O Conjunto de Música Antiga da USP realiza seu primeiro concerto em Juiz de Fora no encerramento do 30º Festival Internacional de Música Colonial Brasileira e Música Antiga, neste domingo, 28, às 21h, no Cine-Theatro Central. O ineditismo se estende ao repertório da apresentação: pela primeira vez na América Latina, três obras de Haydn, Mozart e Beethoven serão apresentadas com instrumentos históricos – ou seja, idênticos aos utilizados na época em que foram compostas. Essa é a especialidade do Conjunto de Música Antiga da USP – resgatar a sonoridade do passado, o que não é possível de se alcançar com as orquestras modernas, devido às mudanças sofridas pelos instrumentos ao longo dos últimos 200 anos.
O evento tem entrada franca, mas os convites (máximo de quatro por pessoa) devem ser retirados no Centro Cultural Pró-Música, neste domingo, das 8h às 18h. O concerto será precedido de palestra ministrada pelo professor Rodolfo Valverde, da UFJF, com início às 20h.
A partir das 21h, sob a regência do maestro William Coelho, serão apresentadas peças de diferentes gêneros musicais: uma composição breve (Romanza op. 50, de Beethoven), com solo do violinista Roger Lagr; um concerto para fortepiano, que exibe virtuosismo e realiza jogos timbrísticos (Concerto para piano e orquestra K 491, de Mozart), que terá o fortepianista Ilso Muner como solista; e uma sinfonia com forte conteúdo emocional de Haydn (Sinfonia nº 83 “La Poule”).
Drama, cor e graça
O Concerto para fortepiano nº 24 é um dos mais expressivos compostos por Mozart e um dos dois únicos escritos em tonalidade menor. “Seu conteúdo fortemente dramático é realçado pelo colorido dos sopros, que têm uma presença marcante na obra”, destaca a diretora artística Mônica Lucas. A composição foi apresentada pela primeira vez em Viena, em 1786, com o próprio compositor ao fortepiano. No concerto de Juiz de Fora, será utilizado um instrumento idêntico ao de Mozart.
Haydn também compôs poucas sinfonias em modo menor, entre elas a de nº 83 em sol menor, que posteriormente recebeu a alcunha “A Galinha” (La Poule), devido, sobretudo, à linha rítmica do oboé no primeiro movimento. “Haydn, mestre da agudeza, combina num mesmo movimento a densidade emotiva da tonalidade de sol menor com a graça quase juvenil da linha jocosa do oboé, que conferiu o famoso epíteto a esta sinfonia”, explica Mônica.
Beethoven, apesar de inicialmente ter desejado ser aluno de Mozart, encontrou em Haydn um compositor muito mais próximo de sua personalidade musical. Com Haydn, aprendeu e expandiu a técnica de repetição insistente de motivos curtos, recurso composicional completamente diverso da linguagem de Mozart, que era um compositor muito mais afeito ao estilo cantábile da ópera italiana. “A Romanza é uma das poucas obras da produção de Beethoven que se aproxima mais do estilo mozartiano, ao exibir uma linha solista simples, porém ricamente ornamentada, alternando trechos cantabile ao virtuosismo técnico, aliada a um acompanhamento orquestral que serve apenas para dar sustentação rítmica e harmônica ao solo”, informa a diretora.
O público juiz-forano terá a oportunidade de conferir tudo isso nessa estreia latino-americana proporcionada pelo Festival: “Uma orquestra composta por músicos especializados na interpretação musical histórica proporciona uma audição completamente distinta, permitindo resgatar timbres, coloridos, articulações e até mesmo andamentos que se perderam com as modificações de técnicas e escolas, e com a cristalização das interpretações românticas”, ressalta a diretora artística. Na opinião de Mônica Lucas, essa experiência é sempre nova para o público e traz de volta “o frescor que as obras transmitiram em sua estreia”.
Bandeira de persistência
Ter a oportunidade de apresentar esse trabalho nas comemorações de 30 anos de um Festival que tem se dedicado à divulgação da música antiga é motivo de grande entusiasmo para cada músico da orquestra, afirma a diretora artística Mônica Lucas. Segundo ela, a participação também “sela uma nova e promissora parceria entre a Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) e a Universidade de São Paulo (USP)”.
Para a diretora do Conjunto, o evento é um dos festivais de música antiga mais tradicionais do país e tem demonstrado uma admirável resistência às crises políticas e econômicas, sem jamais abrir mão da excelência. “Em um país historicamente marcado pela descontinuidade das políticas culturais, o Festival de Música Colonial Brasileira e Música Antiga sustenta uma bandeira de persistência e fé na formação de jovens talentos. O apoio da UFJF fortalece, desta maneira, a importância urgente de se investir na cultura e na educação”, afirma Mônica Lucas.