Estão abertas as inscrições para o “I Encontro de Pesquisadorxs e Estudantes Negrxs” da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). A iniciativa pioneira é organizada por cinco grupos de pesquisa da instituição – ‘Afrikas: História, Cultura e Pensamentos Africanos’; ‘Anime: Africanidades, Imaginário e Educação’; ‘Educação Matemática’; ‘LaProMav: Núcleo de Pesquisa, Ensino e Inovação em Vidros’; e ‘Mirada: Visualidades, Interculturalidade e Formação Docente’ – em parceria com a Diretoria de Ações Afirmativas (Diaaf).
O evento será realizado no dia 30 de outubro, das 8h às 20h, no Anfiteatro do Instituto de Ciências Exatas (ICE). As inscrições estão disponíveis neste link. Não há cobrança de taxas. Dentre as atividades programadas estão rodas de conversa sobre Pedagogia Griô, Literatura e Religiosidade Afro-brasileiras, Educação Matemática, além de apresentação de grupos de pesquisa e das ações afirmativas desenvolvidas no âmbito da UFJF, dentre outras.
Confira a programação completa aqui.
Desafios e perspectivas para a população negra
Este primeiro encontro também contará com a participação de uma conferencista externa à instituição. A professora da Universidade Federal Fluminense (UFF), Flávia Mateus Rios, abordará ‘Os desafios e perspectivas para a população negra na atualidade”. Flávia é doutora em Sociologia pela Universidade de São Paulo (USP), mestra e bacharel em Sociologia pela mesma instituição. Foi pesquisadora colaboradora na Princeton University, com bolsa Sanduíche da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). Tem experiência na área de Sociologia Política e da Cultura, com ênfase nos estudos sobre ação coletiva, teorias interseccionais, relações raciais e de gênero, educação e políticas de ações afirmativas no ensino superior.
Racismo institucional, invisibilidade e silenciamento
O diretor de Ações Afirmativas da UFJF, Julvan Moreira de Oliveira, destaca que o debate nacional sobre as políticas identitárias, especialmente as voltadas para a população negra, foi crescente nas últimas décadas. “Contraditoriamente, o lócus da produção deste saber, a Universidade, é marcado pelo racismo institucional. Essa invisibilidade e silenciamento da presença negra entre pesquisadores e pesquisadoras nos quadros acadêmicos, perpetuando e reproduzindo a estratificação social, vem sendo enfrentada, desde o início da década dos anos 2000.”
“Nós, pesquisadores negros, temos que ser os principais atores desse processo, assim como referência para os jovens estudantes negros que chegam à universidade.Para além da presença negra na universidade, precisamos incluir nos diversos cursos, conteúdos com a cosmovisão africana” (Julvan Oliveira)
Ainda segundo Oliveira, algumas estratégias principais foram adotadas nesse sentido: a criação dos Núcleos de Estudos Afro-brasileiros (Neabs) em diversas universidades e , em seguida, a organização dos Neabs em Consórcio Nacional. “Onde se constrói políticas comuns nessa área e, por fim, a participação dos membros dos Neabs na Associação Brasileira de Pesquisadores Negros (ABPN). Embora percebamos um esforço em implementar as ações afirmativas na UFJF, principalmente com as cotas, aprovadas em 2004, e de alguns cursos terem em seus currículos disciplinas que tratam da educação para as relações étnico-raciais, nossa Universidade não esteve presente nas grandes discussões que os Neabs e a ABPN produziram nos últimos anos.”
O diretor de Ações Afirmativas acrescenta a necessidade de oportunizar que pesquisadoras e pesquisadores negros da UFJF se fortaleçam, independente das temáticas e das áreas de suas pesquisas. “As Universidades que avançaram com políticas de ações afirmativas são justamente as que possuem Neabs bem estruturados e fortalecidos, que participam das discussões nacionais sobre as temáticas, especialmente as produzidas na ABPN. Não há outra forma de avançarmos, sem dialogar com os diversos coletivos negros, e pensar na construção de políticas afirmativas para a população negra na Universidade, sem que nós negros não estejamos fortalecidos.”
Para Oliveira, o fortalecimento de pesquisadoras e pesquisadores negros resultará em avanços na política de cotas. “Seja na graduação, na pós-graduação e nos concursos públicos para técnico-administrativos e docentes, nas comissões de heteroidentificação, nas políticas de acompanhamento acadêmico, especialmente de estudantes negros cotistas. Nós, pesquisadores negros, temos que ser os principais atores desse processo, assim como referência para os jovens estudantes negros que chegam à universidade. E, para além da presença negra na universidade, incluirmos nos diversos cursos, disciplinas e/ou conteúdos com a cosmovisão africana, tais como a Filosofias Africanas, etc. Daí a importância desse I Encontro de Pesquisadores e Estudantes Negros da UFJF, pois estaremos discutindo todos esses temas, além de criarmos um diálogo com os coletivos negros.”
Outras informações: (32) 2102-6919 (Diretoria de Ações Afirmativas)