Encerrando a 5ª Semana de Economia, o reitor da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Marcus Vinicius David, apontou os desafios da gestão universitária no atual contexto político e econômico do país. Em conversa com os estudantes, apresentou dados sobre como a crise no Brasil afeta a receita orçamentária das universidades públicas, sobre as taxas de ocupação e de investimento em alunos nas modalidades de ensino básico e universitário, sobre os gastos obrigatórios e discricionários das instituições federais e sobre o programa Future-se. A palestra “Desafios da gestão universitária” ocorreu nessa sexta-feira, 16, no anfiteatro da Faculdade de Economia.
Mediante a atual crise enfrentada pelo país, em que o crescimento econômico tem projeção inferior a 1%, o processo para recuperação apresenta uma perspectiva lenta. Marcus David demonstrou dados sobre esse aspecto e criticou o corte orçamentário nas instituições de ensino. “Quanto mais demorado for esse processo de recuperação econômica, maior será o esgotamento da máquina pública. Quando a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) suspendem as bolsas de ensino, há prejuízo para pesquisas desenvolvidas há anos e que podem auxiliar no alavancamento das questões econômicas.”
Durante a palestra, o reitor também demonstrou dados sobre a taxa de ocupação de vagas estudantis nas universidade públicas e particulares, considerando também a modalidade de Ensino a Distância (EAD), as titulações de professores dos ensinos básico e universitário e o investimento realizado nas pós-graduações stricto sensu.
“A taxa de estudantes nos cursos de pós-graduação stricto sensu cresceu nos últimos anos. Diferente dos alunos de graduação, que se concentram, em sua maioria, em redes privadas, 84% dos discentes da pós-graduação estão no ensino público. O investimento é muito alto e, por essa razão, as universidades são caras ao cofres públicos, pois elas mantêm investimentos elevados em busca do melhor desenvolvimento do país.”
Investimento estudantil
Marcus David também apresentou dados sobre o investimento realizado pelo Ministério da Educação (MEC) nos estudantes dos ensinos básico e universitário, entre os anos 2000 e 2015. “Houve um salto orçamentário no valor gasto na educação básica, variando de R$ 2.100 a R$ 6.300 por aluno por ano. Esse aumento aconteceu, principalmente, após a política da Fundação de Desenvolvimento da Pesquisa (Fundep), garantindo a educação primária para municípios mais pobres, e ao reajuste do piso salarial dos professores. Por mais que exista uma ampliação de investimento, ainda temos muito o que avançar.”
Sobre o investimento nos discentes do ensino superior, David aponta que não houve mudanças bruscas, sendo que o valor representa cerca de R$ 23 mil por estudante, aproximadamente US$ 6 mil anuais. “O ministro da Educação apontou recentemente que as universidades públicas gastam muito e que o Brasil não possui nenhuma entre as 100 melhores do mundo. Porém, desmistificando essa colocação, um professor da Universidade de Campinas (Unicamp) demonstrou que o investimento, por estudante, das universidades no topo do ranking mundial equivale a cerca US$ 80 mil anuais. A educação pública tem problemas de gestão, mas negar que não há problemas de financiamento é uma mentira.”
Investimento orçamentário e Future-se
Segundo Marcus David, a partir de uma política em que a estratégia é a redução de gastos públicos e tem com objetivo o ajuste da conta fiscal, a ausência de investimentos nas universidades faz com que os recursos se esgotem e, ao invés da diminuição de gastos, gera outras dívidas. “A UFJF está em uma situação econômica melhor do que outras instituições, pois tem receita própria, por meio da captação de recursos para projetos. Neste caso, parte dos valores arrecadados são apropriados pela Universidade e auxiliam na manutenção. Por não haver reajuste positivo desde 2014, outras universidades estão sufocadas e o corte orçamentário de 30% foi o estopim, fazendo com que muitas contas estejam atrasadas. Isso não é economia, na verdade, novas dívidas são geradas.”
O reitor citou ainda a proposta apresentada pelo MEC para financiamento das instituições públicas, o programa Future-se. “O mais grave do programa é o fato de retirar a autonomia das universidades. As instituições públicas não podem ser suscetíveis ao poder político, religioso ou econômico. Elas perdem suas autonomias e as pesquisas ficam propensas a respostas que eles querem de nós e não as condizentes com a ciência. Neste momento, precisamos que a sociedade faça a sua escolha em apoiar as universidades públicas, gratuitas e de qualidade.”
Outras informações: (32) 2102-3541 – Faculdade de Economia