Veículo: Hoje em Dia
Editoria: Primeiro Plano
Data: 16/11/2018
Título: Com 113 empresas juniores, Minas é líder mundial no setor
Com 113 empresas juniores em atividade, Minas Gerais é o novo polo mundial do setor, bem à frente de países como Alemanha (66), Bélgica (15) e Portugal (25). Os dados são da Federação das Empresas Juniores de Minas Gerais (Fejemg), entidade que representa as organizações que funcionam dentro de universidades públicas e privadas do Estado.
No geral, esses negócios conciliam a formação teórica da sala de aula com a vivência de mercado, e estimulam o “nascimento” de empreendedores.
Somente em 2017, as empresas juniores mineiras filiadas à Fejemg faturaram R$3,178 milhões com a execução de 2.034 projetos. A meta para 2018 é chegar a R$ 4 milhões, segundo a diretora de Expansão da entidade, Viviane Ramos.
Concebido na França, o Movimento Empresa Júnior (MEJ) chegou ao Brasil em 1988 e, desde então, tem se expandido de forma sustentável.
Para Viviane, o protagonismo de Minas Gerais deve-se em grande parte ao potencial empreendedor do Estado. “Minas é um dos principais polos empreendedores do país, o que demanda dos profissionais que estão se preparando para ingressar no mercado uma formação que inclui a experiência prática no ambiente corporativo”, afirma.
Legislação própria
No Brasil, as 735 empresas juniores em atividade são regidas pela Lei 13.267/2016, que regulamenta a criação e o funcionamento das organizações que são geridas pelos estudantes, com a supervisão obrigatória de um tutor.
Na empresa, os jovens respondem pelo desenvolvimento dos projetos, divulgação e negociação das propostas com clientes, criação de política interna de Recursos Humanos e, também, gerenciamento dos resultados financeiros da operação.
Segundo Viviane Ramos, cada empresa júnior tem a sua área de atuação e os serviços custam 30% a menos que a média do mercado.
A outra diferença do sistema é que os alunos participantes não recebem salários. “Todo o resultado econômico é reinvestido em capacitação direta dos estudantes por meio de eventos, palestras e viagens de interesse da empresa”, diz.
Metas
Segunda empresa júnior mais antiga do Estado, a UFMG Consultoria Júnior (UCJ) nasceu em 1992 e atualmente congrega 50 alunos dos cursos de Ciências Contábeis, Administração, Relações Econômicas Internacionais, Economia e Controladoria e Finanças da Faculdade de Ciências Econômicas (FACE/UFMG).
O presidente da UCJ, Guilherme Baeta de Oliveira, 21 anos, destaca que a experiência de participar do projeto garante uma vivência empresarial que diferencia não apenas o currículo dos estudantes, mas o seu comportamento na graduação. “A missão da UCJ é ser uma incubadora de talentos para contribuir para a formação de profissionais que têm um papel social”, ressalta.
A empresa oferece consultoria em gestão em seis áreas de negócios: Recursos Humanos, Marketing, Finanças, Estudos de Viabilidade Econômica, Processos e Estratégia. Os serviços custam, em média, entre R$ 7 mil e R$ 10 mil, bem abaixo da média do mercado nacional.
A meta da empresa para 2018 é faturar R$ 250 mil. Até outubro, o faturamento chegou a R$ 208 mil. Foram realizados mais de 77 projetos, o mínimo previsto para o período.
Com sede na Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), a Mais Consultoria congrega 24 estudantes do curso de Engenharia de Produção. Os alunos desenvolvem projetos nas áreas de Estratégia, Qualidade, Financeiro e Otimização com foco na melhoria contínua das contratantes e na redução de custos operacionais.
“Nosso tíquete médio é de R$ 4,6 mil e a qualidade dos serviços tem atraído empresas de todos os portes”, revela Bianca Duarte Motta, 20 anos, presidente eleita para o mandato do primeiro semestre de 2019 e atual diretora de Marketing. Para 2018, a empresa já atingiu 99% da meta definida e superou o limite mínimo de projetos, com 24 contratos assinados.
Sem salário, motivação é aplicar a teoria na vida empresarial
O Movimento Empresa Jovem (MEJ) também tem espaço nas universidades particulares. Na PUC Minas, a Ápice Consultoria Jr. é composta por uma equipe de 38 alunos dos cursos de Engenharia de Produção, Engenharia Química, Engenharia Civil e Psicologia. Criada em 2015, deve faturar R$ 40 mil neste ano, com 15 projetos das áreas de Estratégia Empresarial, Processos Internos de Viabilidade Financeira e Pesquisas de Mercado.
Em relação a 2017, o resultado será 40% maior, o que sinaliza que a gestão dos negócios está no caminho certo, segundo o atual presidente da empresa, Matheus Felipe Avelar Diniz, 22 anos.
“Essa é uma oportunidade positiva demais porque temos a chance de liderar uma equipe, pensar estratégias e motivar as pessoas para um objetivo comum, que é uma formação diferenciada logo nos primeiros anos da graduação”, diz Matheus.
Segundo ele, a motivação não é o salário, mas o reconhecimento e a chance de conciliar conhecimentos teóricos e práticos para atingir os melhores resultados para a vida acadêmica e também para os clientes.
Psicologia
Um dos desafios da empresa é a gestão de pessoas. Na Ápice, a presença de alunos do curso de Psicologia no setor de Recursos Humanos é o que garante que os dois processos seletivos anuais sejam bem-sucedidos quanto à escolha dos futuros participantes do projeto.
“Neste ano, nossa meta era ter 400 pessoas inscritas, mas chegamos a 468. A escolha dos estudantes é um ponto delicado porque temos que ter na equipe candidatos que se enquadram nos objetivos da empresa júnior e que não percam a motivação no decorrer do tempo, devido à falta de contrapartida financeira”, destaca Matheus Diniz.
Pelo site da empresa ou pela página no Facebook é possível entrar em contato para fazer um orçamento. Segundo o gestor, os valores cobrados correspondem a 30% da média do mercado.
“Nosso objetivo é auxiliar empresas de pequeno porte que não teriam condições financeiras de pagar pelos serviços que prestamos. Nosso objetivo é impactar positivamente esses negócios, o que também contribui para manter a nossa equipe motivada”, analisa o presidente da empresa.
Em contrapartida, a experiência na empresa júnior também qualifica o estudante universitário logo no início do curso. “Como temos que gerar resultados para os outros, temos que nos capacitar todo o tempo”, justifica.
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Veículo: G1 Zona da Mata
Editoria: Notícias
Data: 17/11/2018
Título: Juiz de Fora recebe Festival de Fotografia na próxima semana
Começa na próxima quarta-feira (21) o Festival de Fotografia de Juiz de Fora. O evento, promovido pelo coletivo JF Fotográfico, será realizado até o dia 22 de dezembro. Ao todo, serão oferecidas nove mostras com visitações gratuitas, debates e duas oficinas.
Ao todo, mais de 90 fotógrafos locais e de outras cidades, como Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Guarani integram o evento. O objetivo é celebrar a fotografia, ampliar a visibilidade desta linguagem artística e promover o diálogo dos profissionais com o público.
Neste sábado (17), o público pode ver uma prévia do festival durante a exibição do 5º “Varal Fotográfico”, realizado entre das 10h às 17h, na Praça Armando Toschi (Ministrinho), no Morro da Glória. O varal é realizado mensalmente, no terceiro sábado de cada mês.
Das nove mostras a serem realizadas, oito serão feitas no Centro Cultural Bernado Mascarenhas (CCBM) e uma no Museu Ferroviário. O local também será sede de debates e oficinas durante todo o festival.
Oficinas
A partir da próxima segunda-feira (19), os interessados poderão realizar inscrições para a oficina de “papel salgado”, que será ministrado pela professora da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Bárbara Almeida, no Museu de Arte Murilo Mendes. O custo para a inscrição é de R$ 50 e os participantes receberão um certificado.
As inscrições para a oficina serão feitas no Setor de Expediente da Fundação Cultural Alfredo Ferreira Lage (Funalfa), na Avenida Rio Branco, 2.234, no Centro, das 9h às 17h.
No mesmo dia, os interessados também poderão se inscrever na oficina “Fotografia, Periferia e Memória”, que será ministrada pelo professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Dante Gastaldoni. A oficina é gratuita e também emitirá um certificado.
Ao todo, serão disponibilizadas 25 vagas. Para se inscrever, é necessário formalizar uma inscrição no Setor de Expediente da Funalfa ou na Escola Municipal Santa Cândida, na Rua Jorge Raimundo, 531, no Bairro Santa Cândida, onde será realizada a oficina.
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Veículo: Tribuna de Minas
Editoria: Cultura
Data: 17/11/2018
Título: Ex-funcionária resgata história da extinta fábrica de tecidos Ferreira Guimarães
Muitas vezes não nos damos conta disso, mas memória e história possuem suas diferenças. Enquanto a primeira está sempre viva e é nossa companheira, a segunda geralmente costuma ser o trabalho de pesquisar e resgatar fatos passados. As duas, entretanto, podem convergir quando presentes na mesma pessoa. No caso, a professora e pesquisadora Cláudia Gaspar, autora do livro “História e Memória da Ferreira Guimarães”, que será lançado neste sábado (17), às 17h, no Centro Cultural Dnar Rocha, no Mariano Procópio, próximo a onde ficavam as duas unidades da centenária empresa, que deixou de existir em 2014 na cidade.
O trabalho, lançado por meio da Lei Murilo Mendes, adapta a pesquisa de mestrado em História na UFJF realizado por Cláudia entre 2012 e 2014, reunindo pesquisas em jornais antigos, como “O Pharol”, “Diário Mercantil” e Tribuna, visitas ao escritório da empresa, em São Paulo, ao acervo da Ferreira Guimarães que foi dado para o Instituto de Artes e Design (IAD/UFJF) e entrevistas com antigos funcionários – muitos dos quais antigos companheiros da escritora, nascida em Andrelândia mas que passou a maior parte de sua vida em Juiz de Fora e trabalhou na empresa entre 1987 e 2007, quando saiu na última das ondas de demissão em massa que tiveram início em 1995.
Nesse período, ela foi responsável, junto à equipe de Desenvolvimento de Produtos, pela criação das coleções de estamparia, desenvolvimento das variantes de cor para os desenhos, composição da cartela de cores, pesquisa de moda, atendimento a clientes e participação em feiras têxteis nacionais e internacionais, além de acompanhamento da produção e confecção de amostras de tecidos na unidade fabril em Juiz de Fora – a Ferreira Guimarães tinha outras unidades em Barbacena e em Valença, onde foi criada em 1906.
Assim como outros ex-funcionários, Cláudia Gaspar conta que ficou muito mal com a demissão, na época, afinal foram vários anos dedicados à Ferreira Guimarães. “Nunca mais voltei a trabalhar na indústria têxtil. Havia oportunidades na minha área fora da cidade, mas meus filhos eram pequenos, e decidi então me dedicar à área acadêmica. Um dos maiores incentivadores para a pesquisa a respeito da Ferreira Guimarães foi meu orientador, o professor Marcos Olender, que é da área de patrimônio cultural”, ressalta. “Minha graduação foi em artes, que também é ligada à questão do patrimônio, mas foi em um disciplina que fiz com ele que me apaixonei pela ligação entre história, arte, cultura e patrimônio.”
Histórias, relações e criação
Por isso, a pesquisa de Cláudia não se deteve apenas na história da indústria têxtil, buscando também descrever de que forma a Companhia Têxtil Ferreira Guimarães se manifesta nas lembranças de seus ex-funcionários; a importância da empresa na construção dessas identidades pessoais; quais desenhos foram criados ao longo do tempo através dessas relações; e quais pontos representam, através de suas significações, as linhas de construção dessas identidades.
Tais questões foram tratadas através de uma abordagem de História Social, com o livro dividido em três capítulos. No primeiro, é relatada a trajetória da Ferreira Guimarães relembrando as fábricas têxteis que a antecederam no local de sua instalação, caso da Fábrica dos Ingleses, que depois adotou o nome de Companhia de Tecidos Industrial Mineira, chegando às crises que forçaram demissões, o fechamento da unidade fabril e, por fim, o fechamento da unidade acabadora de tecidos. No segundo capítulo, a autora dedica-se ao trabalho de estamparia da Ferreira Guimarães e sua evolução em termos de criação e moda. No terceiro, a partir do depoimento de antigos funcionários, ela trata da Ferreira Guimarães como patrimônio e da memória têxtil criada a partir dessas percepções e representações.
Sob muitos aspectos, como diz a escritora, é “a história contada por quem viu a história”, e que possui laços de relações fortes até hoje. “Mesmo depois do fechamento da fábrica, com as pessoas se espalhando, elas mantiveram o vínculo. Hoje temos um grupo no WhatsApp que só cresce”, diz. Essas ligações, acrescenta, ajudam a manter vivas as memórias do cotidiano da empresa, em que muitas vezes gerações de uma mesma família se perpetuavam e que faziam com que elas sentissem interesse e orgulho pelo resultado do trabalho.
“Não só os criadores, mas os demais funcionários que viam a produção comentavam se as estampas eram bonitas ou não, tinham interesse em comprar o produto que estivesse disponível no varejo da fábrica. Ficavam enlouquecidos com estampas exclusivas, que eram para clientes específicos. E tinham um sentimento de pertencimento quando viam uma pessoa na rua, mesmo desconhecida, que estava usando uma roupa feita com nosso tecido, criava-se uma sensação de afinidade. O mesmo valia se vissem um roupa com nossa estampa na vitrine de uma loja.”
Trabalho acadêmico e afetivo
Mesmo sendo uma pesquisa acadêmica, Cláudia Gaspar disse que passou por diversos momentos emocionantes durante o processo, como a descoberta do material guardado no IAD e, principalmente, as entrevistas. Também ficou marcada pela visita ao escritório da empresa, em São Paulo, em que pôde fotografar material antigo, entre eles as estampas, todo o material encontrado no que restava da unidade que ainda funcionava em Juiz de Fora, apesar da sensação aflitiva de perceber os espaços vazios, as máquinas paradas, o silêncio que contrastava com a atividade incessante de antigamente.
“As pessoas sempre ficavam muito emocionadas nas entrevistas, às vezes choravam. E sempre muito solícitas para contar suas histórias. A maioria eu já conhecia, mas à medida que a pesquisa se desenvolvia, muitos se interessaram em falar. Essa relação ajudava a criar confiança, afinal tivemos as mesmas vivências. Foi bom até para mim mesma, por estar ligada a uma empresa e a tantas pessoas por tanto tempo.”
Por fim, a pesquisa ajudou Cláudia a terminar de encontrar o “chão” que havia perdido na época da demissão, em que ficou sem saber o que fazer no futuro. Atualmente, ela é professora de artes nas redes municipal e estadual de ensino e planeja partir o mais breve possível para o doutorado. “A pesquisa foi importante para trabalhar o vazio que eu sentia depois que tudo acabou. Isso, para mim, não tem preço. Foi fundamental para me sentir bem, ser quem eu sou hoje e mais próxima de quem eu era. É como se tivesse feito uma terapia graças ao livro. Foi bom para o meu próprio eu e a relação com a minha vida, da qual a Ferreira Guimarães faz parte.”
Trajetória que se cruzou com a história de Juiz de Fora
A Cia. Têxtil Ferreira Guimarães foi fundada em 1906, na cidade fluminense de Valença, por Benjamin Ferreira Guimarães, e se tornou uma das maiores empresas do setor no Brasil até o encerramento de suas atividades, em 2014, resultado de um longo e penoso período de crise, demissões, fechamento de unidades que resultou na falência em definitivo.
A empresa, porém, tem suas origens em Juiz de Fora devido a uma outra companhia têxtil, a Industrial Mineira, inaugurada em 25 de dezembro de 1883 e reconhecida como a primeira fábrica de tecidos da cidade. Também conhecida como Fábrica dos Ingleses, posteriormente Companhia de Fiação e Tecelagem Industrial Mineira, foi pioneira, em 1887, no uso da energia elétrica para a produção industrial, antes mesmo de Bernardo Mascarenhas introduzir a iluminação pública, foi a primeira empresa a operar a telefonia em Juiz de Fora e também teve um clube de futebol, o Esporte Clube Industrial Mineira, campeão em 1922 do campeonato da Liga de Juiz de Fora.
A Companhia de Fiação e Tecelagem Industrial Mineira foi sendo progressivamente adquirida, entre 1941 e 1942, pela Ferreira Guimarães, que assumiu o controle definitivo apenas em 1943. O nome da empresa , porém, foi mantido até 1974, quando passou a ser conhecida oficialmente em Juiz de Fora por Cia. Têxtil Ferreira Guimarães.
Apesar de alguns momentos conturbados, a Ferreira Guimarães seguia investindo. Em 1981, inaugurou uma nova unidade, a Central de Acabamento de Tecidos, ao lado da primeira fábrica. A crise, porém, retomou com força, com o encerramento das atividades em 1995 da unidade de Fiação e Tecelagem na Avenida dos Andradas, sendo que parte de sua estrutura foi tombada pelo patrimônio histórico e preservada. Em novembro de 2007, a empresa encerrou praticamente todas as suas atividades na Acabadora de Tecidos, demitindo quase todos os funcionários e iniciando um processo de Recuperação Judicial no mesmo ano. Em 2009, porém, foi decretada a falência da sociedade, e apenas as unidades de Juiz de Fora e Barbacena mantiveram alguma atividade, mas irrisória. A última unidade da cidade encerrou em definitivo as atividades em 2014.
HISTÓRIA E MEMÓRIA DA FERREIRA GUIMARÃES EM JUIZ DE FORA
Lançamento neste sábado (17), às 17h, no Centro Cultural Dnar Rocha (Rua Mariano Procópio, 973 – Mariano Procópio)
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Veículo: Tribuna de Minas
Editoria: Cidade
Data: 17/11/2018
Link: https://tribunademinas.com.br/noticias/cidade/17-11-2018/raio-x-da-saude-bucal-em-juiz-de-fora.html
Título: Raio-X da saúde bucal em Juiz de Fora
A saúde começa pela boca. A proposição não se refere apenas aos alimentos que ingerimos, mas também a alguns problemas bucais que, se não cuidados, podem evoluir para doenças graves e colocar em risco o corpo como um todo. Uma boa maneira de evitar que isto aconteça é a prevenção e, se possível, realizar visitas regulares ao dentista. O problema é que essa agenda não faz parte da rotina e nem da realidade de muitas pessoas. E os motivos são vários, incluindo a falta de condição econômica. Neste caso, a opção é o serviço do Sistema Único de Saúde (SUS) que, no entanto, sofre com a falta de investimentos governamentais nos âmbitos municipal, estadual e federal.
Conforme preconizado pelo Ministério da Saúde, a proporção entre o número de dentistas por habitante deve ser de um profissional para cada 1.500 e 5 mil habitantes. No entanto, o quantitativo de pessoas está relacionado à prevalência de cárie na população, sobretudo entre as crianças, quando as ações de prevenção são mais eficazes. Desta forma, segundo o estudo “SB Minas Gerais: Pesquisa das Condições de Saúde Bucal da População Mineira”, de 2013, 51,8% das crianças até os 5 anos de idade está livre de cárie na região que engloba Juiz de Fora. Assim, a Secretaria de Saúde da Prefeitura de Juiz de Fora (PJF) passou a adotar o esquema de um dentista para 2.500 habitantes. Entretanto, para uma população de cerca 540 mil pessoas, Juiz de Fora precisaria dispor 216 profissionais para cumprir o esquema, mas segundo a pasta, a cidade conta hoje com 140 cirurgiões-dentistas atuando, o que resulta em um dentista para cerca de 3.850 habitantes.
Esses profissionais estão divididos entre 33 Unidades Básicas de Saúde (UBSs) – um pouco mais da metade das unidades existentes hoje, que é de 63 -; quatro Centros de Especialidades Odontológicas (CEOs); três Unidades Odontológicas Regionais (UORs), um Pronto Socorro Odontológico (PSO) que funciona 24 horas; e um Centro Odontológico de Atenção a Pacientes Especiais (Coape). Todos esses locais, juntos, são responsáveis por realizar uma média de 5.197 atendimentos por mês. Além dos cirurgiões-dentistas, a população conta com outros 127 profissionais em saúde bucal, que complementam a assistência.
Na UBS
Conforme a Secretaria de Saúde, o acesso à odontologia começa pelas UBSs, desde que as mesmas ofertem o serviço. Da mesma forma como acontece com o atendimento médico, o usuário passa por uma consulta na qual as suas necessidades são avaliadas. Feita a triagem, ele tanto pode ser submetido aos serviços restauradores de atenção primária (obturações em resina, amálgamas e curativos) ou encaminhado ao atendimento de urgência. Após um diagnóstico do cirurgião-dentista na unidade, o paciente que tenha necessidade de um atendimento mais complexo é direcionado para os CEOs.
Nos CEOs, os usuários contam com os seguintes tratamentos: endodônticos (tratamento de canal), periodontais (tratamentos da gengiva), odontopediatria (atendimento a crianças de 0 a 5 anos) e cirurgias bucomaxilofaciais (extração de dente, extração de siso dentre outros procedimentos). Caso o paciente possua algum tipo de deficiência e demande outros procedimentos para auxiliar no atendimento, ele é levado até o Coape. Neste espaço, além de dentistas, há médicos, técnicos e auxiliares em saúde bucal, além de auxiliares de enfermagem. Estão disponíveis atendimentos endodônticos, periodontais, cirurgias e procedimentos sob anestesia geral.
Modelo medicocêntrico e falta de recursos
Mesmo com essas frentes de assistência, há demanda reprimida por alguns serviços na cidade, como é o caso de reabilitação (uso de próteses) e ortodontia. Na visão do especialista em Saúde Coletiva e Gestão Pública, Ivan Chebli, a cobertura odontológica no município é baixa. “Como o SUS prima pela integralidade do cuidado, o ideal era que todos os serviços fossem garantidos. Quando a demanda é maior do que as possibilidades, as pessoas acabam optando por uma das prioridades. Historicamente, isso tem ocorrido em Juiz de Fora. Não é de hoje que a saúde bucal, enquanto ação estratégia de atenção básica, preconizada pelo Ministério da Saúde, não tem tido muita ênfase, pois os recursos são limitados. O financiamento federal para a saúde bucal é insuficiente para garantir a universalidade de acesso via atenção primária. A pouca valoração da saúde bucal pelos gestores, financiadores e da própria população, tem levado a uma baixa cobertura do serviço.”
Chebli explica que o modelo de atenção à saúde no Brasil é medicocêntrico, ou seja, todo o atendimento gira em torno das demandas médicas. Isto se deve à estratégia de atenção pensada e aplicada na década de 1990, que na época, retirou a assistência odontológica de dentro dos unidades básicas. “Os projetos arquitetônicos da época excluíram o ambiente para este atendimento. Pensou-se em regionalizar, então, foram criadas as Unidades Odontológicas Regionais (UORs). Embora aprovada, de certa forma, tirou o dentista e a discussão da saúde bucal das unidades básicas. Mas quem faz a saúde bucal não é o dentista apenas, mas toda a equipe multidisciplinar, ou seja, o enfermeiro, o médico, o agente comunitário. A educação pra saúde não pode ser monopólio de nenhum profissional”, defende.
Por isso, as ações odontológicas atualmente são voltadas para a prevenção em massa, a partir da fluoretação das águas, acesso à escovação e bochechos com flúor nas escolas, além da distribuição de kits com escova, pasta de dente e fio dental. Segundo o especialista, os indicadores de saúde bucal melhoraram muito dos anos 1980 pra cá, principalmente quanto à incidência de cárie. No entanto, o grande problema hoje é a população da faixa de 40 a 50 anos, que não se beneficiou do crescimento da odontologia preventiva. Esta é a geração que teve altíssima incidência de cárie, resultando na perda dos dentes, elevando a demanda para atendimentos mais especializados.
“Por isso, os trabalhos hoje são voltados para conter a cárie e a doença periodontal, para que elas não evoluam e demandem serviços mais específicos. É preciso fazer o básico bem feito. Eu defendo a volta da equipe de saúde bucal para as unidades básicas de saúde, nem que isso demande um projeto de revisão da estrutura assistencial do município, com locação regional de equipes de saúde bucal de suporte à saúde da família ou integradas em unidades que possuem o ambiente para o serviço. Isto faz com que as ações de promoção e de prevenção se ampliem, se multipliquem, não apenas o acesso a cura”, explica Chebli.
Clínicas das faculdades desafogam atendimento
Uma forma de preencher essas lacunas deixadas pelo SUS é buscar as clínicas odontológicas presentes nas faculdades. Três instituições de ensino superior em Juiz de Fora que disponibilizam a graduação e a pós-graduação em Odontologia oferecem especialidades a custo mais acessível (ver quadro). A prática adotada por essas entidades, conforme o especialista em Saúde Coletiva e Gestão Pública, Ivan Chebli, ajuda a suprir as demandas. “É uma parceria fantástica, pois desafoga parte do atendimento que seria direcionado para as UBSs e os CEOs, e até com mais complexidade”, pontua.
No Centro Universitário Estácio, a clínica de graduação realiza, por mês, entre 1.500 a 1.600 atendimentos. Já a clínica da pós-graduação realiza de 250 a 300 atendimentos mensais. Conforme a professora e coordenadora da clínica de odontologia da Estácio, Tatiana Dias Costa, os pacientes chegam à faculdade das seguintes formas: encaminhados pelo serviço público municipal; encaminhados por outras instituições de ensino odontológico ou por profissionais cirurgiões-dentistas de Juiz de Fora e região.
Plano individual
“Qualquer pessoa interessada em ingressar em nosso atendimento odontológico pode nos procurar diretamente, por telefone, e agendar um horário para triagem. Nesse atendimento inicial, os pacientes são examinados, é elaborado um plano de tratamento individualizado e depois são encaminhados aos atendimentos específicos necessários”, explica Tatiana. Ao longo do tratamento, o paciente é atendido pelos alunos, que são supervisionados pelos professores.
A população é recepcionada dentro dos seguintes cursos de pós-graduação: endodontia (com atendimentos em variados graus de complexidade, uma vez que somos referência no atendimento endodôntico auxiliado pela microscopia óptica); ortodontia, utilizando mini implantes extra alveolares; implantodontia que é referência nas reabilitações estéticas sobre implantes com manipulação tecidual e preservação óssea alveolar, além dos cursos de prótese e odontopediatria.
Nas especializações, os pacientes são encaminhados ou buscam diretamente pelos atendimentos. Segundo Tatiana, o serviço é gratuito, exceto quando o tratamento demande serviços laboratoriais. “O paciente precisa arcar com custos de insumos e de trabalhos laboratoriais executados em laboratórios protéticos particulares, fora da faculdade, quando se fizerem necessários.”
Cobrança recai só sobre insumos
A mesma prática ocorre na Faculdade de Ciências Médicas e da Saúde (Suprema). Segundo o coordenador dos cursos de graduação e pós-graduação em Odontologia da entidade, Rodrigo Guerra, os atendimentos ofertados englobam o que o SUS já oferece, somados a especialidades e atendimentos de complexidade que o serviço público não dispõe. “Tudo de forma gratuita, exceto quando há serviços feitos por protéticos, como restaurações indiretas (pontes, coroas e dentaduras), por exemplo. Mesmo assim, o valor é bem mais acessível, cerca de 50% mais barato do que em um consultório particular. Em contrapartida, o paciente precisa entender que o tratamento pode ser demorado, pois tratam-se de profissionais em formação e assistidos pelos professores”, destaca.
O cadastro de pacientes é aberto a toda a população, independente da condição financeira, idade e gênero, e pode ser feito pelo Hospital e Maternidade Therezinha de Jesus (HMTJ), que é 100% SUS e administrado pela entidade. Além do atendimento ambulatorial, feito por cinco cirurgiões-dentistas do próprio hospital, o HMTJ ainda conta com quatro dentistas residentes (do programa de residência odontológica), que fazem o atendimento hospitalar aos pacientes internados, principalmente aqueles entubados por muito tempo na unidade hospitalar. Rodrigo explica que a triagem é feita no HMTJ por esses profissionais e, após a avaliação, o paciente é encaminhado à unidade onde o tratamento vai acontecer, dependendo da complexidade. Desta forma, ele pode ser atendido na clínica do Campus no Salvaterra, no próprio HMTJ ou na clínica da pós-graduação, no São Pedro. Nas três unidades, a Suprema é responsável por realizar entre 600 e 800 atendimentos por mês.
Na UFJF, o agendamento é presencial
Na Faculdade de Odontologia da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), o atendimento é gratuito e acontece por meio de agendamento, que deve ser feito de forma presencial, das 8h às 11h ou das 14h às 17h, de segunda a sexta-feira durante o período de aula. Além disso, conforme a diretora da instituição, Maria das Graças Afonso Miranda Chaves, a clínica também recebe pacientes encaminhados pelas UBSs. No entanto, a assistência vai de acordo com o serviço designado durante o acolhimento e a triagem na clínica, ou seja, o paciente é agendado conforme o conteúdo estudado em sala de aula.
“Se vamos fazer o tratamento de canal (endodontia), por exemplo, preparamos as salas para ser realizado esse tipo de serviço e colocamos todos os pacientes que possuem essa demanda. Vale lembrar que tanto este tratamento, como nos outros, são os alunos que fazem, sendo supervisionados pelos professores”, explica. Além disso, a diretora destaca que alguns casos específicos podem ser encaminhados aos projetos de pesquisa realizados na faculdade, como no curso de mestrado, por exemplo.
Atualmente, segundo Maria das Graças, a Faculdade de Odontologia oferta apenas um curso de especialização, que é o de Ortodontia, mas ainda não há demanda significativa de pacientes. A expectativa é que, com a retomada dessas pós-graduações, prevista para acontecer em breve, a entidade possa ampliar o serviço mais especializado.
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Veículo: Tribuna de Minas
Editoria: Coluna Cesar Romero
Data: 17/11/2018
Título: Voo livre
Elizabete e Ricardo Spinelli Pinto estão festejando a formatura do filho Rodrigo Almeida Pinto em arquitetura e urbanismo pela UFJF
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Veículo: Tribuna de Minas
Editoria: Coluna Cesar Romero
Data: 18/11/2018
Título: Alunos da UFJF se destacam em competições nacionais e internacionais
Montar e programar um robô ou elaborar um projeto de engenharia de um avião do zero. As atividades, complexas num primeiro momento, são oportunidades que estudantes da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) possuem para aliar o conhecimento teórico obtido nas salas de aula com a prática. Em meio aos inúmeros galpões da Faculdade de Engenharia, duas equipes formadas por estudantes retornaram de viagem, na última semana, com títulos nacionais e internacionais, além de muita experiência profissional.
Em João Pessoa (PB), os alunos da equipe Rinobot, que trabalha com criação e programação de robôs, alcançaram o terceiro lugar da categoria Standard Platform League (SPL) na Competição Latino-Americana e Brasileira de Robótica. Nesta classe, os estudantes foram responsáveis pela programação de robôs que disputam uma partida de futebol com quatro jogadores, sendo três de linha e um no gol. Os equipamentos são autônomos, ou seja, não há qualquer interferência humana nas atividades do androide no meio da disputa.
No Sudeste, em São José dos Campos (SP), a equipe Microraptor, que projeta aeronaves, ficou em terceiro lugar na competição SAE Brasil de Aerodesign – categoria Micro. No torneiro, eles foram desafiados a extrair uma carga durante o voo e desmontar toda a aeronave, fazendo com que ela coubesse integralmente em uma caixa de 30 litros. Os estudantes também ficaram em segundo lugar pelo relatório técnico do produto, que foi avaliado por engenheiros da Embraer.
Apesar de envolver diferentes conhecimentos, para os estudantes das duas equipes, as competições oferecem a possibilidade de desenvolver diversas habilidades que não são ensinadas no dia a dia, como novos conteúdos, gestão de pessoas e trabalho em grupo. “É uma experiência de aprender conteúdos que não vimos na Universidade, aprendemos muita coisa por conta própria e é interessante por isso, bater cabeça e colocar em prática esse conteúdo. Isso serve de motivação para, muitas vezes, as pessoas que estão desanimadas para o curso e que acabam seguindo na área depois de formado”, afirma o aluno de Engenharia Elétrica, Guilherme Aparecido Barbosa Pereira.
Na avaliação da estudante de Engenharia Elétrica com habilitação em Robótica e representante da Rinobot, Rayssa Soares, a troca de conhecimentos com outros acadêmicos aproxima o grupo do objetivo de constituir, até o ano de 2050, um time de androides com habilidades suficientemente desenvolvidas para jogar contra humanos. “Ano passado estive (na mesma competição) em Curitiba (PR), e o que nós aprendemos de lá para cá de equipes dando dicas é muito interessante. Fora o contato com pessoas que já estão no mercado, que já passaram por essa mesma experiências e problemas, é muito bom”, relata.
Para Rayssa, os resultados consolidam os nomes das equipes de competição não apenas em Juiz de Fora, como em todo o país, criando a possibilidade de obter mais financiamento para participar. “Precisamos desse reconhecimento, de recursos para comprar componentes e arcar com custos de viagens, que são bem altos, e de mais investimento para levarmos mais membros para as competições, além de resolver imprevistos que acontecem na hora”, conclui.
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Veículo: Tribuna de Minas
Editoria: Cidade
Data: 18/11/2018
Título: A luta em uma sociedade que ainda oprime o diferente
Não é preciso gerar um bebê para saber que, durante a sua espera, muitas expectativas e planos são feitos pelos pais para o futuro do filho ou da filha. Que se case, constitua família e possa dar netos. Que entre em uma universidade, faça um concurso público… Que seja uma pessoa feliz e realizada em todas as áreas da vida. Muitas vezes, no entanto, o destino exige que a família saia de sua zona de conforto e reveja todos os pré-conceitos outrora concebidos e reforçados por uma sociedade que ainda oprime e marginaliza o diferente.
Em tempos onde a intolerância impera, parece que ter um filho gay, uma filha lésbica, ou trans, por exemplo, é um fardo a ser carregado. Mas sabemos que isso não é verdade. Para ressaltar a questão, a Tribuna conta a história do grupo “Mães pela Diversidade”, formado por 11 mães e um pai que acolheram seus filhos LGBTQI+.
Tudo começa com o olhar que é lançado sobre a prole, desde quando ela é gerada. “Muitas vezes a vontade de ter um filho diz sobre essa vontade de vencer a morte. Quero deixar algo de meu, perpetuar algo por meio dele. Quando uma mulher descobre que está grávida, a família vai investir na criação que reflete nos valores que se tem”, diz o professor da Faculdade de Educação da UFJF e um dos líderes do Grupo de Estudos e Pesquisas em Gênero, Sexualidade, Educação e Diversidade (Gesed), Anderson Ferrari.
Esse investimento, no entanto, culturalmente não inclui a homoafetividade como opção. “Nenhuma mãe ou pai pensa na possibilidade de o filho ser homossexual. Quando ele se assume, a impressão que dá é a existência de um rompimento com essa idealização. E a reação, em um primeiro momento, costuma ser a de mandar se virar. Isso é muito ruim, porque a família é o lugar da afetividade”, salienta Ferrari. Por isso, a experiência de ser mãe ou pai de uma pessoa LGBTQI+ é, para o professor, um convite a olhar os filhos como eles são e não como se quer que eles sejam. “No geral, os filhos querem ser amados por seus pais e mães da maneira como eles são. Embora ocorra esse investimento do que os pais querem que eles sejam, esse investimento não é garantia de sucesso, porque o que marca a existência humana é a imprevisibilidade. A dificuldade em lidar com um LGBT é a dificuldade de lidar com o imprevisível.”
Essa sugestão de caminho, que passa pelo acolhimento e pelo aprendizado mútuo, é algo que Regina, Rosângela, Júnior e as demais participantes do “Mães pela Diversidade” ajudam a fortalecer em outros núcleos familiares. Apesar da trajetória individual de cada um, eles dividem o abraço, o respeito e o orgulho pela trajetória de seus filhos. Para que isso aconteça, no entanto, é preciso que os familiares estejam dispostos a se abrir para o conhecimento.
“O caminho do acolhimento é o caminho do conhecimento. Lidamos mal com as questões LGBTs porque a gente sabe pouco. O saber que sustenta essas relações é o senso comum. Que é o saber que liga qualquer expressão LGBT à doença, ao pecado, aos saberes religiosos. Sempre investimos no Gesed na construção do saber. Tentando entender o que as homossexualidades dizem de uma construção de identidade, desde o século XIX. Esse conhecimento coloca a homossexualidade em um caminho muito melhor” pontua Anderson Ferrari.
Iniciando a caminhada
Há mais de 20 anos, Rosângela Gonzaga e Wander do Carmo Júnior se casaram. O plano era construir uma família, o que vem sendo realizado com muito sucesso. Os anos foram passando e seus quatro filhos foram crescendo e assumindo suas identidades. Do quarteto, três são LGBT: um gay, uma lésbica e uma bissexual. Apesar dos comentários alheios e algumas frustrações quanto aos planos futuros pensados para eles, Rosângela e Júnior entenderam que fechar as portas só deixaria a caminhada ainda mais longa, triste e solitária.
“O preconceito não pode começar dentro de casa. A família é o abrigo, é o primeiro lugar onde eles devem se sentir protegidos. O fato de ser gay, lésbica, trans, bi, não muda nada. Quando você coloca seu filho para fora de casa, você o mata, o criminaliza, faz ele se prostituir, parar de estudar, tudo fica mais difícil. A família é lugar de proteção e não está relacionada ao gênero, mesmo porquê, isso não é uma escolha. A falta de apoio da família é uma ferida que não fecha”, destaca Rosângela.
Para o marido, porém, o processo não foi tão fácil, mas precisou tocar em seu íntimo para que a barra não ficasse pesada. Para ele, o momento crucial foi no olhar, na forma como você enxerga o próprio filho. “Tive muito medo e sofri pensando no que meus pais, meus irmãos e meus amigos iriam dizer de mim. Eu não pensava nos meus filhos, eu pensava em mim. Isso estava acabando comigo e com a minha família. Tive que reaprender a construir a minha família e, por meio desse processo, aprendi a amar o ser humano”, pontua.
A vontade de repassar essa experiência a outras famílias, no intuito de promover este acolhimento, fez com que Rosângela e Júnior conhecessem o “Mães pela diversidade”, um grupo que existe em pelo menos 23 estados brasileiros e que, há quase um ano, passou a contar com um braço em Juiz de Fora. Entres as causas defendidas pelo grupo está a luta pela manutenção dos direitos conquistados pelos LGBTs e no avanço destas pautas, além de promover o acolhimento, mostrando que pessoas LGBT têm pai e têm mãe, e, como Rosângela mesma gosta de dizer, “não são filhos de chocadeira”.
Abraço familiar
A necessidade desse abraço familiar e desse posicionamento político é fundamental, como reitera o professor Anderson Ferrari, porque esse é o primeiro núcleo em que o indivíduo se encontra. “Muitas vezes a família é o lugar da discriminação, é o primeiro ambiente em que a pessoa sofre agressões. Grupos LGBTs já tinham se organizado para criar locais de acolhimento para adolescentes, que são insistentemente expulsos de casa.”
Nesse sentido, a abertura experimentada pelas mães, quando aderem a uma organização como o Mães pela Diversidade, ajuda a fortalecer os laços não só com seus próprios filhos, mas também com outras mães que estão caminhando pela mesma via e precisam de apoio e informação. “A partir do momento que essas organizações existem, outras mães podem se espelhar nelas e procurar ajuda. Seja para conversar sobre os processos que viveram, ou refletir sobre o que estão passando. Essa reunião também proporciona a existência de ações mais efetivas, em diversas demandas, como as escolares, ou ligadas a outras instituições. Esse coletivo faz com que elas se fortaleçam”, pontua Anderson Ferrari.
Encurtando os caminhos
Diferente de Rosângela e Júnior, a família de Regina Célia Medeiros precisou lidar com a transexualidade. E foi a pedido da Júlia – sua filha, uma mulher trans – que Regina encontrou o grupo. Mas o objetivo não era compreender o seu momento em particular, e sim somar, ajudando outras famílias a encararem o processo de transição de gênero como algo menos dolorido e traumático. Para ela, o que torna esse caminho mais curto, e menos sofrido, é a aceitação, a conversa e o diálogo. “Em vez de criarmos distâncias, devemos criar proximidade. Se você não dá abertura para ouvir o que o seu filho tem a dizer, ouvir o que ele está sentindo, ninguém se escuta. A partir do momento que você está disponível para ouvir o que o seu filho tem a dizer, as coisas ficam mais fáceis. É uma construção em conjunto”, explica.
Dar a oportunidade de ouvir, para ela, é um jeito de nos livrarmos de certos preconceitos e dificuldades. “A família é o primeiro lugar onde há uma diversidade enorme. Cada um pensa de um jeito, age de um jeito e ninguém escreve na testa o que é. A mensagem que queremos mostrar é: devemos criar pontes, não muros. A não aceitação da família causa uma ferida muito profunda. É um preço muito alto que você faz o outro pagar pelo seu egoísmo, por não querer ouvir o que o outro tem a dizer.”
E foi superando os trechos mais áridos e penosos desse percurso que Regina ampliou seus conhecimentos. “O sofrimento não está relacionado à questão social. Há muitas pessoas tidas como mais humildes, mais simples, mais pobres, sem estudo, faculdade ou doutorado, que conseguem acolher seu filho, manter uma relação de amizade, aceitação e alegria com eles, enquanto há muitas pessoas que, apesar de uma posição social muito boa, com grau de instrução alto, passa por todo esse sofrimento, humilhação, agressividade.” Segundo Regina, os medos, geralmente, pairam sobre qual ideia ou imagem as pessoas de fora fazem a respeito da relação dos pais com os filhos LGBTs.
“Todo mundo idealiza filho, marido, casamento. Tudo o que foge desse ideal é diferente e, portanto, inaceitável, o que dificulta a convivência. Por isso, mudar a forma como a família responde é um ponto chave”, afirma. Quando ao contrário do que aconteceu com Regina e Júlia ocorre, as consequências são drásticas. “O não acolhimento gera adoecimento, depressão. No limite, pode até mesmo levar a uma tentativa de suicídio. É um quadro muito doloroso. Porque é esperar que os filhos correspondam às expectativas dos pais. A primeira coisa é olhar os filhos pelos olhos deles e não pelos olhos dos pais. Todos nós temos o direito de sermos o que quisermos ser. Não temos que ser o que os nossos pais querem que sejamos. É preciso lembrar que são filhos, independente de serem ou não LGBTS. Esse é o convite e o desafio”, considera Ferrari.
Chegando juntos e indo em frente
Todo trajeto pressupõe diferentes paisagens, passagens altas e baixas, o dia que segue a noite e, muitas vezes, surgem curvas que exigem cuidado redobrado. Todas essas nuances podem se manifestar na vida de qualquer pessoa, não marcando exclusivamente a história de grupos familiares diversos. “Famílias que possuem alguém do público LGBT são associadas a tudo o que é errado, permissivo. Não é assim que funciona. Às vezes, um filho heterossexual te dá muito mais trabalho que um filho gay. Isso acontece porque somos seres humanos”, assegura Rosângela Gonzaga.
Para ela, a abertura de visão de mundo que toda esse percurso provoca ajuda a melhorar as relações. “Quando a pessoa não precisa esconder quem ela é, tudo fica melhor. Nosso filho era agressivo na adolescência e a gente não conseguia entender. Quando ele falou, relaxou, mudou e entendeu que não precisava ser um ator.” Ainda de acordo com Rosângela, a aceitação e o acolhimento não significam o fim das dúvidas, incertezas e ansiedades. “Todos temos inseguranças todos os dias, o tempo todo. Isso não é privilégio da comunidade LGBT. Isso é igual para todo mundo.”
Já Regina reforça que, quando as pegadas ficam no chão, lado a lado, é possível ganhar muito mais, inclusive, a reinvenção da própria maneira de ver a si próprio. “Aprendi com a Júlia o enfrentamento, mas também com a autoestima que ela ganhou. Porque a partir do momento que ela formou a autoestima dela, fui tendo a minha também. É uma construção compartilhada. Aprendemos juntas, nos fortalecemos. Ela traz uma energia tão boa, a casa ganha mais leveza, mais alegria e mais cor.” A sugestão que ela deixa, para quem deseja investir em uma relação de diálogo, é se questionar o que, de fato, as pessoas entendem como amor. Entendendo a importância desse sentimento, todas as pedras que se puserem no caminho, vão ser retiradas com mais facilidade.
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Veículo: Tribuna de Minas
Editoria: Coluna Cesar Romero
Data: 18/11/2018
Título: Saúde da criança
Organizado por Viviane Afonso e com selo da Editora da UFJF, será lançado dia 26, o livro “Temas essenciais em puericultura”, para estudantes de medicina e profissionais dedicados à saúde da criança e do adolescente. Um dos capítulos – A prevenção de queimaduras – é assinado pelos médicos Marílho Dornelas, Marília Dornelas Correa e Marcília de Castro Dornelas, com ilustrações de Guilherme Neder Filho.
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Veículo: Tribuna de Minas
Editoria: Coluna Cesar Romero
Data: 18/11/2018
Título: Sobre a neurologia
Dia 22, na Sociedade de Medicina e Cirurgia, o neurologista Thiago Cardoso Vale estará autografando o livro, “Guia de Bolso de Neurologia”, realizado em colaboração com editores da Escola Paulista de Medicina/UNIFESP. O livro apresenta 12 seções com 69 tópicos em neurologia de autoria de profissionais da UFJF, Suprema, UFMG e Unicamp.
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Veículo: Tribuna de Minas
Editoria: Coluna Cesar Romero
Data: 18/11/2018
Título: Voo livre
Hoje, na Concha Acústica da UFJF, tem show da Orquestra Juiz de Fora.
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Veículo: Tribuna de Minas
Editoria: Coluna Cesar Romero
Data: 18/11/2018
Título: Voo livre
A nutricionista Tânia Bicalho foi aprovada no mestrado da UFJF. Vai se dedicar à pesquisa em comunicação e saúde.
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Veículo: Tribuna de Minas
Editoria: Cultura
Data: 18/11/2018
Título: Pesquisador reconta a história da República até os dias de hoje
Enquanto giram os ponteiros do relógio, está sendo escrita a história. Mas não sistematizada. Para que isso aconteça, é preciso algum distanciamento temporal. Não muito. O quinto volume da coleção “O Brasil Republicano” (Editora Civilização Brasileira), que acaba de chegar às prateleiras distancia-se de seu recorte em apenas dois anos. A coletânea de artigos retrata a Nova República, de 1985 a 2016. Para os organizadores, Lucilia de Almeida Neves Delgado e Jorge Ferreira, encerra-se um ciclo na República brasileira, sobre a qual desenvolveram as outras quatro edições da coleção.
Lançado em 2003, o conjunto de livros estancava no regime militar. O primeiro volume, “O tempo do liberalismo oligárquico”, retrata a Primeira República (1889 – 1930); o segundo aborda os 15 anos seguintes sob o título “O tempo do nacional-estatismo”; o terceiro volume, “O tempo da experiência democrática”, engloba os 19 anos que se seguiram a 1945; o quarto, por sua vez, trata da ditadura militar e se encerra em 1985. Os historiadores e professores (ela aposentada pela PUC Minas e pela UFMG, ele, titular na UFF) encararam o desafio de descrever os anos recentes. Retrato de uma escrita em construção. “Essa coleção é composta de dez a 12 capítulos por volume, de temas amplos e gerais, resultado da pesquisa de professores universitários, de instituições federais e estaduais e de institutos de pesquisas. Eles tratam de temas amplos, que interessam não apenas estudantes de história, mas o grande público. Temos retratada a Revolução de 1930, o golpe de 1964, o governo de Juscelino Kubitschek, a crise da ditadura, dentre outros. Essa coleção, ao longo do tempo, foi sendo muito utilizada por alunos de graduação e pós-graduação das ciências humanas. Chegamos à sétima reimpressão”, comemora Jorge Ferreira, desde janeiro professor visitante do programa programa de pós-graduação em história da UFJF.
Volumosa, a atual coletânea de mais de 500 páginas reúne 13 ensaios sobre a história do presente. O livro parte de um texto sobre o desafio de escrever sobre os anos recentes, e passa ao artigo sobre a transição democrática liderada por José Sarney. Em seguida, retrata o Plano Cruzado, as eleições presidenciais de 1989, a Era Collor, a reestruturação produtiva e o mundo do trabalho na década de 1990, o Plano Real e o governo de Fernando Henrique Cardoso, o MST como um dos principais movimentos sociais da Nova República, a cultura nesse período, a cena do rock nas década de 1980 e 1990, as relações internacionais nas três últimas décadas, os governos petistas e, por fim, a cidadania desde 1988. Professores do departamento de história da UFJF, Cláudia Viscardi e Fernando Perlatto assinam o último texto, “Cidadania no tempo presente”, no qual abordam os desdobramentos da atual Constituição. Além de tratar do ofício um tanto corajoso do historiador, Jorge Ferreira, em entrevista à Tribuna por telefone, ressaltou, na semana em que o país celebra os 129 anos da Proclamação da República, o caminho um tanto tortuoso do Brasil para dar voz ao público.
Tribuna – Qual motivo de retomar a coleção com esse quinto volume sobre as décadas recentes?
Jorge Ferreira – Passados 13 anos do lançamento, a editora aceitou fazer uma reformulação em toda a coleção. Os autores tiveram a oportunidade de revisarem seus capítulos. Nesse tempo, muita coisa já havia sido produzida. Também procuramos suprir algumas lacunas que ficaram em alguns volumes, como, por exemplo, sobre a relação internacional do país. Na Primeira República faltava um capítulo sobre isso, como também faltava no terceiro volume, da experiência democrática, um capítulo exclusivo sobre o governo Vargas. Assim, surgiu a proposta de publicarmos o quinto volume, inédito, que chamamos de “O tempo da Nova República: Da transição democrática à crise política de 2016”, que procura cobrir, em vários temas, o que o Tancredo Neves batizou de Nova República. O livro é um panorama sobre esse período, enfocando várias dimensões dessa época, da história econômica, social e cultural.
Qual é o lugar da Nova República em nossa República?
Vemos de maneira muito positiva essa experiência, porque a Constituição de 1988 ampliou imensamente os direitos sociais, até então inéditos na sociedade brasileira. Foi um período de avanço da cidadania, dos direitos das minorias, dos direitos das mulheres. Nesse sentido, a Nova República foi uma experiência muito interessante, como também foi positiva em termos políticos, mesmo com todos os problemas que os regimes democráticos apresentam. O calendário eleitoral foi cumprido, as oposições venceram – quem era oposição ganhou eleição -, houve imprevisibilidade eleitoral, o que é típico de regimes democráticos. Ainda houve avanços econômicos. A sociedade brasileira passou a perceber a importância do fim da inflação, deixando de entender a inflação como um elemento positivo para o desenvolvimento, e também valorizou o crescimento econômico. Todo o aprendizado desse período é positivo.
É comum ouvirmos que o Brasil não superou a ditadura. Você concorda?
Grande parte dos estudiosos do tema concordam que a transição política brasileira foi diferente das outras do Cone Sul – Chile, Argentina e Uruguai -, onde os responsáveis pelas ditaduras tiveram que responder pelos seus atos, e o poder civil se impôs sobre o poder militar. No caso brasileiro, o regime militar impôs uma anistia ao Congresso Nacional, na qual incluía os chamados crimes conexos, uma invenção que não pune os agentes de estado que praticaram atos de tortura. Isso permitiu que os militares saíssem ilesos daquele processo e deu a liberdade para que parlamentares e outros políticos elogiem o regime militar e torturadores, o que é inadmissível em regimes que se querem democráticos.
Também ouve-se bastante sobre uma imaturidade da República brasileira, que com muitos percalços completou 129 anos. Porque ainda não atingimos a maturidade?
É um processo em construção. As ideias de República e de democracia vão sendo erguidas ao longo do tempo. É um aprendizado. Nos anos 1930, os trabalhadores aprenderam o que eram os direitos sociais. Até então não sabiam o que era isso, ainda que lutassem por esses direitos. Não sabiam como usufruir desses direitos. Também aprendemos que votar é bom e pode ser uma avanço para a sociedade. Essas coisas são aprendidas. No Brasil há algumas dificuldades, como a de valorizar a democracia. Há grupos e setores sociais que veem a democracia como um empecilho, veem o debate político e as divergências como impedimento para o avanço econômico. Também há uma dificuldade em reconhecer os valores republicanos, o que chamamos de coisa pública. Por exemplo: as pessoas têm as casas muito limpas, mas as ruas, públicas, acostumaram-se a sujar. Essa ideia de coisa pública ainda precisa ser compreendida. Aquilo não é meu, é de todos. As práticas republicanas precisam ser valorizadas socialmente, e deve vir de cima. Os governantes devem servir como exemplo.
A democracia é a única via para o desenvolvimento, portanto?
Num regime democrático é que se pode construir uma sociedade melhor. Tudo isso é aprendizado. A democracia não é o pote de ouro no final do arco-íris. O arco-íris não tem final e não há pote de ouro. Esse pote de ouro deve ser construído pela sociedade, com a prática democrática e republicana. É como o (Winston) Churchill fala: “A democracia é o pior dos regimes, exceto todos os outros”. Regimes de força, sejam de direita ou de esquerda, levam às práticas autoritárias, que são reproduzidas na própria sociedade e, ao final, perde-se essa sociedade. Não basta dizer que queremos saúde e educação. Queremos saúde, educação e regime democrático.
Crescentemente reivindica-se por outros lados de uma mesma narrativa. Há diferentes ângulos na história?
Um historiador, evidentemente, tem suas preferências teóricas e nunca é neutro, mas tem um compromisso com a verdade. E a verdade está nos documentos, nas evidências. Que os processos políticos tenham várias versões, é evidente que têm, mas, por exemplo, no caso do nazismo vou tomar a versão dos nazistas como tão legítima quanto a dos judeus? Não é possível! Não há como dizer que os nazistas tiveram seus motivos para fazer o que fizeram. O relativismo não tem compromisso com a verdade. O nazismo foi um regime abominável e repugnante de extrema-direita, que elegeu o ódio racial como política para exterminar milhões de pessoas, não apenas os judeus, mas Testemunhas de Jeová, cardiopatas e muitos outros. Dizer que a escravidão tem dois lados como? É impossível! O escravizador explorava o escravizado à base de chicote. Como dizer que ele teve razões para isso? É evidente que, como historiador, é possível querer saber o que dizia o escravizador, mas não há como colocá-lo em pé de igualdade com o escravizado.
Sendo assim, como foi organizar um livro que retrata exatamente um momento recente de um país dividido politicamente?
Na Nova República essa divisão é política e foi trabalhada de maneira muito democrática. Havia de um lado um partido conservador e privatista, o PSDB, e de outro, um partido de centro-esquerda estatista, o PT, além de um partido pendular, que ora apoiava um ou outro, o PMDB. Todos esses partidos apostaram no jogo democrático. A palavra correta, então, talvez não seja divisão política, mas pólos políticos. Ora a sociedade brasileira viu no PSDB e em seu projeto privatista uma alternativa para o desenvolvimento econômico, ora viu no PT e em seu projeto estatista uma alternativa. Um respeitava a derrota para o outro, o que faz parte do jogo democrático. O PT, que era oposição, tornou-se situação. E o PSDB, que era situação, tornou-se oposição. Essa polarização, que faz parte da sociedade – ela não pensa igual, sempre há grupos, correntes de pensamentos -, sempre foi resolvida de maneira democrática. O problema começa na reeleição da Dilma, quando o PSDB não aceita o resultado das eleições, e é iniciado um processo para derrubar a presidente.
Por essa razão decidiram concluir o recorte da análise do livro em 2016?
O nó górdio (metáfora da lenda do rei da Frígia e Alexandre, o Grande para problema insolúvel) da Nova República foi quando não se aceitou a derrota eleitoral democraticamente e criou-se um ambiente para retirar a Dilma Roussef da presidência. O PSDB e o PMDB romperam com o pacto democrático. O resultado foi o que vimos agora. Os dois partidos pagaram caro, com o PSDB tornando-se quase um partido pequeno, e o PMDB reduzindo sensivelmente sua bancada. Isso abriu espaço para grupos mais à direita, como o de Bolsonaro. Essa foi a crise. O que temos hoje é o PT, com todas as suas dificuldades e problemas, e o crescimento de uma direita, que não é o PSDB.
E qual momento se inaugura a partir de 2016? Há um nome para isso?
Toda coletânea deve ser plural, não pode ser a partir de um único ponto de vista, deve ter uma diversidade interpretativa. Chamamos de crise política de 2016. Alguns interpretam como impeachment, outros como golpe. No livro temos autores que defendem esse momento como um golpe, outros veem que foi um processo dentro de regras constitucionais. O livro respeita essa pluralidade. Como organizador, considero que o que houve em 2016 foi um golpe do parlamento contra a presidente, que pôs fim ao pacto democrático da Constituição de 1988, encerrando, portanto, a Nova República. Apenas finaliza. O que vem ainda não tem nome. Começamos um novo ciclo na política brasileira. Não sabemos o que vem pela frente. Espero que os poderes da República tenham o equilíbrio suficiente para solidificarmos o processo democrático.
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