Quais as percepções que pessoas inseridas em políticas de assistência social têm de si e de suas realidades? Essa é uma das questões que pautaram a dissertação da acadêmica Mariana de Almeida. Na pesquisa desenvolvida no Programa de Pós-graduação em Psicologia, da Universidade Federal de Juiz de Fora, ela também avalia como essa população atua frente às condições cotidianas de pobreza.

“Buscamos investigar como a precariedade material e psicossocial imposta no cotidiano de vida dessa população atravessa sua forma de ser, pensar e agir frente a essa difícil realidade”, revela Mariana. Nesse contexto, a pesquisadora considera necessário discutir qual tem sido o papel da política de assistência social no que diz respeito à melhoria efetiva nas condições de vida e no combate à pobreza, bem como sua contribuição em processos de conscientização e participação social dos sujeitos pobres.

A acadêmica realizou entrevistas e desenvolveu um diário de campo, no qual descreveu, durante três meses, a rotina e as atividades realizadas no Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) – Centro de Juiz de Fora, desde os atendimentos individuais e grupais até as visitas domiciliares. “Durante esse período, entrevistei dez pessoas acolhidas no dispositivo em questão, que partilharam relatos, opiniões, vivências e histórias comuns e particulares de quem enfrenta a pobreza, a negação de direitos básicos e batalha, diariamente, pela sobrevivência.” 

Entre as reflexões, Mariana destaca que existe uma dificuldade de compreender a desigualdade social, enquanto um fenômeno social e histórico, sendo este, na maioria das vezes, encarado como um problema de ordem individual ou até mesmo espiritual e transcendente. “Existe, também, uma certa negação de si enquanto um(a) trabalhador(a) e pobre; sendo esta última condição considerada, por vezes, através de um olhar moralista, pejorativo e fragmentado por meio da lógica do consumo.” 

Nesse cenário, Mariana avalia que a assistência social, a partir do CRAS, surge como espaço de fortalecimento e de enfrentamento dos problemas sociais vivenciados. Entretanto, ela aponta que foi perceptível a dificuldade que as pessoas tiveram de reconhecer a política como um direito. Na maioria das vezes, esta é entendida como uma ajuda do Estado, o que, segundo a pesquisadora, reflete tanto o seu caráter assistencialista, quanto insuficiente no combate efetivo à pobreza e à desigualdade em todas as suas dimensões.

O professor orientador, Fernando Santana de Paiva, pontua que os resultados são importantes, porque podem contribuir para o trabalho com esta população, na medida que evidencia uma dificuldade em se analisar historicamente a produção da desigualdade no país. “Entendemos que a consciência, que é marcada pelas contradições da realidade social, só é potencializada na medida em que tais condições da realidade são progressivamente desveladas e elaboradas.” O docente também ressalta que a dissertação contribui para “compreendermos qual o sentido desta política na vida de tais sujeitos, que é muito importante para o aperfeiçoamento das próprias ações desenvolvidas. E, neste caso, a ideia de que a política de assistência, como nenhuma outra, é uma mera ‘ajuda’, mas indubitavelmente um direito que necessita ser ampliado visando atender as necessidades de toda a população.”

Contatos:
Mariana de Almeida (mestranda)
dap.mariana@gmail.com

Fernando Santana de Paiva (orientador)
fernandosantana.paiva@yahoo.com.br

Banca Examinadora:
Prof. Dr. Fernando Santana de Paiva (UFJF – orientador)
Profª. Drª. Viviane de Souza Pereira (UFJF)
Prof. Dr. Antônio Euzébios Filho (USP)

Outras informações: (32) 2102-6321 – Programa de Pós-Graduação em Psicologia