvidos neste contexto.
A professora Girlene explica que o programa foi cadastrado porque Juiz de Fora é um dos municípios que a OMS recomenda que haja um projeto de intervenção específico pela quantidade de casos registrados. A tese de Érika mostra que, em 2016, entre as cidades mineiras, dez apresentaram o maior número de casos da doença do Estado. Em primeiro lugar ficou Belo Horizonte, com 819 casos, seguida de Juiz de Fora, com 384 casos que, em escala nacional, ocupa o 25º lugar.
Érika conta que o interesse em estudar sobre a tuberculose e, de modo geral, sobre doenças negligenciadas, surgiu durante os dez anos em que trabalhou como enfermeira no serviço público de saúde de Juiz de Fora. “No mestrado, a proposta de investigação com a tuberculose buscava a subjetividade da representação do doente sobre a doença. Agora, no doutorado, novas inquietações, amadurecidas por outras experiências, surgiram e, por isso, a busca pela avaliação dos serviços de Atenção Primária à Saúde, desta vez sob a perspectiva de colegas profissionais da rede básica de saúde.”
A pesquisadora ressalta que a Atenção Primária tem papel fundamental na prevenção da doença. Para isso, este setor desempenha uma série de atividades que incluem a busca ativa por pessoas que apresentem os sintomas na comunidade, junto a investigação de contatos e o desenvolvimento de atividades educativas. Além disso, também é feito o diagnóstico precoce da tuberculose, o tratamento básico da doença e dos casos de infecção latentes. Todo o trabalho ainda contempla a fomentação da adesão ao tratamento, a diminuição da taxa de abandono e o acompanhamento dos pacientes.
Sobre qual a avaliação dos profissionais a respeito dessas ações, Érika destaca que o estudo identificou uma boa orientação dos serviços da Atenção Primária para a realização das ações de controle da tuberculose. “No entanto, revelam fragilidades graves de acesso ao diagnóstico e tratamento na rede, o que favorece o aumento do tempo de exposição da população em geral, por meio da convivência com os sintomáticos não diagnosticados”. Nesse cenário, ela chama atenção para a importância da participação comunitária nas atividades de controle da tuberculose. “É urgente o trabalho junto à comunidade, esclarecendo, sensibilizando e comprometendo a pluralidade de atores envolvidos no processo, para atenuar os efeitos do estigma.”
Para a professora e orientadora, Girlene Alves, “reconhecer que temos um problema de tuberculose no Brasil, é reconhecer que ainda vivemos num país desigual, apesar de termos um bom programa contra a doença”. Ela ressalta também que a tuberculose tem cura, mas o acompanhamento é um desafio. “Para o município de Juiz de Fora, essa pesquisa reafirma o papel da Atenção Primária como uma porta que pode ordenar e reordenar a assistência de tuberculose. O estudo mostra que, se tivermos uma rede de atenção Primária que acolha e seja capaz de identificar esse usuário, temos, sim, a possibilidade de quebrar essa cadeia epidemiológica.”
Contato:
Érika Andrade e Silva (Doutoranda)
erikandradesilva@gmail.com
Banca examinadora:
Profª. Drª. Girlene Alves da Silva (UFJF)
Profª. Drª. Isabel Cristina Gonçalves Leite (Coorientadora – UFJF)
Profª. Drª. Angélica da Conceição Oliveira Coelho (UFJF)
Profª. Drª. Danielle Teles da Cruz (UFJF)
Prof. Dr. Tiago Ricardo Moreira (UFV)
Profª. Drª. Elisabete Pimenta Araújo Paz (UFRJ)
Outras informações: (32) 2102 – 3830 – Programa de Pós-graduação em Saúde Coletiva