Cerca de 40 indígenas Guarani vivem na aldeia perto de Paraty (Fotos: Ricardo Reis e Paula Pires)

Sete horas de viagem e trilhas íngremes separam o grupo de pesquisa formado por professores e técnicos do Colégio de Aplicação João XXIII da aldeia de indígenas Guarani, cravada em uma das encostas da Serra da Bocaina em Paraty. Em uma localidade preservada, de águas transparentes que brotam do chão abrindo caminho em direção ao mar, a tribo Mbyá ocupa uma clareira em meio a mata atlântica.

O cacique conta que os indígenas se instalaram no local há quase cem anos, mas o assentamento foi demarcado apenas em 1991. As famílias que vivem ali, cerca de 40 indígenas, procuram preservar a cultura e a identidade dos povos originários através dos hábitos alimentares, da oralidade e dos rituais que reúnem cânticos, música, danças e uma forte crença espiritual.

Duas dessas manifestações, o Xondaro e o Tangará,  são objetos de estudo do projeto “Danças tradicionais da escola: a construção da identidade brasileira por meio da discussão da diversidade”. A pesquisadora e professora do João XXIII/UFJF,  Drª Cátia Duarte, explica que a pesquisa permite registrar e levar esse conhecimento aos alunos, ressignificando as danças tradicionais que são obrigatórias na escola.

Tribo Mbyá consegue manter vivas as tradições indígenas como os trabalhos manuais de cestaria (Fotos: Ricardo Reis e Paula Pires)

“O Xondaro é uma dança feita por homens guerreiros que buscam fortalecer o modo de ser guarani,  pedindo a proteção e a inspiração de Nhanderu, sua maior divindade. Já o Tangará é uma dança feminina onde os papéis são bem definidos, com movimentos inspirados nos pássaros, que representam alegria, liberdade e reflexão. As mulheres expressam a proteção, de forma acolhedora,  a resistência do povo Guarani-Mbyá, e a ligação da alma feminina com o universo”, explica a professora.

Com a permissão do cacique e do pajé foi possível participar e registrar em vídeo os rituais no opy, a casa de reza.  As cerimônias contam com a participação de um coral indígena que entoa cânticos na língua nativa e  celebra o espírito da floresta, a colheita e a união da comunidade.

Com permissão dada pelos líderes da aldeia, grupo do João XXIII conseguiu registrar danças e outros costumes (Fotos: Ricardo Reis e Paula Pires)

Nino, vice-cacique da aldeia, se orgulha de ainda conseguir manter as tradições vivas e passar para as crianças o conhecimento de seus ancestrais. No prédio da escola,  feito de pau a pique, os alunos aprendem o português, depois do guarani. O professor indígena convive alguns meses com as crianças antes de iniciar as aulas.

No encontro foi discutida a possibilidade de realização de um evento em Juiz de Fora, em maio, reunindo indígenas da região de Paraty. A iniciativa possibilitará o estreitamento do diálogo da UFJF com esses povos, representada pelo projeto coletivo de trabalho dos terceiros anos do Ensino Médio do João XXIII.