O Conselho Superior (Consu) da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) reuniu-se nesta quinta-feira, 3, a fim de discutir acerca do bloqueio de 30% na verba da instituição. A iniciativa do Ministério da Educação (MEC), anunciada no dia 1º de maio, impacta diretamente o funcionamento da UFJF, uma vez que o percentual corresponde a um contingenciamento de R$ 23 milhões no orçamento de custeio e capital.
Na reunião, o reitor Marcus David fez um relato acerca das consequências que um corte desta natureza pode gerar na manutenção da Universidade, impactando o funcionamento técnico da instituição mas, sobretudo, as comunidades que são beneficiadas com seus projetos e serviços. “Acumular mais um bloqueio de 30% do orçamento ameaça o funcionamento da UFJF e também o desenvolvimento das cidades em que ela está instalada, como Juiz de Fora e Governador Valadares. Um impacto como esse compromete todos os programas, inclusive os em andamento.”
Durante a discussão, a Administração Superior e o Consu mostraram preocupação com os serviços que podem ser impactados, mas também com o viés ideológico que, em um primeiro momento, justificou os bloqueios. Após amplo debate, o Conselho Superior aprovou a redação de uma nota. Confira na íntegra.
Além disso, foi decidido deixar a reunião em aberto durante a próxima semana para que se possa avançar os estudos sobre os reais impactos, continuando as deliberações na sexta-feira, 10. A ideia é se reunir novamente para avaliar o que seria reduzido, tentando minimizar os prejuízos a bolsas, projetos e ao sistema universitário como um todo.
Impactos sociais
O reitor ressaltou a relevância das universidades públicas, sendo responsáveis por mais de 90% das pesquisas realizadas no Brasil, com elevada taxa de avaliação na graduação no país e atendendo milhões de pessoas em programas de extensão. Além de destacar o reconhecimento regional e nacional da UFJF, especificamente. Segundo ranking da Folha de S. Paulo, a UFJF é a terceira de Minas Gerais e a 23ª universidade brasileira (2017 e 2018) entre 196 instituições, ocupando a oitava posição nacional em internacionalização.
Para a presidente da Associação dos Professores do Ensino Superior de Juiz de Fora (Apes), Marina Barbosa Pinto, um corte de 30% afeta todos os projetos existentes em âmbito pedagógico. “O impacto é muito severo para a sociedade brasileira, para os trabalhadores da universidade e para os estudantes. A tendência é que a gente tenha uma retração na nossa condição de trabalho e na possibilidade de melhores condições para os alunos, podendo atingir inclusive a política de assistência estudantil”. Além do que se refere ao ensino e à pesquisas, Marina ressaltou também a ameaça à projetos que impactam a comunidade externa, por meio de iniciativas extensionistas. Os 575 programas e projetos de extensão da UFJF abrangem, aproximadamente, 100 bairros de Juiz de Fora, além de 876 bolsistas e 723 docentes, regiamente regulados por editais.
O coordenador da área de comunicação sindical do Sindicato dos Trabalhadores em Educação (Sintufejuf), Márcio Sá Forte, afirma que um corte orçamentário representa um desmonte de uma política de educação inclusiva e transformadora. “Essa decisão compromete bolsa dos estudantes e o salário dos trabalhadores, mas também um instrumento importante de transformação da sociedade, que é a universidade pública. No tempo em que trabalhei com alunos da UFJF, presenciei a transformação. Vi jovens serem os primeiros da sua família a conquistarem um diploma de curso superior e pessoas saírem do interior e modificarem sua realidade por meio da educação. E é isso que está em jogo.”
Na visão do coordenador-geral do Diretório Central dos Estudantes (DCE), Ramon Almeida, o contingenciamento impacta diretamente o cotidiano da sociedade juizforana, uma vez que a UFJF tem extrema importância social, econômica e cultural na cidade. “É uma universidade que gera impacto econômico muito grande para a região, seja em termos de ciência, tecnologia, pesquisa e extensão. Mas além disso, a UFJF administra uma série de outros espaços para população como museus e teatros. Nesse sentido, a cena cultural também seria fortemente prejudicada por esses cortes.”
O reitor ainda avaliou a decisão do Ministro da Educação, Abraham Weintraub.