Esporte é sinônimo de saúde. Mas para os usuários da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae) a prática esportiva vai além disso, significa inclusão social. Cerca de cem deles participaram no último sábado, 1, na Vila Olímpica de Governador Valadares, da primeira edição do Apaexonados por Atletismo. Além dos competidores da própria cidade, atletas de São Sebastião do Anata, Ipatinga, Periquito, Timóteo e Inhapim disputaram as provas de corrida, arremesso de peso e salto em distância.
Criada com o objetivo de proporcionar a participação de pessoas com deficiência em um evento esportivo e de preparar os profissionais ligados ao tema, a competição é resultado da parceria entre o campus da Universidade Federal de Juiz de Fora em Governador Valadares (UFJF-GV) e da Apae da cidade. Professores e aproximadamente 75 alunos dos cursos de Educação Física e Fisioterapia da universidade atuaram no evento, que contou com o apoio da Secretaria Municipal de Cultura, Esporte, Lazer e Juventude de Governador Valadares.
Como tudo começou
Professora do Departamento de Educação Física da UFJF-GV e coordenadora do projeto, Silvana Lahr explicou que a atividade é um desdobramento das disciplinas do curso relacionadas a pessoas com deficiência. “Eu tento nas aulas práticas sempre promover algum evento, fazer uma recreação, levá-los (os alunos) onde tenha pessoas com deficiência, para que eles tenham essa vivência”. E foi o funcionário de um desses locais – a Apae de Governador Valadares – que falou com Silvana sobre o desejo dele em realizar um evento de atletismo. De volta à universidade, a professora apresentou a ideia para os alunos do curso, que “abraçaram” a iniciativa.
O profissional a que Silvana se refere é Maurício Soares de Souza. Professor de educação física da Apae há 20 anos, ele destacou a importância da competição e da parceria com a UFJF. “Esse evento é de suma importância, porque a Apae vive de doações e, às vezes, não tem condições de estar participando de campeonatos de alto nível. A UFJF acrescentou muito na vida da Apae e de todos os assistidos”, afirmou.
Atletas de alto rendimento
E por falar em alto nível, pelo menos quatro competidores do Apaexonados já ocuparam o pódio de competições estaduais e até nacionais. É o caso de Wesley de Oliveira, da cidade de Inhapim. No ano passado, ele compôs a equipe mineira de futebol de 7 que conquistou a medalha de bronze nas Paralimpíadas Escolares – organizada pelo Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB). Foi a primeira vez que o time de Minas Gerais chegou à final na modalidade.
Já para as paralimpíadas deste ano – que acontecem no mês de novembro, em São Paulo – cinco competidores do evento do último sábado já estão com vaga garantida. Luana Machado Ferreira, 16, de Ipatinga, é uma deles. Na edição de 2017, ela faturou medalhas em três modalidades diferentes – arremesso de peso, salto em distância e corrida de cem metros –, e garante que o Apaexonados é uma oportunidade “de ter novas experiências para progredir mais nas competições”.
Os resultados e índices de cada um dos atletas foram acompanhados de perto pela presidente da Associação Mineira do Paradesporto, Lina Vitarelli. Segundo ela, a importância da competição do último sábado está no “desenvolvimento do esporte paralímpico, tanto na perspectiva do lazer quanto do rendimento, porque é a partir de eventos municipais que os grandes talentos são revelados”.
Inclusão social
Mas a maioria dos adolescentes, jovens e adultos que participaram do Apaexonados não tinha a pretensão de se tornar atletas de alto rendimento, tampouco estavam ali em busca de melhores índices. Para pessoas como Benjamin Alcântara, 17, pouco importava ganhar um troféu ou medalha. Praticante de futebol e taekwondo, sua maior satisfação era a diversão – pelo menos era isso que demonstrava com seu sorriso e alegria cada vez que era fotografado.
A madrasta do adolescente explica que o esporte ajudou muito no processo de socialização dele. Segundo Gilmara Silveira, se antes só ficava em casa assistindo televisão, atualmente ele quer praticar atividades físicas o dia todo. Mas ela lamenta a dificuldade para matricular o enteado em escolas de esporte de Governador Valadares. “Ele gosta muito de natação, mas não faz porque é uma criança especial e eles (empresas) não aceitam”.
A técnica administrativa da UFJF-GV Adenilza Nazário conhece bem a realidade de Benjamin. Cadeirante e membro da comissão de acessibilidade da universidade, ela afirma que Valadares ainda “está bem pobre” no contexto do esporte para pessoas com deficiência. “A gente ainda não tem uma modalidade aqui para poder participar. Eu falo por mim mesma. Nesse momento, estou buscando locais em que eu possa fazer atividades físicas, academias, e não encontramos profissionais que estejam dispostos ou capacitados para nos receber”. Por isso, segundo Adenilza, eventos como o Apaexonados são “importantes para despertar e trazer para Valadares mais envolvimento nessa questão”.
Assim como deseja Adenilza, melhorar a capacitação profissional de quem trabalha com atividades físicas para pessoas com deficiência também é um dos objetivos de Silvana Lahr com o Apaexonados. “A gente quer com o evento não só oportunizar as pessoas com deficiência a prática esportiva e de lazer, mas também que os alunos tenham essa vivência, porque um ponto muito importante é que o mercado de trabalho hoje tem profissionais sem experiência com pessoa com deficiência, não somente a educação física, mas diferentes áreas”, finaliza.
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