Por que nosso joelho pode ficar lesionado depois de uma partida de futebol? Por que existem tantos casos de dengue? E o câncer – há algum tratamento que possa curar um tumor? Estas foram algumas das indagações levantadas pela professora e pesquisadora da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Jacy Gameiro, na última edição realizada pelo projeto “A ciência que fazemos”.
A iniciativa visa aproximar os pesquisadores da Universidade e os estudantes das escolas de ensino médio e fundamental, para que se possa compartilhar, de forma lúdica e descontraída, as pesquisas que são realizadas na UFJF. Na última quinta-feira, 11, os alunos do terceiro e segundo anos das turmas de Educação Jovens e Adultos (EJA), da Escola Estadual Hermenegildo Vilaça, acompanharam a apresentação da pesquisadora da área de Imunologia.
Em sua apresentação, Jacy buscou desmistificar a imagem muitas vezes estereotipada de cientistas. “Temos que desmistificar essa ideia de que a ciência está longe, de que é feita só por alguém maluco, com um estereótipo de Einstein. Ela está, na verdade, muito próxima de vocês”, conta aos estudantes.
“Quanto tempo demora para desenvolver um medicamento?”
Sabendo que a maioria dos produtos comprados nas farmácias são desenvolvidos em países do exterior, a pesquisadora conversou sobre a relevância do investimento científico dentro das universidades e dos institutos de pesquisas brasileiros. “Pagamos muito caro por determinados medicamentos porque, na maioria dos casos, eles são desenvolvidos lá fora.”
Uma das pesquisas desenvolvidas pela professora dentro da UFJF, inclusive, tem relação com o tratamento de artrite. Em parceria, ela estuda plantas brasileiras capazes de produzir anticorpos que permitam o desenvolvimento de um medicamento mais acessível, capaz de tratar a doença de forma mais barata e econômica.
“Mas quanto tempo demora para desenvolver um medicamento?” A pergunta foi feita pela aluna Nathália Almeida e, para a Jacy, é uma observação muito interessante, pois ajuda a traçar as dificuldades que podem cruzar o caminho de pesquisadores em busca de um medicamento eficaz para a maior quantia possível da população.
Prontamente, a pesquisadora respondeu que, para a formulação de um medicamento, é necessário fazer vários testes que, por sua vez, podem durar anos. Além disso, acrescentou que, no mundo da ciência – diferente do que muitos podem imaginar ao criar a ideia de um cientista isolado em seu laboratório –, os pesquisadores costumam trabalhar em equipe.
O que é preciso para ser cientista
Para Jacy, o traço fundamental de um cientista é seu espírito investigador. Segundo a pesquisadora, a ciência requer um exercício constante de indagação e, para isso, é necessário alguém capaz de enxergar o todo, que não se limite ou “que não se permita aceitar qualquer coisa como resposta”.
A pesquisadora conta que caiu no campo científico justamente por considerar-se uma pessoa que nunca aceitou “achismos” e sempre se importou em verificar os fatos. Ela ainda relata que, em tempos como os que vivemos, com informações falsas sendo divulgadas a todo instante, exige-se ainda mais o exercício do pensamento crítico.
Esperançosa, Jacy também aborda os programas de Iniciação Científica Júnior (PIC). Sabendo que seus ouvintes possuem o potencial necessário para tornarem-se futuros cientistas, ela fez o convite para se tornarem “disseminadores de ciência”. A pesquisadora frisa a importância de realizar visitas a museus e ao campus universitário, sobretudo nos programas abertos a população e em locais como o Centro de Ciências. “Os museus científicos dão uma dimensão da história da ciência, e os rumos que podemos seguir dentro dela.”
A formação de mais cientistas e pessoas qualificadas para desenvolver e produzir novas tecnologias em solo nacional é fundamental. Este é justamente um dos objetivos da iniciativa “A ciência que fazemos”, ao oferecer um leque de possíveis assuntos em que alunos da educação básica possam se interessar e aprofundar.
No fim da experiência, um dos estudantes, Felipe de Souza, compartilhou sua opinião sobre o incentivo ao contato direto entre aluno e pesquisador. “A gente pode pesquisar na internet, mas com contato pessoal é bem mais fácil de aprender. Se temos uma pergunta, o pesquisador sabe como te esclarecer melhor.”