Da esquerda para a direita: professora Katia Lerner, professor Wedencley Alves, Nara Reis e professor Paulo Roberto Figueira Leal (foto: arquivo pessoal)

Partindo do pressuposto de que os desabafos anônimos presentes no blog “Temos que falar sobre isso” são contra-discursos sobre a romantização da maternidade, a jornalista Nara Jaqueline dos Reis procurou compreender quais as condições de produção das vozes que desafiam a narrativa tradicional a respeito do que é, ou deveria ser, o comportamento materno. A pesquisa foi realizada e apresentada no Programa de Pós-Graduação em Comunicação (PPGCom), da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF).

A acadêmica buscou entender, a partir da metodologia de Análise do Discurso, como os textos publicados no blog apontam, ou não, para uma visão romantizada da maternidade. De acordo com Nara, a dissertação passa por três pilares. “Buscamos compreender como o sujeito feminino foi construído ao longo da história, como as redes possibilitam novos discursos sobre a maternidade e como a maternidade em si é um universo muito complexo”. Para identificar os discursos não hegemônicos sobre o que é ser mulher e mãe, a acadêmica analisou a sessão de desabafos do blog, por entender que este seria um espaço em que mães se encontram para falar sem julgamentos. “O blog possibilita que mulheres desamparadas encontrem ajuda e apoio a respeito de questões existenciais por meio do anonimato. Buscamos, então, compreender como essas mulheres, geralmente silenciadas, materializam os seus desabafos”.

Nara Reis durante a defesa da dissertação na Faculdade de Comunicação da UFJF (foto: Alice Coêlho/UFJF)

A partir dos textos analisados, Nara entende que foi possível perceber as relações entre discurso e mídia e, ao mesmo tempo, refletir sobre o vínculo das mulheres com a maternidade. “Ser mãe, hoje em dia, passa a ser visto como uma escolha. Mas ao mesmo tempo, para muitas mulheres, é um fardo. E os desabafos anônimos acabam se tornando uma rede de apoio para muitas mulheres que são impedidas de falar, pois não se identificam com os sentidos normatizados perante à sociedade”.

A motivação pelo tema surge de uma inquietação a respeito das cobranças sociais que as mulheres sofrem ao longo da vida. Segundo Nara, as expectativas sociais ainda estão no imaginário ideal, aquele que não pode ser tocado. “A maternidade está presente na vida de qualquer mulher, como se tivesse uma idade limite para cumprir tarefas que a sociedade impõe”. Ao longo do processo de pesquisa, a acadêmica encarou o tema por um viés de fenômeno social e discursivo. “A construção histórica do sujeito feminino fica a mercê desse sujeito mãe-mulher que é quase indissociável. Meu estudo tem como finalidade entender a maternidade pelo viés do feminino e, dessa forma, perceber a discursividade que reafirma discursos conservadores e também os deslocantes sobre os sentidos construídos historicamente”.

De acordo com o professor orientador, Wedencley Alves, a pesquisa caminha na contramão de discursos hegemônicos que romantizam e naturalizam a maternidade. “A Nara optou por fazer uma escuta de mulheres silenciadas. Com isso, ela questiona o lugar da mulher na sociedade. O grande mérito da pesquisa é ouvir outros discursos e pensar nos dramas de mães que tiveram dificuldades em aceitar a maternidade ou que têm uma relação problemática com essa, quase, imposição social”.

Contatos:
Nara Jaqueline dos Reis – (mestranda)
narajack7@gmail.com

Wedencley Alves (orientador – UFJF)
wedencley@gmail.com

Banca examinadora:
Prof. Dr. Wedencley Alves (orientador – UFJF)
Prof. Dr. Paulo Roberto Figueira Leal (UFJF)
Profa. Dra. Katia Lerner  (Fiocruz)

Outras informações: (32) 2102-3616 – Programa de Pós-graduação em Comunicação