Rostos desconhecidos com histórias anônimas e silenciadas. Separados por três anos e alguns quilômetros de distância, os personagens da exposição “Às Margens”, de Maria Otávia Rezende, tiveram suas vidas abruptamente modificadas pelo rompimento de duas barragens de mineração. A memória dos desastres de Mariana e Brumadinho, carregada no olhar dos atingidos, será apresentada em 46 fotos no Saguão da Reitoria da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF).
“Quero contar uma história sobre pessoas, da perspectiva de quem carrega essa dor. Claro, eu não conseguiria captar todo o sentimento exposto nelas, mas eu tento cumprir um papel de mediadora entre as pessoas fotografadas e aqueles que vão ver a exposição. Acho que é o modo mais efetivo de comunicar com o mundo”, pondera Maria Otávia.
Procurando apresentar a universalidade do sofrimento dos atingidos e dos profissionais envolvidos nas buscas, a exposição mistura os eventos registrados na Bacia do Rio Doce (em 2018) e em Brumadinho (em 2019). O trabalho da fotógrafa é resultado da cobertura jornalística para a Revista A3, da UFJF, sobre as expedições de campo dos pesquisadores Miguel Felipe Fernandes e Paulo Henrique Peixoto.
“Fomos em Mariana quase três anos após o rompimento da barragem. O desastre era uma cicatriz ainda aberta, o ambiente era conflituoso, havia rastros do descaso, as pessoas ainda buscavam respostas. Em Barra Longa [que teve seu centro urbano destruído pela lama, em 2015], onde permanecemos mais tempo, as coisas já eram reconstruídas, mas pessoas não conseguiam retomar seu modo de vida.”
Em Brumadinho, o cenário já era diferente. “Estivemos lá dez dias após o rompimento. A ferida ainda sangrava. Tudo era silencioso, triste, as pessoas não conseguiam falar sobre o desastre, ainda estavam com medo e sentiam as perdas. Se eu tivesse que escolher duas palavras para descrever as duas experiências, seriam impunidade e dor”, conclui a estudante. Questionada sobre a principal dificuldade em realizar esse trabalho, Maria Otávia responde apenas “presenciar o sofrimento e me sentir incapaz diante daquilo tudo”.
Para a pró-reitora de Cultura, Valéria Faria, a exposição traz uma mensagem social ao mesmo tempo em que exerce seu potencial para impulsionar as artes e a cultura dentro e fora da UFJF. “Há momentos da nossa história em que é preciso mais que palavras para trazer à tona a indignação de todos que assistiram atônitos à grande tragédia que se abateu sobre Mariana e se repetiu em Brumadinho de forma ainda mais avassaladora. As imagens capturadas por Maria Otávia Rezende nos contam um pouco desse drama, que precisa ser registrado para que fique na memória como uma lição a ser apreendida para sempre.”
Ainda conforme a pró-reitora, “É essa missão que essa jovem universitária, promissor talento da UFJF, tomou para si, em registros capazes de comover e alertar sobre a responsabilidade que ecoa sobre a vida em todas as suas formas. A destruição que se abateu sobre essas comunidades toma forma no olhar dos sobreviventes, dos bombeiros, dos voluntários em cenários devastados pela dor.
Lançamento
O lançamento da exposição ocorre nesta sexta-feira, dia 15, às 18h, encerrando a programação do evento Rastros de Lama. Ao longo do dia, serão realizados diversos painéis, reunindo pesquisadores de diversas áreas para debater os riscos e as soluções para a atividade mineradora no país.
A visitação é aberta ao público e pode ser feita de segunda a sexta-feira, das 8h às 20h e sábado, de 9h às 12h. A exposição vai até 15 de abril e é uma iniciativa da Diretoria de Imagem Institucional em parceria com a Pró-reitoria de Cultura da UFJF, com apoio da Associação dos Professores de Ensino Superior de Juiz de Fora (Apes).
Outras informações: (32) 2102-3970 / 3964 (Diretoria de Imagem Institucional / Pró-reitoria de Cultura)