“Eu concebi o projeto com o pensamento de levar a arte para as pessoas, pois não gosto de pensar que a arte está em um lugar distante e que não é acessível” (Foto: Gustavo Tempone)

Cicatrizes podem representar bem mais do que marcas deixadas no corpo por algum ferimento ou intervenção cirúrgica. Em muitos casos, carregam relatos de superação, no entanto, essas vitórias podem não dissipar a dor e o trauma que as cicatrizes representam, o que afeta o modo como uma pessoa se vê no mundo.

Com o objetivo de levar a arte como forma de ajuda na recuperação da autoestima e ressignificar as cicatrizes, a aluna Isadora Mayrinck, do Bacharelado Interdisciplinar de Artes e Design, da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), realiza o projeto de iniciação artística “Marcas com Expressão’, visando a cobrir as cicatrizes por meio de tatuagem. O procedimento é realizado de forma gratuita para os interessados. 

A concepção para o desenvolvimento do projeto surgiu pela visão que Isadora tem da arte, como um instrumento de mudança na vida das pessoas. “Eu concebi o projeto com o pensamento de levar a arte para as pessoas, pois não gosto de pensar que a arte está em um lugar distante e que não é acessível. Gosto de pensar que arte é para todos. Por isso tive essa ideia de oferecer as tatuagens como forma de tentar mudar a vida das pessoas de forma positiva.” 

A iniciativa conta com a orientação da professora do Instituto de Artes e Design (IAD), Annelise Nani, formada em Artes e Psicologia, que ressalta o interesse pela proposta de Isadora. “Por ser uma proposta de uma aluna que está em seu primeiro ano na universidade, eu me encantei e, por isso, aceitei participar. O projeto é muito interessante no sentido de como a arte pode ajudar o ser humano a ressignificar possíveis experiências traumáticas. O apoio da UFJF através de bolsas de iniciação artística é muito importante para que nossos artistas possam executar suas propostas.”

O projeto é realizado em três etapas: na primeira, acontece uma apresentação inicial, momento em que os interessados respondem questionários que ajudam a entender a história, a necessidade e o gosto do interessado; na segunda etapa, a aluna cria o desenho que vai ser tatuado, com supervisão da professora e do cliente, o qual participa efetivamente nesta fase; na terceira etapa é realizada a tatuagem. 

Por se tratar de um desenho o qual ficará definitivamente na pele, todo o processo é feito com a devida cautela e responsabilidade. O atendimento é destinado só para maiores de 18 anos e os interessados devem ter autorização médica por escrito para a realização de tatuagem em cicatrizes. 

Isadora  Mayrinck possui dois anos de experiência como tatuadora e já havia percebido a existência desta demanda. “Como tatuadora, muitas pessoas me procuram com o interesse de cobrir alguma cicatriz. Já escutei vários relatos de pessoas que, se pudessem, realizariam  algum procedimento para tentar amenizar suas cicatrizes. Com isso eu percebi que marcas no corpo mexem profundamente com as pessoas e isso me despertou o interesse de tentar ajudá-las. Poder ajudar alguém fazendo algo que eu amo me dá grande satisfação.”

Atendidos

Isadora Mayrinck conta com orientação da professora Annelise Nani (Foto: Alexandre Dornelas)

Uma das pessoas atendidas pelo projeto é a estudante Bacharelado Interdisciplinar em Artes e Design, Tiana Rodrigues, 48, que conta um pouco sobre as razões de procurar pela intervenção de Isadora. “Em 2017 eu tive um diagnóstico de um mioma uterino. Junto com a indicação do procedimento veio a indicação para a retirada do meu útero, o que eu não queria. O mioma era externo e, assim, foi possível removê-lo sem afetar meu útero.” 

A aluna relata que os questionamentos sobre a cicatriz resultante da cirurgia foi o que mais a motivou realizar o procedimento para cobrir a marca. “Sempre soube que em algum momento da minha vida eu iria fazer uma tatuagem, mas nunca foi uma prioridade. Eu já passei alguns remédios para tentar clarear a cicatriz mas não resolveu muito e, por isso, decidi fazer uma tatuagem. Quando alguém te faz um questionamento que você não tem a obrigação de responder, isso acaba incomodando.”

Tiana ficou sabendo do projeto em uma atividade desenvolvida pelos alunos do IAD. “Em uma mobilização do IAD eu encontrei a Isadora e pedi que ela participasse do que estava acontecendo, porém ela me disse que estava atarefada desenvolvendo um projeto de extensão. Quando eu soube do que se tratava, eu disse a ela que queria participar.” 

Sobre o resultado, a aluna conclui. “Fiquei super satisfeita, o resultado surpreendeu minhas expectativas. Não vejo mais a cicatriz, ficou muito legal. No momento que eu fui tatuar eu ainda não tinha ideia do resultado, mas agora, vendo pronta, gostei bastante. A cicatrização foi super tranquila e a experiência, inesquecível.”

Os interessados em participar do projeto podem entrar em contato por e-mail: isaa_mayrinck@hotmail.com ou pelo telefone: (35) 99213-4215.