Criar diálogos e ampliar o conhecimento cultural da comunidade juiz-forana sobre negritude e ações afirmativas são os objetivos do projeto de extensão “Laboratório de Descolonização”, da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). O projeto participa do Corredor Cultural da cidade, evento em comemoração ao aniversário de Juiz de Fora, entre os dias 24 e 26 de maio, com programação em pontos e horários diversificados.
O Laboratório de Descolonização apresenta oito ações. Segundo a coordenadora Eliane Bettochi, a participação se dá pela constante necessidade de manter um diálogo aberto sobre a negritude dentro e fora das fronteiras da Universidade. “Na atual conjuntura do país, onde a meritocracia é pautada como um critério de ascensão social e conquista de direitos, as especificidades das minorias são mascaradas com uma ideia de igualdade. No currículo escolar brasileiro, os saberes ancestrais negros e de povos originários são desvalorizados e esquecidos, reforçando uma cultura eurocêntrica com instituições que reproduzem a lógica do capital”, explica.
Para Eliana, eventos como o Corredor Cultural permitem a iniciativas independentes mostrar novas perspectivas à população. “Além de dar visibilidade a artistas negros, historicamente apagados, faz com que pessoas se identifiquem, sintam-se ativas no processo artístico, acessem esse espaço e questionem o motivo dele ser limitado a determinados corpos.”
Cursando o quinto período de Pedagogia, Maré é o proponente da ação “Depósito de Sentimentos”. A intenção é abordar pessoas nos locais onde o evento acontece e dialogar sobre os sentimentos. “Pretendo desenvolver uma conversa com desconhecidos na intenção de ouvir sentimentos que se sintam confortáveis para compartilhar. Trabalhar este tema, neste evento, significa criar uma ponte com assuntos urgentes e que muitas vezes nos são negados, principalmente como pessoa negra.”
De acordo com Maré, a população negra costuma ser idealizada como sem sentimentos, seja por conta de violência submetida pela cor da pele, ou por estereótipos criados, projetando-os como fortes e robustos. “Performar um depósito de sentimentos é subverter uma lógica eurocêntrica e equivocada, que coloca os negros como se não tivessem alma. Contrapondo esse imaginário e mostrando nossas almas e sensibilidades, estamos participando de um movimento transgressor, revolucionário e já (re)existente há muito mais de 500 anos”, explica.
Convidada para participar do projeto Cinexuxú, a aluna do quarto período do Instituto de Artes e Design (IAD), Richele Silva, conta que a ação pretende exibir dez videoclipes da cantora Xuxú e promover um debate sobre o audiovisual local. Além disso, destaca a importância do trabalho em equipe. “Eu acho notável o quanto ações dentro do coletivo nos ajudam. É um apoio que, às vezes, não encontramos em outros lugares. Ver meus amigos ser reconhecidos é muito bom para nós, pois academicamente os artistas negros são negados, o que nos obriga a fazer recortes para falarmos sobre eles e não ser ignorados. É necessário lutar para mostrar o quanto estar visível é importante para nós”, finaliza.
Confira a participação do Projeto no Corredor Cultural: