A podcaster Tupá Guerra é uma das convidadas do 6° Fala Ciência

Não só de artigos científicos vive a divulgação da ciência – e, para fazer com que o conhecimento se estenda não só além dos muros da Universidade, mas também alcance vários tipos de mídia, a divulgação científica se espalha por várias plataformas de produção de conteúdo, desde o Youtube até os podcasts. Estes últimos podem, inicialmente, até causar uma certa estranheza: em uma época das informações praticamente instantâneas, talvez seja difícil imaginar que muitas pessoas se dediquem a ouvir programas de áudio longos, ultrapassando a marca de uma hora.

Aí que entra o desafio: produzir um conteúdo embasado e descontraído na medida certa, ideal para fisgar o público. Os convidados para a mesa-redonda do 6° Fala Ciência encaram essa missão com entusiasmo; entre eles, está a podcaster Tupá Guerra, representando o Dragões de Garagem. Doutora em Teologia, com foco na área de Demonologia (um tema que gera vários programas inspirados), Tupá já é uma voz conhecida por vários ouvintes de podcasts; para eles, ouvi-la é como reconhecer uma velha amiga, devido à proximidade que a voz, usada de maneira despojada e ao pé do ouvido, é capaz de provocar.

Falar de ciência em podcasts?
Para a formação da consciência sobre a importância do contato direto entre pesquisa e sociedade, Tupá passou por dois marcos importantes ao longo do período do seu doutorado, feito na Universidade de Birmingham, na Inglaterra. Lá, a pesquisadora começou a se familiarizar com podcasts – filha híbrido do rádio e da internet, a plataforma cresce vertiginosamente nos últimos anos (atualmente, são mais de 1.700 programas de podcasts ativos no Brasil), investindo em conteúdos aprofundados e, em sua maioria, unindo a divulgação de informação a um formato de conversa desinibida com o ouvinte.

“Apesar de ainda chegar a um número de pessoas relativamente limitado, ao mesmo tempo, vejo o podcast como uma das mídias que tem melhor engajamento dos ouvintes. Não sei se é essa proximidade que a gente acaba criando – eu também sou ouvinte, e é como se eu conhecesse as pessoas que participam –, mas é uma mídia que tem uma aceitação boa e, de acordo com a minha experiência, recebe e considera as respostas do público, seja por e-mail ou nos comentários do próprio programa, abrindo espaço para um debate saudável entre os participantes e o público.”

O segundo marco para Tupá em relação à divulgação científica, também durante a época que estudou em Birmingham, foi testemunhar uma comunicação universitária preocupada em engajar o público em geral pelos assuntos pesquisados no âmbito acadêmico. Desde então, a pesquisadora uniu os dois campos – podcasts e a divulgação científica – e, focada em ajudar a construir uma imagem mais acessível da ciência e dos próprios cientistas, passou a participar de programas de podcast colocando à disposição, especialmente, o conhecimento adquirido a partir de sua pesquisa sobre as representações de demônios nos Manuscritos do Mar Morto, documentos históricos encontrados durante a década de 1940.

“Eu ouço muito as pessoas dizendo, em relação à minha área, que ‘nossa, eu não sabia que podia estudar isso!’. E você pode estudar isso, pode estudar algo que goste, não precisa ser uma coisa inalcançável. Acho que a academia se fechou tanto em uma torre de marfim que acabou desaprendendo como conversar com as pessoas em geral”, pondera Tupá.

Para a pesquisadora, a criação de produtos lúdicos que apelem para o interesse das pessoas são válidos para despertar o fascínio pela ciência. Ela cita como exemplo a carência de filmes sobre a história brasileira que sejam voltados para o público mais jovem; produtos que, mesmo que não sejam inteiramente precisos historicamente, são conteúdos relevantes para gerar uma juventude interessada. “É importante criar esse imaginário, porque ele gera um encantamento que é fundamental para atrair as pessoas para trabalhar com essas coisas. Se queremos construir um futuro no qual as pessoas tenham interesse em trabalhar com a ciência em geral, precisamos fazer com que elas se encantem por ela.”

Inscrições abertas
O 6° Fala Ciência será uma dessas oportunidades para saber como se encantar – e como causar este encantamento – pela ciência. O evento acontece no dia 22 de novembro, quinta-feira, e está com inscrições abertas pela internet.