Interferômetros, cabos de fibra ótica, placas internas e discos de Newton: de modo geral, esses são equipamentos que podem ser montados com uma simplicidade tão surpreendente quanto as reações que produzem. A maioria deles, no entanto, é descartada depois de já terem cumprido sua função original de uso. Ainda bem que, para a professora do Departamento de Física da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Zélia Ludwig, esses materiais adquirem novos significados para a produção de conhecimento e compartilhamento de ideias.
Por meio do projeto “A Ciência que Fazemos”, a pesquisadora foi até a Escola Estadual Clorindo Burnier na manhã desta terça-feira, dia 7, para bater um papo diferente com os alunos do 1° ano do Ensino Médio. Zélia levou alguns dos equipamentos que possui no laboratório, promoveu experiências científicas e ainda compartilhou um pouco de sua extensa trajetória acadêmica com os estudantes. “Eu sempre fui uma menina muito curiosa, sempre quis saber das coisas. E é isso que eu quero mostrar para vocês, que vocês podem fazer as coisas se tiverem essa curiosidade, essa vontade de saber. Só é preciso ir atrás.”
De fato, a curiosidade, a empolgação e o interesse pelo até então desconhecido parecia aumentar cada vez mais entre os estudantes ao ritmo em que Zélia demostrava novas ferramentas para que realizassem os experimentos. A pesquisadora utilizou desde uma pêra de sucção – normalmente usadas em laboratórios – até uma simples garrafa de água para apresentar aos alunos, novas formas de fazer e pensar ciência. “Se você tiver uma placa velha, um fio ou um cabo usado, você pode fazer ciência, sim!”
Como relata a professora da E.E. Clorindo Burnier, Michele Gravina, a manipulação de equipamentos laboratoriais não é uma prática cotidiana para os alunos, uma vez que os equipamentos da escola foram furtados. Levar novas dinâmicas e apresentar novos materiais para estudantes do ensino de formação de base, a partir do encontro com os pesquisadores do centro acadêmico da UFJF, é juntamente um dos principais objetivos do projeto. Em um post público em seu Facebook, Michele comemora a visita: “Recebemos a segunda visita do ‘A Ciência que Fazemos’, um dos 575 projetos de extensão da UFJF. Juntos, estes projetos beneficiam cerca de 62 mil pessoas da população de Juiz de Fora”, informa.
“Na vivência de hoje tivemos o prazer de receber a professora doutora Zélia Ludwig. Ficamos encantados com sua determinação e com a inspiração que sua trajetória nos trouxe! O brilho que vi nos olhos dos alunos, principalmente das alunas, é algo que não tem preço!”, relata a professora.
Ciência é coisa de mulher
“Como é ser uma cientista mulher?”. A pergunta foi feita pela aluna Ana Eliza que, mais cedo, presenteou a cientista com uma caixa de bombom. Para a estudante, “Zélia é uma inspiração” que representa uma pequena minoria no campo das Ciências Exatas, tradicionalmente dominado por homens brancos. A cientista explicou para seus ouvintes que a ciência ainda é um campo muito competitivo e formado majoritariamente por homens. “O nosso papel é incentivar, é estar junto – vamos muito mais longe trabalhando juntos. Agora, se a gente estabelece uma competição, ninguém chega a lugar nenhum”, conclui a pesquisadora.