Especialista em Formações de Professores em Mídias na Educação, Artur Nascimento refletiu sobre a naturalização do racismo (Foto: Twin Alvarenga/UFJF)

Refletir sobre o lugar de personagens negros nas histórias da infância foi o principal objetivo da oficina “A diversidade étnico-racial presente nas literaturas infanto/juvenil e afro-brasileira”, nesta quarta, 28, na Faculdade de Educação (Faced) da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). A oficina, ministrada pelo mestre em Educação e especialista em Formações de Professores em Mídias na Educação, Artur Nascimento, integra as atividades da Semana da Consciência Negra.

Nascimento propôs uma reflexão acerca dos clássicos da literatura infanto-juvenil, como Chapeuzinho Vermelho, Sítio do Pica-Pau Amarelo e Cinderela, entre outros. O objetivo foi refletir sobre a presença ou ausência de personagens negros nas obras. “Na maioria das histórias que nos contam na infância os negros parecem invisíveis. E quando são incluídos no universo da narrativa, geralmente são inferiorizados e ocupam lugares subalternos”.

Para ele, a falta de representatividade e a inferiorização presente nestas obras clássicas acarretam em problemas que se estendem ao longo da vida e impactam diretamente a sociedade, como a baixa auto-estima de crianças negras e a naturalização do racismo. “Sempre fomos associados a seres sobrenaturais, animais ou coisas sem valor. Isso estimula uma auto-rejeição, um preconceito velado e, mais tarde, o racismo.  Porque, por meio dessas histórias, desde pequenos, nos dizem qual deve ser o lugar do negro”.

Segundo Nascimento, é necessário romper essa hegemonia a partir da leitura e divulgação de histórias que contemplem a diversidade humana. “Nós, negros, não estamos aqui para ocupar somente este lugar inferior. Precisamos ser representados em todos os espaços porque, para nós, é muito importante. Porque assim a gente consegue enxergar no outro aquilo que a gente é, aquilo que se parece com a gente. E isso é humanizador”.

Ressignifcar
Na perspectiva de ressignificar o lugar dos negros nas histórias infantis, o educador apresentou outras obras cuja maioria dos personagens negros são protagonistas, heróis, e ocupam o lugar de destaque durante a narrativa. “A menina de barro”, por exemplo, conta a história de Dona Irineia, mestra artesã do Patrimônio Vivo de Alagoas.

A literatura-infanto-juvenil e afro-brasileira com personagens negros, de acordo com Nascimento, contribui para o fortalecimento das identidades étnicas das crianças. E os professores são parte essencial deste processo quando agem como multiplicadores destas outras narrativas. A educação é fundamental para transformar este cenário. “Sou uma pessoa que acredita no poder da educação porque sou fruto dela. Quando nos reunimos aqui para falar sobre isso, escolhemos o lugar da resistência, acreditando em um futuro melhor. Porque isso é sobre vidas. E vidas negras também importam”.

As atividades da Semana vão até sexta-feira, dia 30. Confira a programação completa.

Outras informações
(32) 2102-6919 (Diretoria de Ações Afirmativas)