Com o desenvolvimento tecnológico e a criação de diferentes aplicativos para troca de mensagens e fotos, a vida privada tem ficado cada vez menos pessoal, e, consequentemente, mais exposta, pública. Até que ponto o acesso às histórias e memórias do outro é benéfico? Qual é o limite saudável de exposição da nossa privacidade? Esses foram alguns dos temas debatidos nesta manhã, em sessão do Cine Acadêmico.
Após a exibição de um episódio da série Black Mirror, integrantes do setor de Apoio Estudantil e estudantes da UFJF-GV iniciaram um debate sobre o acesso à privacidade e os limites de exposição frente às novas tecnologias. A conversa foi embasada no capítulo “The Entire History of You”, ambientado em uma realidade alternativa onde a maioria das pessoas possuem implantes em forma de grãos que gravam tudo o que fazem, veem ou ouvem, e também permite que eles reproduzam suas lembranças na frente de seus olhos ou em uma tela, de forma que todos tenham acesso a esse conteúdo.
Para Letycia Teles, nossa sociedade tem adquirido costumes cada vez mais próximos da realidade exibida no filme: “Ao conversarmos com amigos, por exemplo, mostramos diálogos que tivemos com outras pessoas, ‘o print da conversa’. Se brigamos com o namorado, pegamos o telefone, questionamos ‘quem é fulano?’”. A estudante de Fisioterapia comentou que a sociedade está cada vez mais atrelada às tecnologias, a ponto de as pessoas cobrarem respostas e se preocuparem em casos de ausências breves: “eu fiquei menos de 48 horas sem responder, foi só o fim de semana, e me perguntaram se estava tudo bem”.
Segundo o psicólogo Lucas Nápoli, as pessoas têm cada vez mais necessidade de serem vistas, aprovadas pelo outro e estarem inseridas em uma determinada comunidade, daí o costume excessivo de postagem de fotos e contagem de curtidas e comentários. “Quanto menos a pessoa estiver satisfeita consigo mesmo, mais ela vai buscar aprovação externa como uma forma de se recompensar, de evitar um estado de sofrimento e desgaste. É interessante, porém, observar as consequências desse comportamento”.
Na ocasião, a produtora cultural da UFJF-GV destacou, também, a segmentação criada pelas redes sociais. “No lugar de sermos um mundo globalizado onde o diferente está sempre presente, somos cada vez mais individualizados em grupos, de acordo com o nosso perfil. Quanto mais você clica, mais você vai sendo direcionado para um grupo, sem o contato com o diferente”, comentou Flávia Carvalho. Ainda segundo ela, é importante ter em mente que as redes sociais não traduzem a realidade completa das pessoas: “estamos cada vez mais restritos a um determinado espaço que não nos deixa ver que o mundo é muito maior do que vemos. As redes sociais não trazem 20% do que vivemos, então é preciso ter cuidado com a leitura que fazemos do que vemos lá”, finalizou.