Com a temática “Gênero, raça, sexualidade e classe: potencialidades interseccionais sob a ótica do saber histórico” começa nesta segunda-feira, dia 15, a 34ª Semana de História da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). Até a próxima sexta-feira, 19, serão realizados Simpósios Temáticos, sendo que cada um contará com 16 trabalhos para apresentação oral, além de minicursos e mesas-redondas.
Entre os convidados para participar de mesas-redondas e ministrar minicursos está a professora da Universidade de Brasília (UnB), Sabrina da Fonseca Borges Fernandes. Na terça-feira, 16, a pesquisadora, que é doutora em Sociologia pela Carleton University (Ottawa/Canadá), participará da mesa “Lutas de Classes e Movimentos Sociais: desafios contemporâneos da esquerda brasileira”, ao lado das professoras da UFJF, Fernanda Vieira e Malu Durigueto.
Sabrina, que pesquisa especialmente as temáticas dos movimentos sociais e da economia política de gênero, mantém um canal no YouTube, o Tese Onze, visando à popularização do conhecimento produzido no meio acadêmico. Ela falou sobre o assunto com o Portal da UFJF e, além disso, tratou de temas atuais, como as eleições 2018 e a participação das mulheres neste pleito.
Confira a entrevista na íntegra:
– Portal da UFJF: Você é doutora em Sociologia pela Carleton University e professora substituta/pesquisadora da Universidade de Brasília. As suas áreas de atuação principais são teoria marxista, movimentos sociais e economia política de gênero. Há uma participação intensa do eleitorado feminino nesta eleições, especialmente na campanha para Presidência da República. Como você avalia o referido cenário e a relevância das mulheres neste processo?
– Sabrina Fernandes: As mulheres tiveram papel essencial no primeiro turno dessas eleições presidenciais e, também, nas outras candidaturas majoritárias e proporcionais. Nós vimos agora uma quantidade muito significativa de mulheres negras eleitas para as assembleias legislativas de seus estados mas, também, para a Câmara de Deputados. Eu acho que isso vai fazer a diferença. Nós tivemos também mulheres trans eleitas no Brasil. Então, ao mesmo tempo em que o conservadorismo cresce, as mulheres estão mostrando uma construção que é contínua, que não é uma mera reação à determinada candidatura. As mulheres estão mostrando que são sujeitos políticos muito fortes e têm capacidade mobilizadora. É importante que atentem para isso: a liderança das mulheres tem uma capacidade de mobilização muito alta comparada com as lideranças tradicionais. Eu considero que as mulheres são o sujeito político mais importante das eleições de 2018.
“Ao mesmo tempo em que o conservadorismo cresce, as mulheres estão mostrando uma construção que é contínua, que não é uma mera reação à determinada candidatura. As mulheres estão mostrando que são sujeitos políticos muito fortes e têm capacidade mobilizadora”
– Portal da UFJF: Como ampliar a participação feminina, que está em torno dos 15%, no cenário político?
– Sabrina Fernandes: Eu vejo que há uma tendência para a participação feminina crescer, porque muitas jovens mulheres consideram isso como uma pauta fundamental. Nós tivemos campanhas como ‘Meu voto será feminista’, ‘Me representa’, isso facilitou muito. A dificuldade que a gente tem é que, com o avanço do conservadorismo, nós temos mais homens ocupando cadeiras importantes, bem como mulheres conservadoras tentando tirar uma vantagem da representação de mulheres, mas para colocar uma pauta totalmente contrária às mulheres. Nós vimos o avanço também de algumas mulheres conservadoras nessas eleições. O que acho muito importante é considerarmos que as cotas que temos hoje são insuficientes. São cotas de candidaturas. Dessa forma, muitos partidos colocam mulheres candidatas, mas candidatas ‘laranjas’. É importante que os partidos considerem fortalecer as lideranças femininas, realmente colocar investimento nas campanhas delas e que levem isso a sério. Uma forma disso ser garantido seria com cotas direto no Parlamento e não nas candidaturas. Então, que nós tivéssemos 30% de vagas reservadas para mulheres. Isso seria um avanço muito importante. Já vimos isso em outros países, e seria fundamental a gente empurrar essa pauta agora. Não sabemos o quão possível isso será com esse congresso que foi eleito, mas é preciso reivindicar isso.
“É preciso que aquele conhecimento que é produzido na academia – e aqui eu falo no sentido do conhecimento econômico e sociológico que são as minhas áreas – não fique restrito aos especialistas, que a gente possa dialogar com as pessoas para fora”
– Portal da UFJF: Desde 2017, você mantém um canal no YouTube e, atualmente, também utiliza outras redes sociais para divulgar elementos da sua pesquisa e análises das conjunturas. Não é tão comum que acadêmicos utilizem tais ferramentas com essa finalidade. Como surgiu a ideia? O que a motivou?
– Sabrina Fernandes: Existe uma reclamação muito forte, tanto na militância quanto no mundo em geral, de que os acadêmicos seriam academicistas e que ficam dialogando somente entre si mesmos com uma linguagem complicada, simplesmente buscando um teor acadêmico, um rigor de carreira realmente e que isso é muito complicado quando estamos falando de justiça social. Além de a gente ter uma demanda pela popularização da educação, mais acesso à educação formal pela população, a gente também tem uma demanda de mais politização. Então é preciso que aquele conhecimento que é produzido na academia – e aqui eu falo no sentido do conhecimento econômico e sociológico que são as minhas áreas – não fique restrito aos especialistas, que a gente possa dialogar com as pessoas para fora. A ideia do canal no YouTube surgiu exatamente disso. Eu tinha acabado de terminar o meu doutorado e eu via muitas discussões sendo feitas por aí que eu achava que poderia contribuir. Eu não queria contribuir para essas discussões simplesmente como uma especialista que tem algumas coisas publicadas sobre isso, mas como equipar as pessoas, trazer ferramentas para as pessoas desenvolverem suas próprias análises, para elas se tornarem seus próprios sujeitos políticos, com as suas próprias ideias e, assim, equipadas elas pudessem multiplicar isso. Eu vejo que é muito importante pra gente poder furar a bolha de comunicação e pra gente poder pegar o conhecimento acadêmico e levar o conhecimento pra fora e também trazer conhecimento de fora para a academia, para a academia ser menos elitista, isso ainda é um problema, seria necessário a gente tomar novas fronteiras de comunicação. E o YouTube é uma ferramenta muito importante, porque o brasileiro tem um apreço pelo audiovisual. Nós também não temos uma democratização das mídias que nos permita fazer esse trabalho na televisão, por exemplo. É difícil também fazer esse trabalho nas rádios. Então, o Youtube é um dos lugares para desbravarmos, assim como existem comunicadores fazendo trabalho com podcasts. Foi uma ideia meio maluca na época, fico feliz em ver que está dando certo e a cada vez mais comunicadores sendo formados.
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Outras informações: (32) 2102-3109 (Departamento de História-UFJF