Um dos precursores em Etnomatemática no Brasil, o professor Ubiratan D’Ambrosio irá ministrar uma palestra sobre o assunto na Universidade Federal de Juiz de Fora. Como teórico da educação matemática, recebeu diversas honrarias como o Prêmio Kenneth O. May, da Comissão Internacional de História da Matemática e a medalha Felix Klein, da Comissão Internacional de Instrução matemática. D’Ambrosio é professor emérito de Matemática da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e, atualmente, está ligado ao Programa Pós-Graduação em Educação Matemática da Universidade Anhanguera de São Paulo.
Destinada a alunos da Graduação (licenciatura em matemática) e da Pós-graduação (Mestrado Profissional em Educação Matemática), a iniciativa foi coordenada pelo programa de Pós-graduação em Educação Matemática e pela Coordenação do curso de Matemática diurno. O evento acontece nesta quinta, 25 de abril, às 18h, no auditório do Centro de Ciências. Com antecedência, D’Ambrosio conversou com a reportagem do site da UFJF.
UFJF: De acordo nossa apuração, a Etnomatemática trata-se de uma abordagem educacional que propõe um olhar histórico-cultural sobre a Matemática, compreendendo que, para ensiná-la, é preciso considerar o contexto econômico, social e cultural dos estudantes. Essa definição está correta?
D’Ambrosio: É isso mesmo. Como levar adiante essa abordagem? É simples. As palavras chave são humildade e respeito. Isso se aplica a todas as formas de Educação Multicultural. E toda Educação é Multicultural. A pseudo-educação da nobreza, de grupos clericais, da Ensino Domiciliar leva à mesmice, não dá oportunidade ao novo. E Educação é preparar o novo. Na Educação Multicultural, na qual a Etnomatemática se insere, há o encontro de diferentes e o reconhecimento que todos são seres humanos. Muitas vezes o professor conhece nada sobre o ambiente cultural, social, econômico, emocional, psicológico do aluno. Tem que ter a humildade necessária para ouvir e ver o diferente e tem que ter respeito pelo que ele ouviu e viu do diferente.
UFJF: Os professores de matemática atuantes nas escolas conhecem essa metodologia, ou ela é mais restrita ao ambiente acadêmico?
D’Ambrosio: Alguns professores atuantes conhecem e alguns acadêmicos também conhecem. Entre os professores atuantes e os acadêmicos, alguns aceitam outros não. Alguns, tanto os professores atuantes quanto acadêmicos, rejeitam a Etnomatemática dizendo que não é matemática, que matemática é uma só, única, que se originou do pensamento e da lógica da Grécia Antiga e que se difundiu por todo o mundo. A posição da Etnomatemática é considerar a matemática uma manifestação cultural, que se organiza diferentemente em cada ambiente cultural. Por cultural eu entendo um complexo de manifestações práticas e teóricas visando sobreviver no dia a dia e indo além da sobrevivência, lidando com mitos, espiritualidade, religião, arte, língua, fantasia e muitas outras formas de reflexão intelectual.
UFJF: Quando o senhor se dirige a futuros professores e pesquisadores de Matemática, como é o caso de sua palestra nesta quinta-feira, qual a principal mensagem que busca passar para os graduandos e pós-graduandos?
D’Ambrosio: O principal é reconhecer a humanidade como uma multiciplidade de culturas, cada uma tendo sua especificidade e respeitar todas. Cada cultura desenvolveu, ao longo da história suas maneiras, seu modo, suas artes, suas técnicas de lidar com seu ambiente natural e sócio-cultural visando sobreviver no seu dia a dia e visando explicações sobre seu imaginário, mitos, espiritualidade, religião, arte, língua, e dando espaço para criatividade, imaginação e fantasias.