Artur Nascimento começa o doutorado no PPGE no primeiro semestre de 2019 (Foto: Twin Alvarenga)

“Eu acredito no poder transformador da educação”, afirma Artur Nascimento, futuro doutorando em Educação pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). O mestre em Educação e especialista em Formações de Professores em Mídias na Educação, chamou a atenção nas redes sociais ao publicar um vídeo comemorando a aprovação no processo seletivo do Programa de Pós-Graduação em Educação (PPGE) da UFJF. No vídeo, ele conta que “o filho da ex-cortadora de cana vai ser doutor”.

Nascimento reside no município de União dos Palmares, localizado no estado de Alagoas e conta que viu sua realidade ser transformada pela educação. Sem a presença da figura paterna e em uma casa com nove irmãos, relata que a mãe sempre foi a base da família. “Não foi uma infância fácil. Era minha mãe sozinha para dar conta de tudo. Mas ela se virava com o que tinha para que a gente pudesse sobreviver. Já cortou cana, limpou mato e lavou muita roupa”.

Para ele, ingressar em um doutorado é muito significativo uma vez que, até o momento, de todos os irmãos, é o único mestre e especialista. “Para minha mãe é uma coisa muito importante porque não é fácil ser quem fomos e quem somos. Ter o privilégio de chegar ao nível máximo academicamente é muito gratificante”. Segundo Nascimento, resistir à um ambiente de pobreza e falta de estruturas só foi possível por meio da educação pública. “A única saída desde sempre foi a educação. Eu morava em uma região muito propícia ao tráfico de drogas e à prostituição. Não trilhar esse caminho é desafiar a sociedade. É dizer que a gente pode ser aquilo que a gente quiser”.

Educação antirracista

Professor da Educação Básica na rede Municipal de Ensino na cidade de União dos Palmares, é graduado em Pedagogia e mestre em Educação pela Universidade Federal de Alagoas (Ufal). Veio para Juiz de Fora participar do processo seletivo do PPGE/UFJF e aproveitou a estadia para ministrar uma oficina durante a Semana da Consciência Negra. Ele conta que conheceu a UFJF pesquisando possíveis Universidades em que os programas de pós-graduação desenvolvessem trabalhos que iriam ao encontro de seu projeto de pesquisa e se identificou com o professor Julvan Moreira. “A vontade de estudar com ele foi o motivo para eu ir até Juiz de Fora, porque a linha de pesquisa que ele desenvolve tem uma relação muito próxima com a minha”.

No doutorado, com início no próximo ano letivo, Nascimento pretende pesquisar o processo de construção da identidade étnico-racial de crianças negras quilombolas. De acordo com ele, o foco será na construção identitária das crianças que residem na comunidade de remanescentes quilombola Muquém. O local fica no município de União dos Palmares e, em 2005, foi reconhecido pela Fundação Palmares como a única comunidade de remanescentes de Palmares, o maior quilombo das Américas. “As crianças precisam ter como referência homens e mulheres que contribuíram não apenas para liberdade do povo negro, mas também para a formação identitária do país. Minha pesquisa caminha nesta direção. Identificar quais são os vestígios desses sujeitos e, a partir disto, como as crianças constroem suas identidades étnicas”.

Para ele, além de conquistar um título de doutor, vir para UFJF e ter a oportunidade de pesquisar o tema, significa a luta por uma educação antirracista e por um espaço escolar que respeite todas as diferenças étnicos-raciais. “Eu percebo que as crianças negras são pouco visíveis no espaço da  academia Stricto Sensu. E meu objetivo é colocá-las em protagonismo, dando voz também para as quilombolas”, explica.

Pesquisa étnico-racial na UFJF

O professor Julvan Moreira, futuro orientador do trabalho, coordena o grupo de pesquisa Antropologia, Imaginário e Educação (Anime), cujo objetivo é investigar o imaginário como fator de organização do real, através das práticas simbólicas dos grupos étnicos e socioculturais, bem como a interpretação simbólica e antropológica das obras da cultura, especialmente o ideário educacional afro-brasileiro, compreendendo o estudo de pensadores (filósofos, antropólogos e educadores) africanos e afro-brasileiros; e estudo de experiências educativas no interior de comunidades tradicionais afro-brasileiras.

Além disso, é Diretor de Ações Afirmativas da UFJF e desenvolve pesquisas na área de Antropologia Educacional e Filosofia da Educação, com interesse nos seguintes temas: africanidades; filosofia africana; imaginário afro-brasileiro; diversidade étnico-racial; socioantropologia do cotidiano.

Outras informações: (32) 2102-3650 / 2102-3653 – Faculdade de Educação