Em uma simples gota d’água encontram-se diversas populações, cada uma formada por milhares de organismos que vivem invisíveis à percepção humana. São seres microscópicos, capazes de influenciar direta e indiretamente na manutenção da vida na Terra – e alguns deles foram revelados para os estudantes da Escola Estadual Delfim Moreira, na sexta-feira, 28, pelo pesquisador Nathan Barros, vinculado ao Laboratório de Ecologia Aquática da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF).
O ecólogo iniciou a conversa com os alunos compartilhando um pouco mais sobre o início de sua trajetória acadêmica e, para a surpresa de seus ouvintes, a história de Barros não começou muito diferente dos estudantes ali presentes. “Como vocês, eu estudei em uma instituição pública desde os primeiros anos do meu ensino fundamental. Por muito tempo, eu achei que seria muito difícil as coisas darem certo na minha vida, mas tive professores que ajudaram a mudar minha perspectiva em diversos aspectos”, relata. Por meio de um diálogo próximo, Barros incentivou os alunos a também compartilharem seus relatos. Optando por imagens ilustradas ao invés da tradicional apresentação de slides, ele deixou claro desde o início que aquele encontro não era uma apresentação comum, e sim uma bate-papo, uma troca de ideias entre ambos os lados. Aos poucos, os estudantes confidenciaram sonhos, ambições e até perspectivas de carreiras futuras com o professor.
As imagens levadas pelo pesquisador de ambientes aquáticos, por sua vez, despertavam a curiosidade e mostravam seres até então desconhecidos: as cianobactérias. “As cianobactérias se proliferam quando há muita comida na água. Para elas, comida são dois produtos: nitrogênio e fósforo. Quando jogamos esgoto não tratado na água, por exemplo, o que fazemos é despejar o alimento das cianobactérias na água”, explica. Em meio a exclamações de surpresa, Barros revelou ainda uma das principais constatações feitas em torno dos estudos que desenvolve: esses microrganismos são capazes de produzir toxinas fatais.
Pensando como um cientista
Conhecendo a importância do processo científico e seu reflexo na sociedade, Barros estimulou seus ouvintes a pensarem como cientistas, debatendo em conjunto possíveis formas de evitar a produção da toxina ou, até mesmo, a forma que pode aliviar seus efeitos, caso seja produzida. “A minha geração não conseguiu dizer o que faz com que essas algas produzam a toxina que pode matar pessoas. O que sabemos é que ela pode ser produzida em alguns casos, enquanto em outros, não. Precisamos de pessoas formadas que possam trazer as respostas que ainda não encontramos”, revela.
Quando Barros revelou ter consigo os exemplares dos microrganismos contidos em pequenos frascos, a sala foi tomada de entusiasmo. De mão em mão, os alunos passavam os frascos entre si: alguns se aglomerando para analisar as bactérias em conjunto, outros se esticavam nas carteiras para poder observar por mais tempo a novidade. Para que os alunos pudessem ver as cianobactérias em escala real, o pesquisador levou um microscópio laboratorial até a escola. Com a ajuda da mestranda da UFJF, Nathalia Resende, os estudantes puderam analisar as amostras de água que eles mesmos coletaram em poças. A partir daí, eles descobriram, um a um, o até então inexplorado mundo novo ganhar vida bem diante de seus olhos. “Às vezes, você pega uma gota de água e acha que ela está limpa, mas têm coisas que são invisíveis aos nossos olhos e que existem em grande quantidade”, explicou o ecólogo.
Ao final do bate-papo, Nathan Barros também ressaltou a importância do estudo do equilíbrio dos níveis de nitrogênio e do fósforo nos ambientes aquáticos, e como esses produtos impactam nossa sociedade. “Hoje, a maioria dos ambientes estão em desequilíbrio em decorrência da ação humana. Estamos causando os problemas que estamos vivendo hoje e que continuaremos a viver no futuro, porque não estamos cuidando muito bem das nossas águas. Esse é principal papel que do Laboratório de Ecologia Aquática da UFJF: tentar estudar os ambientes aquáticos, de que forma o ser humano impacta esses ambientes e como conseguimos propor soluções para diminuir esses impactos”, conclui.
O encontro entre os cientistas e a comunidade é uma iniciativa do projeto “A ciência que fazemos”, criado pela coordenação de Divulgação Científica da Diretoria de Imagem Institucional. Um dos objetivos da iniciativa é justamente possibilitar a aproximação entre os cientistas e os estudantes da formação de base, levando para dentro das escolas uma fração dos estudos desenvolvidos na UFJF, mostrando aos alunos que a ciência está mais próxima do que imaginam.
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